O Credo ou Símbolo dos Apóstolos

O “CREDO” OU “SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS”

Miguel Carqueija


“Este Símbolo é o selo espiritual, a mediação do nosso coração e o guardião sempre presente; ele é seguramente o tesouro da nossa alma.”
(Santo Ambrósio (340-397, Bispo de Milão e Doutor da Igreja), “Expl. Symb. 1: Patrologia Latina IISSC; Catecismo da Igreja Católica § 197)

“Creio em Deus Pai, Todo Poderoso”
Esta primeira afirmação da oração que todos nós — ao menos, nos lares católicos — já aprendemos em crianças, é consoladora e grandiosa. A existência de Deus, no conceito puro de divindade, é algo que difere radicalmente do politeísmo e da idolatria, que não passam de degenerações da Fé, pois repugna à Razão que possa existir mais do que um Deus, que possam existir deuses. Deus não poderia ser todo-poderoso se existisse outro: a idéia de deuses implica necessariamente na limitação de cada um, e assim as “divindades” da mitologia greco-romana, ou da nórdica, ou qualquer outra, sobre serem invencionices da fantasia humana, melhor do que deuses devem ser considerados super-seres, apenas. A rigor os super-heróis da Marvel e da DC, como por exemplo o Lanterna Verde, com seus poderes paranormais afiguram-se semelhantes a Thor, Odin, Zeus, Baco e outras figuras desse jaez. Apenas super-seres, mas criaturas e não deuses.
“Criador do Céu e da Terra”
Aqui temos bem claros os conceitos de duas dimensões: espiritual e material. A idéia de Terra — nosso planeta — pode ser ampliada para todo o universo, o universo cósmico criado pela palavra de Deus, como se lê no primeiro capítulo do Gênesis. O Céu não é aqui o céu astronômico, mas o metafísico, que não se encontra em nenhum lugar que possamos atingir espacialmente. Tudo foi criado por Deus. Não percebem os nossos irmãos ateus que um Cosmos eterno, como às vezes eles especulam, não poderia justificar a própria existência, tendo em vista ser composto de partes e todas elas, contingentes. Um Cosmos que assim se auto-sustentasse não seria mais que uma soma de zeros. E nós sabemos — e isso os materialistas também sabem — que não adianta somar trilhões, quatrilhões e absurdilhões de zeros, que o resultado final será sempre ZERO. Ou seja, um universo sem Deus é igual a zero.
“E em Jesus Cristo, um só seu Filho, Nosso Senhor”
Cristo significa o Ungido, o Messias — o Salvador esperado pelas gerações, anunciado por Isaías e outros profetas do Antigo Testamento.
Jesus quer dizer “Deus salva”. É o Verbo de Deus, a Palavra, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Conta-se, a propósito, que o grande Santo Agostinho, Bispo de Hipona, certa vez, passeando na praia e tentando entender o mistério da Trindade, deparou com um garoto que, tendo feito um buraco na areia, derramava água do mar nele, com uma concha. Intrigado, o santo quis saber o que o menino estava fazendo, e este respondeu candidamente que pretendia colocar toda a água do mar no buraquinho. Rindo de tal pretensão, Agostinho observou qualquer coisa como: “Meu filho, não está vendo que o mar é muito grande e não vai caber neste buraquinho?” A isso a criança respondeu: “Pois é mais fácil colocar todo o mar aqui dentro do que você entender o mistério da Santíssima Trindade!” E desapareceu, pois era um anjo.
Apesar disso — é natural que a razão finita do Homem não possa penetrar os mistérios divinos, pois não consegue abarcar sequer os mistérios da Natureza — São Tomás de Aquino, em seu belíssimo “Compêndio de Filosofia”, esclareceu alguns pontos sobre a Trindade. Não são, é óbvio, três deuses, mas diferenças de relação nos atributos de Deus. E como para Deus tudo é presente e tudo está diante do seu conhecimento, esta Palavra interior, expressão de tudo o que Deus conhece de Si e da Criação, é a Segunda Pessoa, ela própria Deus pois, como escreveu São João Evangelista, “e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1).
“Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo”
Completa-se aqui a enunciação da Trindade Santíssima. Explica São Tomás que Deus, conhecendo perfeitamente a Si mesmo, ama a Si mesmo, como ama também a Criação. Este amor divino é o Espírito Santo, muitas vezes simbolizado em forma de pomba. É de fé que o Filho procede do Pai, e o Espírito Santo do Pai e do Filho, mas as Três Pessoas coexistem na Eternidade, sendo um único Deus.
“Nasceu da Virgem Maria”
Muitos que zombam da Revelação não a estudaram com sinceridade no coração e ignoram, por exemplo, que a vida de Jesus encontra-se detalhadamente profetizada no Antigo Testamento e que o mesmo foi preservado pelo Judaísmo, que não aceita Cristo como o Messias — o que dá um magistral selo de autenticidade para tais vaticínios.
Assim, em Isaías 7,14 lemos: “uma virgem conceberá e dará a luz a um filho, e o chamará “Deus conosco” (Emanuel). A concepção através do Espírito Santo distingue Jesus de toda a humanidade, para mostrar que se trata da encarnação de Deus.
“Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos”
Desde que surgiu e se popularizou o Credo, acabou nascendo a irônica expressão popular “como Pilatos no Credo”. Significa a pessoa que assume algo que não queria ou não devia, a quem atribuem algo que nada tem a ver com ela. Por ter lavado as mãos e se submetido à pressão dos fariseus e do povo que sofrera lavagem cerebral, Pilatos é também o símbolo da covardia. Afinal, em toda a Paixão de Cristo ele foi a única autoridade que se colocou a favor do acusado, mas não a ponto de levar sua posição às últimas conseqüências.
O que terá acontecido com a alma desse homem que não soube lutar pelas suas boas intenções? Em João 19,11 lemos estas palavras de Jesus: “Não terias poder algum sobre mim se não te fosse dado do alto. Por isso, quem me entregou a ti é mais culpado do que tu”.
“Foi crucificado, morto e sepultado”
Temos aqui, em síntese, a Paixão de Cristo. Quando era criancinha, escutei falar nessa “paixão” e fiquei pensando que Jesus havia se apaixonado por alguma mulher; acho importante explicar às crianças que, no caso, paixão quer dizer sofrimento, sacrifício. Se as pessoas, mesmo católicas, se pusessem a pensar seriamente no que foram os sofrimentos que o Filho do Homem padeceu por nós — apenas uma fração, por exemplo, foi a horrenda flagelação, com os chicotes que arrancavam pedaços de tecido — haveriam de se sentir estarrecidas e comovidas.
A morte efetiva de Cristo na cruz foi, até, demorada, pois a quantidade de suplícios teria bastado para matar uma pessoa comum bem antes de chegar ao cimo do Calvário. No fim, o legionário romano cravou a sua lança no lado de Jesus (João 19,34) confirmando que realmente falecera.
“Desceu à mansão dos mortos”
Quando eu era criança, rezava-se “desceu aos infernos”. A palavra no plural vem a significar todos os “locais” espirituais (aspas necessárias, pois espírito não ocupa lugar e o mundo espiritual segue critérios diferentes dos nossos) inferiores ao Céu. No caso tratava-se do Limbo dos Patriarcas, ou seja o local onde os justos anteriores a Cristo aguardavam a Redenção para que pudessem chegar à Visão Beatífica.
“Ressuscitou ao terceiro dia”
A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é tão importante para a Fé cristã que os materialistas sonham e brincam com o “achado” do seu corpo — o que provaria não ter havido ressurreição. O que comprova como os homens tolamente se comprazem em suas quimeras! De tal modo temem a divindade de Cristo!
O próprio São Paulo afirma (I Cor 15,14): “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé”. Este ponto portanto é fundamental; não existe Cristianismo sem a Ressurreição, que prova tratar-se mesmo do Messias, o Logos Divino.
E como pode um cristão duvidar que Deus tenha o poder de ressuscitar os mortos ou a Si mesmo?
“Subiu aos Céus”
É a Ascensão do Senhor, narrada no primeiro capitulo dos Atos dos Apóstolos. Convém entender que o Céu ou Céus, na linguagem religiosa, não é o Cosmos, o céu astronômico mas como que uma outra dimensão, uma dimensão espiritual, onde Deus se manifesta claramente aos bem-aventurados. É óbvio, mal podemos imaginar o que seja a Visão Beatífica.
“Está sentado à mão direita de Deus Pai Todo-Poderoso”
Esta imagem é uma metáfora que significa a igualdade entre o Pai e o Filho, bem como entre ambos e o Espírito Santo, pois Deus é apenas um e as Três Pessoas representam as relações na vida íntima do Criador. O Filho é a palavra eterna de Deus, pois, de uma só vez, Ele pensa e sabe tudo; e o Espírito Santo é o Amor de Deus.
Como Jesus é o Verbo Encarnado, representá-lo sentado à direita de Deus Pai (que a iconografia cristã representa como um ancião) significa reconhecê-lo igual a Deus, Ele próprio o único Deus. Recordemos aqui a história, contada linhas atrás, sobre Santo Agostinho e o menino na praia: o caráter insondável do mistério da Santíssima Trindade.
“Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”
Este é um dos pontos que os cristãos ditos secularizados — porque demasiado ligados a este mundo temporal que passa e seus interesses — mais descuidam e ignoram (o Papa Bento XVI alertou para a “ignorância religiosa” de muitos católicos). O termo “fim do mundo” é com freqüência interpretado como uma destruição física, por causas naturais ou artificiais, e a conseqüente extinção da humanidade. Ora, para um cristão, o fim do mundo — ou “consumação dos séculos” — é a Segunda Vinda de Cristo — a Parusia (presença) do Verbo de Deus e o juízo final de todos, desde Adão e Eva. Como Jesus ressuscitou e possui um corpo glorioso (impassível e incorruptível), com ele retornará, acompanhado por seus anjos, no final dos tempos; e procederá ao solene julgamento da raça humana. Isto é algo tão portentoso e inimaginável que, parece, a maioria das pessoas prefere crer num fluir eterno ou ao menos indefinido da História, e encara a idéia de um fim do mundo como algo desagradável, como se a chegada do Reino de Deus não fosse desejável.
