ESPIRITUALIDADE CRISTÃ  I

 

Há uma enorme diferença entre religiosidade e espiritualidade. É preciso ter muita atenção a esse respeito, pois a religião é um passo importante para a espiritualidade, mas esta não depende daquela. Enquanto a religião é ascendente, isto é, vai do homem para Deus, a espiritualidade é descendente, vem de Deus para os homens. Apesar de ser única, a espiritualidade tem várias feições : espiritualidade católica, evangélica, franciscana, dominicana, etc. Resume-se como um estado de espírito em comunhão com Deus.

O cristianismo é liberador ! Não é uma religião castradora, é uma religião de “salvação”, de libertação. Mas é importante esclarecer que o cristianismo não foi fundado por Jesus, este foi o mais puro e mais genuíno de todos os judeus. O cristianismo surgiu depois, com os apóstolos, uma vez que Jesus “veio para os seus, mas os seus não o reconheceram”, deram as costas para ele e o recriminaram, humilharam, prenderam, torturaram e o mataram. O cristianismo surge, principalmente, com São Paulo, mas fundamentado na vida e nas palavras de Jesus.

A espiritualidade cristã tem como ponto central a Trindade, isto é: o Pai, o Filho e o Espírito Santo e não pode ser diferente. Nosso Deus é um Deus único e trino : um só Deus que se apresenta em três pessoas distintas, mas em profunda comunhão. É um Deus de amor e de imensa compaixão, apaixonado pelo ser humano, sua criatura. E por isso o seu projeto divino é salvífico. Temos o Deus Pai que cuida da criação, o Deus Filho que cuida da redenção e o Deus Espírito que cuida da santificação. Separados ? Não ! Em constante e densa comunhão.

Só é possível compreender o cristianismo dessa forma : Trinitariamente. Se destacarmos o Pai e atrofiarmos o Filho e o Espírito, voltamos ao Velho Testamento e esbarramos com um Deus duro, vingativo, ciumento que nada tem a ver com o nosso Deus. Se enaltecermos o Filho em detrimento do Pai e do Espírito, caímos no erro de transformarmos toda a mensagem de Jesus num projeto meramente ideológico. Se salientarmos o Espírito e relegarmos o Pai e o Filho, poderemos cair na “louvação” carismática, de forma individualista. Deus é bom ! Deus desconhece a maldade, pois esta está nos homens. Deus é amor e compaixão.

A espiritualidade católica sofreu um impacto marcante após o Concílio Vaticano II, aberto pelo Papa João XXIII, com o propósito de renovar os ares da Igreja. “Renovar os ares” é, precisamente, rogar ao Espírito Santo que inspire os membros do Concílio a promoverem uma mudança radical no pensamento da Igreja voltando às fontes: às Escrituras e à Tradição de forma a resgatar os valores reais de Cristo. Posteriormente, percebemos sua marcante presença na América Latina (Puebla, Medelin), onde fomentou mudanças e uma nova postura clerical mais e mais comprometida com o povo de Deus. O cristianismo é inócuo quando dissociado do povo de Deus em qualquer lugar, mas na América Latina era e ainda é gritante.

No catolicismo, temos uma estrutura marcante : Assembleia reunida, Ministro, a Palavra e as espécies Eucarísticas. Nessa ordem, retire uma delas e todo o edifício desaba. A prática religiosa é um passo para o caminhar espiritual, mas é de suma importância entender que, para alcançarmos a espiritualidade, temos que participar e comungar com a vida Divina. Sem isso, estaremos, tão somente, no campo religioso, nada mais. O ponto de partida para esse caminhar profundo é a fé. A fé nos conduz à religiosidade e à espiritualidade, um passo de cada vez. São portas que devem ser abertas conforme o crescimento interior de cada um. Sempre com o Pai, o Filho e o Espírito para guiar-nos, sem o qual não chegaremos a lugar algum, continuaremos perdidos na “selva”.

Leandro Cunha

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 03/11/2012
Reeditado em 04/11/2012
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