Antes de tudo,  devo uma explicação aos meus queridos leitores e leitoras, se é que existem ainda.  Digo isso porque vejo que à medida que o tempo passa tornam-se raros os comentaristas de meus textos.
                        Cheguei à conclusão fatal que está na hora  de orarmos, mormente, quando sentimos que os sentidos nossos de antão, eram mais ativos, digo mesmo, mais ousados, principalmente a visão e o tato.  Mas como diz muito bem o Dr. Drauzio Varela, a morte é lenta, "pero progride sempre. E que depois dos 50 ninguém é mais sadio. Eu diria, depois que passei a frequentar o laboratório de análises clínicas do Hospital de Miracema, dirigido pelo competente e meu amigo Guilherme Mercanti, que, na verdade, ninguém, nem os jovens, têm saúde plena.
                        Antes de chegar na minha oração particular, uma paródia de várias orações que nos chegam às mãos, umas pela internet, anônimas, e outras através de amigos religiosos,  abro um parentêse para contar o que me sucedeu ontem à tarde.
                        Fui ao escritório de um amigo dileto para alugar uma vaga de garagem no centro da cidade (pra ser sincero, o centro dista apenas 10 minutos da minha casa). Não precisava alugar nada, era só pra ter a sensação de que estava tendo problemas com o trânsito( inexistente por aqui).  É que em cidade pequena tudo é muito perto. Pois bem, sou atendido pelo irmão do advogado, conhecido meu também há pelo menos 15 anos. Simplesmente não me lembrei do nome do cara. Só agora, escrevendo este texto é que me recordei que se tratava do Monteirinho. Percebi que era chegada a hora de apresentar logo  a minha oração, oração leiga, é verdade, mas autêntica, sincera e que qualquer velhote que me leia poderá assumir esta reza, que desde já recomendo e autorizo o uso, por duas vezes ao dia: ao anoitecer e ao amanhecer. Penso que não há contraindicações e nem produzirá nenhuma sequela. Vamos à reza, que já falei demais. Não precisa fechar os olhos, nem fazer cara de contrição, por favor.( nada de fingimentos)  Vamos à oração:
 
                 "Meu bom Deus, muito melhor que eu,  sabes que estou envelhecendo e logo serei velho. Poupe-me do hábito nefasto de falar sobre tudo, em todas as ocasiões. Não permita que eu tente ajudar todo mundo. Faça-me solícito mas não rabugento. Prestativo mas não chato, com cara de que sabe alguma coisa.
                Velhice, às vezes traz sabedoria e é uma pena não usá-la, mas, Deus, sabes melhor do que ninguém que quero ter alguns amigos ao meu  redor no final da vida.                  Livre minha boca de recitar longos detalhes e das fugas de pensamento.  Dê-me asas para ir ao ponto, como dizem os advogados.  Sele meus lábios sobre minhas dores. Não mereço a graça de gostar das histórias dos outros velhos, nem a graça de enviuvar,  mas ajude-me a ser muito  paciente. Principalmente, ajude-me a desvencilhar-me dos velhos desconhecidos (só os velhos) que porventura encontrar nas calçadas da vida. Faça com que eles não percebam que fui para o outro lado da calçada para não ter que cumprimentá-los.  É que me deprimo à toa. 
                Não ouso pedir perfeita  memória, (coisa que nunca tive, graças a Deus),  mas sim mais humildade e menor vaidade quando minha memória se chocar com a memória dos outros. Ensine-me que às vezes posso estar enganado.
                 Faça-me sempre bondoso. Faça com que eu calce as sandálias franciscanas da humildade, seguindo o exemplo do Santo Papa, apesar de argentino. Que tenha a certeza que ele também é um hermano.
                Não quero ser santo – pois esses  santos são de  difícil convivência -, mas um velho amargo é mais perfeita obra do demo. Jamais quero ser comparado a um filhote de "cruz credo". Surpreenda-me, meu bom Deus, com belezas que ainda desconheço e  a necessária inteligência para descobri-las, se isso ainda for possível.( desconfio que não será mais possível).  E Senhor, acolha-me sempre, do jeitinho que sou.
 
           Amém!"
 

Nota:  Uma oração com pitadas de humor, ingrediente salutar para a vida que se vai...