Testemunha
Diante da vida sofrida
de um homem enfermo,
derramei o meu pranto,
e abracei seu desalento,
triste, me tornei testemunha
do seu desejo de morte.
Relatou para mim
que sempre teve tudo
mas de uma vez
perdeu as economias,
e como se não bastasse,
sua família foi ceifada.
“SOBRE MIM VEIO O TERROR DA NOITE”
Era assim que ele dizia.
Desabafou amargurado
que era seu aniversário
mas naquele leito
estava solitário
tinha por companhia
um som fúnebre
que invadia sua alma
fazendo ele sentir quente
os vapores da própria respiração
que formavam nuvens
revelando as sombras
da sua própria morte.
Pois é, diante de mim
um homem que já não chorava
apenas afirmava convicto,
que sua vida
já era um vale de lágrimas,
e que os seus olhos
eram luzes apagadas.
Mostrou a fotografia de uma linda mulher
e com a foto conversava:
Por que mãe
deixou eu morar em seu ventre
por nove meses de vida?
Bem que poderia ter edificado
para mim um lar do aborto
pois hoje, eu habito
as edificações dos desfavorecidos,
amargurados e desanimados.
Sinto muito mãe,
desperdiçou o leite dos seus seios,
a cama que desejo é a sepultura,
a comida que anseio
é a que pode alimentar minha morte.
E continuou seu desabafo:
ainda lembro-me das palavras dela
quando o dia amanhecia
"Seja fiel a Deus meu filho,
livrando-se da tentação ,
pois assim será feliz"
E eu sempre fiz o que com minha mãe aprendi,
mas olha para mim
me tornei um farrapo
num corpo de um homem.