“Creio no Espírito Santo”
Deus, sendo Deus, conhece e sabe tudo de maneira eterna (a Palavra, o Verbo, o Filho) e, conhecendo a Si mesmo e a toda a sua Criação, de forma perfeita e completa, ama a Si e ama esta sua Criação, com um amor puro e além da compreensão dos homens: é o Amor de Deus, o divino Espírito Santo, que apareceu aos apóstolos, discípulos e à Virgem, em Pentecostes, sob a aparência das línguas de fogo (At 2,14).
“Na Santa Igreja Católica”
A Igreja é por definição, “uma, santa, católica e apostólica”. Não existe de fato sobre a face da Terra, instituição semelhante. É a “religião do amor” (titulo de um livro do Dr. Mozart Monteiro). “Ser católico é bom demais” (Padre Paulo Ricardo). Só a Igreja Católica tem o Papa e, com ele, a segurança de ser conduzida por quem tem as chaves (Mt 16,19): “Eu te darei (obs. A São Pedro, primeiro papa) as chaves do reino dos céus: tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra, será desligado nos Céus”.
“Na Comunhão dos Santos”
Por que freiras de clausura, por exemplo, fazem penitências? Por que os cristãos rezam uns pelos outros? Por que são importantes os jejuns e os retiros de carnaval? Pela comunhão (“comum união”) dos santos, as virtudes de algumas pessoas contribuem para a conversão e a salvação de outras. Santa Monica passou muitos anos orando pela conversão de seu filho Agostinho — e hoje ele é conhecido como o grande Santo Agostinho, Doutor da Igreja. Quando um cristão reza, se recolhe e se mortifica durante o carnaval, ajuda a compensar os desvarios que tantos praticam nesses dias.
“Na remissão dos pecados”
A rigor, o único pecado que Deus não perdoa é o da impenitência final — o chamado “pecado contra o Espírito Santo”. Nas revelações particulares a Josefa Menéndez, o próprio Jesus lamenta que Judas Iscariotes tenha preferido se enforcar a confiar na misericórdia divina.
A Igreja Católica tem como um dos seus sete sacramentos o da Penitência ou Confissão — feita particularmente a um sacerdote. Prepara a alma para a recepção da Eucaristia e vai eliminando os pecados de cada um.
Obs. – as revelações particulares não obrigam em termos de fé, muitas porém são consideradas idôneas, como as que foram feitas à Irmã Josefa Menéndez, religiosa espanhola do século XX.
“Na ressurreição da carne”
Diz o dogma que, na Ressurreição do Juízo Final, todas as pessoas que existiram no mundo irão ressuscitar em seus próprios corpos, isto é, com os mesmos corpos que tiveram em vida. Muita gente — como por exemplo argumentadores reencarnacionistas — não entende essa doutrina, e ficam dizendo que o corpo, após a morte, se decompõe e seus elementos se espalham por inúmeros outros corpos minerais, vegetais, animais e humanos. Seria contrário à razão que esta matéria reconstituísse o mesmo corpo.
Entretanto, tal raciocínio me parece tolo. A doutrina de fé não diz isso. De resto nosso corpo é o mesmo da concepção à morte, embora cresça e se desenvolva e depois decline, perca dentes e cabelos; aliás é diária e contínua a transformação de nossa matéria pelo metabolismo (assimilação e desassimilação de substâncias).
É evidente: o que identifica o corpo de cada um de nós não é a matéria que transitoriamente nele se encontra (e mais, por que teria de ser a matéria do cadáver?) e sim o DNA, o código genético, pelo qual cada pessoa é única em todo o universo. É uma fórmula, portanto uma abstração, guardada pela mente eterna e onisciente do Todo-Poderoso. No Juízo Final, Deus fará uso de qualquer matéria — talvez mesmo criada naquela hora — para reconstituir os nossos corpos de acordo com os nossos códigos.
“Na vida eterna”
Isto é fundamental para um cristão. Mesmo que nós pudéssemos viver não cem anos (o que pouca gente consegue) mas cem mil ou cem milhões de anos, isto ainda seria pouco ou nada diante da eternidade. Que adiantaria viver, sofrer e amar, para acabar tudo na total aniquilação da consciência? Mas a Fé nos diz e nos mostra que não somos seres efêmeros, e pela Esperança contamos chegar ao Reino dos Céus, à bendita Visão Beatífica que é a fruição eterna do próprio Deus — inefável destino daqueles que aceitarem em seus corações a Lei Universal do Amor!
“Amém”
“Nós cremos, Amém quer dizer isso” — lembra o excelente Padre Robson Oliveira em sua “Novena do Pai Eterno” da Rede Vida de Televisão.
Finalmente, aconselho a leitura do “Credo do Povo de Deus”, de Paulo VI (1968), fascinante súmula da doutrina católica básica, e da “Exposição sobre o Credo”, valioso opúsculo do grande São Tomás de Aquino.

Rio de Janeiro, 5 de março a 6 de abril de 2013.