Passas de Corinto
Ainda não consegui me familiarizar satisfatoriamente com as encenações que celebram a paixão de Cristo ao fim da quaresma na minha Velha Serrana natal. E não posso dizer que é por falta de tempo ou de maior interesse. Mas, sem cruz para carregar, acho que ainda chego mais próximo daquele tabular calvário.
Nos meus tempos de criança as manifestações de fé faziam-se quase sempre no interior da igreja. Mas as campais vão ganhando terreno - e divino também. O espetáculo da paixão ocorre todo no adro da igreja matriz e envolve um número aparentemente sempre crescente de participantes. E os fiéis, corintianos ou não, comparecem em peso, e até um certo pesar - que numa ocasião dessas é salutar. E nem é só lutar. Cumpre refletir, se compungir, e meditar.
As procissões que se faziam no passado, concorridas que eram, parecem ter chegado a um fim de ciclo, em detrimento das figurações,
que a cada ano se tornam mais complexas. E o empenho dos participantes é fabuloso de se ver.
Quando me falaram então na adição das passas de Corinto ao ritual, quase babei. Não é que aprecie a tal ponto essas uvas ressequidas, mas pela sua introdução no contexto. Aparentemente, por alguma das pias mulheres que acompanham o suplício, são oferecidas ao Cristo para mitigar-lhe a fome, e a sede de justiça que, sabemos, com ele, não era postiça. Vide exemplo das chicotadas que levaram os vendilhões do templo, ou das suas imprecações contra os denominados sepulcros caiados contra a leviandade dos fariseus.
Ainda não alcancei a razão de serem as passas de Corinto, e não de Tiro, ou Esmirna as favorecidas para a solene ocasião. Talvez Cristo ainda nô-lo revele quando de sua mais que segura ressurreição.