ORAÇÃO DO ACADÊMICO...
Senhor, olhe por mim nesses momentos de ansiedade,
e, se não for lhe pedir muito,
olhe nos próximos também, sobretudo,
quando eu estiver atuando com um sujeito;
sujeito que desconheço e que necessita interagir, comigo também.
Abençoa-me, pois quero comunicar!
Abençoa e dai-me liberdade de criação.
A linguagem que ensaio para o outro,
comunica um pensamento de formas recolhidas e mudas,
cujo espírito reside muitas vezes,
encoberto na rígida aparência de uma pedra muda -
as vezes líquida, as vezes sólida.
Ensaio uma linguagem com um sujeito, que de súbito,
somente os espelhos poderão apreender,
pois à eles é dado repetir, multiplicar, os que falando os assediam.
Ao sujeito, me rendo com toda a leveza com que,
multiplicando, me incorporo ao milagre de aceitar-me séria ou rindo,
sem mais sentir-me o outro no interior, o outro, o que admiro
fugazmente, pois depois de ti, tantos mais outros hão de vir.
Deixa eu sentir, Senhor, um pouco de tua presença
pelo que se ausenta atrás de cada sujeito que por mim passar.
Deixa eu sentir sua própria face,
sem atribulações, nem comiserações,
nem lágrimas... não me deixa fraquejar nunca!
Neste ensaio, aos espelhos me rendo!
No mais, quem dirá que serei leve o bastante,
a ponto de incorporar-me as coisas indefinidas,
aos meus desejos tecnológicos,
e até mesmo mecanicistas, às vezes,
intangíveis, além da superfície dos espelhos.
E o tempo, como faço? Se logo acaba a terapia que se inicia, e eu não acabo nunca!
Um tempo breve e eterno, como um pensamento.
A coisa em si, que tenho que buscá-la, existe onde?
Em nós ou além do circulo, que nos circunda?
Senhor, abençoa essa linguagem que ensaio,
que comunica um sopro alentador.
Que o outro, aquele que Lhe falei,
sinta-se tocado pela minha linguagem,
dissolvido, vivo, livre, como águas azuis,
acomodadas em seu curso, de plena liberdade.
Que eu sinta essa liberdade de criação sempre,
e que o lúdico se faça presente em minhas terapias,
AMÉM!