Ávida e terna
O Justino não poderia se queixar da vida que levara - ou que o levava. Agora, prestes a conduzi-lo aos umbrais da eternidade. Mas aqueles mais de cinquentanos vividos - refletia o Justino - se o deixavam aquém da cobiçada venerabilidade, eram boa conta, abarcando um leque largo de realizações, frustrações, desejos e almejos, quase bastantes, senão sobejos.
Trinta e poucos anos de vida conjunta, e entendimento mais que entediamento com Josefina lhe pareciam também uma boa medida. Ela ali ao pé do leito, entre o filete de esperança que se adelgaçava a cada hora, e a dura resignação, embora achando que o Justino ainda ia poder lhe dirimir umas dúvidas. Um rosário delas, mas uma só que fosse esclarecida, o quadro se completaria, e as contas se debulhariam...
Justino cometera seus pecadilhos - isso ele admitia de si próprio - mas achava desnecessário e por demais desgastante repassá-los para um acerto final. Afinal, a vida se lhe ia. E foi nesse contexto e pretexto que cerrou os olhos.
Tinha ainda a firme convicção de que seria mais seguro acertar-se com o Pai.