Acabo de ler o Livro de Josué. Carnificina pura, do começo ao fim. Perdão, mas fiquei chocado. Toda essa matança promovida, incentivada e executada por Deus ? Será que os judeus acreditam mesmo nisso ? Será que Deus fez isso mesmo ? Um Deus que incentiva a destruição da própria Criação, sua obra ( Js 17, 15 – 18).
Esse Deus do livro de Josué tem, mesmo, algo a ver com Jesus ? As diferenças são gritantes ! Com todo respeito, esse Deus dos judeus é ciumento ( Js 24, 19) e arrogante ( Js 24, 13), enquanto Jesus é amor e misericórdia. Jesus disse (Jo 10, 30) :
“ - eu e o Pai somos um”. É esse o Pai de Jesus ?
Qual a razão de tanta matança ? O que aqueles povos fizeram ou deixaram de fazer para merecerem tanta desgraça ? Se somos todos “filhos de Deus”, qual a razão de matar uns para premiar outros com terras e mais terras em um mundo, cuja época, o que não faltava era terra para todos e ainda sobraria muito ?
Será que entre todos aqueles povos condenados à morte por Deus, não haveria um único justo que merecesse a salvação ? Que Deus é esse que salva apenas a família de uma prostituta, Raab, traidora do seu próprio povo e que não teve misericórdia com seus compatriotas ?
Não se trata de leitura fundamentalista ! Não posso acreditar em um Deus assim ! Não faz o menor sentido. Deus é amor puro e verdadeiro. Deus é misericórdia. Deus é bom. Deus ama toda a sua Criação. Deus nos ama apaixonadamente e se Revelou aos homens para que a nossa vida tivesse sentido.
A parábola do Filho Pródigo, no Novo Testamento, nos apresenta a verdadeira face do Senhor, na figura maravilhosa do pai naquela singela, mas profunda história. Por pior que possamos ser, quando voltarmos para Casa, Ele sempre nos receberá de braços abertos, com beijos, túnica, anel, sandálias e festas, pois estávamos “mortos” e renascemos. Deus jamais destruiria sua própria criação, jamais !
Com todo o respeito, o livro de Josué mostra como somos maus, egoístas, dissimulados e hábeis em colocar toda a responsabilidade de nossos atos nas costas de Deus ! É mais confortável culpá-lo, pois Ele é o “senhor da guerra” e nós somos “vitimas” de sua ira...
A leitura do livro de Josué e dos livros seguintes, que compõem os chamados “profetas anteriores”, deve levar em conta o profundo papel religioso exercido pelo protagonista. Josué, tal e qual Moisés, foi fiel a Adonai integralmente e essa fidelidade foi abençoada.
É preciso saber separar a postura militar da postura religiosa de Josué. A campanha militar dos hebreus na terra de Canaã é contada na forma da época em questão : grande batalhas, guerras, conquistas, lutas, derrotas, vitórias, matanças, etc. Essa era a maneira de se contar e registrar para a história os grandes feitos dos povos. Os vitoriosos eram enaltecidos, os derrotados eram exterminados.
Assim, ao ler o livro de Josué e seguintes, é preciso saber separar o “joio do trigo”. E o que deve prevalecer na análise dos textos é o profundo respeito e ligação espiritual do povo de Israel ao seu Deus : Adonai ! O que o livro de Josué deixa como herança para judeus e cristãos ? Que a fé em Deus é o único combustível que nos conduz para a “esperança”. Colhe-se exatamente aquilo que se planta !
Leandro Cunha