Testemunha

Diante da vida sofrida

de um homem enfermo,

derramei o meu pranto,

e abracei seu desalento,

triste, me tornei testemunha

do seu desejo de morte.

Relatou para mim

que sempre teve tudo

mas de uma vez

perdeu as economias,

e como se não bastasse,

sua família foi ceifada.

“SOBRE MIM VEIO O TERROR DA NOITE”

Era assim que ele dizia.

Desabafou amargurado

que era seu aniversário

mas naquele leito

estava solitário

tinha por companhia

um som fúnebre

que invadia sua alma

fazendo ele sentir quente

os vapores da própria respiração

que formavam nuvens

revelando as sombras

da sua própria morte.

Pois é, diante de mim

um homem que já não chorava

apenas afirmava convicto,

que sua vida

já era um vale de lágrimas,

e que os seus olhos

eram luzes apagadas.

Mostrou a fotografia de uma linda mulher

e com a foto conversava:

Por que mãe

deixou eu morar em seu ventre

por nove meses de vida?

Bem que poderia ter edificado

para mim um lar do aborto

pois hoje, eu habito

as edificações dos desfavorecidos,

amargurados e desanimados.

Sinto muito mãe,

desperdiçou o leite dos seus seios,

a cama que desejo é a sepultura,

a comida que anseio

é a que pode alimentar minha morte.

E continuou seu desabafo:

ainda lembro-me das palavras dela

quando o dia amanhecia

"Seja fiel a Deus meu filho,

livrando-se da tentação ,

pois assim será feliz"

E eu sempre fiz o que com minha mãe aprendi,

mas olha para mim

me tornei um farrapo

num corpo de um homem.

Leah Ribeiro Pinheiro
Enviado por Leah Ribeiro Pinheiro em 02/04/2014
Reeditado em 30/01/2018
Código do texto: T4753423
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