ORAÇÃO II
ORAÇÃO
SENHOR, QUANDO EM MEU CAMINHO,
(SOB O PESO DA MINHA DESDITA)
PASSEI PELO TEMPLO
QUE OS HOMENS ERGUERAM
PARA TUA GLÓRIA,
LEMBREI-ME DE QUE HÁ MUITO
ALI NÃO ENTRAVA PARA FALAR-TE,
NOS MOLDES CONVENCIONAIS DA ORAÇÃO.
SENHOR, NO MEU CORAÇÃO,
HÁ SEMPRE UMA PRECE
QUE EMBORA NÃO ME AFLORE AOS LÁBIOS,
É SÚPLICA PERMANENTE,
AGRADECIMENTO MANIFESTO,
HUMILDE RESIGNAÇÃO AOS TEUS DESÍGNIOS.
ENTÃO, SENHOR,
TRANSPUS OS SOMBRIOS UMBRAIS DE TUA CASA,
PUS-ME DE JOELHOS,
ASPIRANDO ESVASIAR DO CORAÇÃO,
TODOS OS ANSEIOS
COM QUE QUERIA TOCAR A MAGNITUDE
DA TUA MISERICÓRDIA...
FITANDO A BRANDA FACE DOS TEUS SANTOS,
SOB O LUME DOS CÍRIOS TREMELUZENTES,
TENTEI, SENHOR, PRONUNCIAR A MINHA SÚPLICA,
ENTOAR A PRECE E O CÂNTICO, RITUAIS EM TUA HOMENAGEM,
MAS, NOS MEUS LÁBIOS SELADOS,
AS PALAVRAS SE PETRIFICARAM,
SEUS GUMES AFIADOS,
DESTARAM O PRANTO AMARGO
E CONVULSO DOS MEUS OLHOS,
MOLHANDO AS PEDRAS DO TEU CHÃO,
DIANTE DO ALTAR DO SACRIFÍCIO...
PERDOA-ME, SENHOR, ESTA INCAPACIDADE
DE SEGUIR O CORO DOS TEUS FIEIS
NO RIGOR FERVOROSO DA ORAÇÃO!
EU TENHO QUE FALAR-TE
ENQUANTO SIGO O BURBURINHO
DO POVO TUMULTUÁRIO,
NAS PRESENÇAS DA DOR, DA MORTE, DA DESCRENÇA...
QUANDO ME DELEITO COM AS BENÇÃOS DATUA CRIAÇÃO:
JARDINS QUE SEMEASTES PELO MUNDO,
O BRILHO ACARICIANTE DO TEU SOL,
A FRESCURA DA CHUVA BENFAZEJA.
SE A VIDA ME GRATIFICA
COM OS FERVORES DA ALEGRIA,
O MEU CORAÇÃO MURMURA UMA PRECE;
SE A DOR ME APUNHALA,
A TEMPERANÇA ME FALTA,
SE O DESESPERO AGRIDE-ME A CORAGEM,
MINHA ALMA FERIDA MURMURA UMA PRECE...
AH, SENHOR, QUANDO À TUA CASA VIERES
RECOLHER AS ORAÇÕES DOS TEUS FILHOS,
E NOS DEGRAUS DO TEU ALTAR PERCEBERES
O SINAL SILENCIOSO DO MEU PRANTO,
SUPLICO-TE, SENHOR,
RECOLHE-O COMO OFERENDA
E ALCANCE-ME COM TUA BENÇÃO
PELOS CAMINHOS DO MUNDO,
ENTRE A MULTIDÃO,
ONDE, ORANDO, ME PERCO.