Reflexão

Adoção de Crianças

 

Século XXI, internet, globalização, redes sociais, alta tecnologia, novas relações interpessoais, liberdade de expressão, liberdade de vontade, novas estruturas sociais e muitas outras coisas, que levam homens e mulheres a repensarem os conceitos e posturas da vida.

 

Em meados do século passado, com a modernidade e o advento da “pilula”, as mulheres ganharam a liberdade sexual. E com isso, alcançaram a tão almejada “igualdade” que queriam com os homens (muito justo, por sinal).

 

Os novos tempos tiraram os homossexuais “do armário” e os colocaram no seio da sociedade, que deve tratá-los com respeito, pois cada um tem o direito de fazer e exercer a sua opção sexual. Discriminação, intolerância, preconceito são coisas inaceitáveis onde impera a “inteligência” humana.

 

Mas, vivemos momentos difíceis. Veja o exemplo da Regina. Ela trabalha em uma pastoral da Igreja Católica em comunidade carente e cuida da catequese de crianças. Outro dia, uma dessas crianças deixou-a numa “saia justa”. Durante uma conversa sobre a família e seus valores, um garotinho filho adotivo de homossexuais fez a seguinte pergunta :

     Tia, eu vivo em uma família ?

 

Regina gelou e se engasgou. Aquele pinguinho de gente em toda a sua ingenuidade e pureza colocou-a em “xeque-mate”. Se ela diz ao menino que ele não participa de uma família, ela estava destruindo, literalmente, os sentimentos e as emoções de uma criança e sabe-se lá provocando sérios problemas futuros.

 

Por outro lado, se ela responde dizendo que sim, que ele vive em uma família, ela, provavelmente, seria massacrada pelo Magistério da Igreja que “condena” as uniões homo-afetivas exercendo um processo “surdo” de homofobia e rejeita esse tipo de adoção. Regina pensou : “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” …

 

E ela tinha que agir rápido, a criança esperava uma resposta da tia. Regina não poderia ficar pensando e muito menos dizer :

     Olha, na próxima aula eu respondo a sua pergunta, vou pensar e pesquisar sobre o assunto.

 

As crianças sabem muito bem o que fazem e o que querem. Sabem muito bem quando deixam um adulto em situação vulnerável e aguardam, observam as ações e reações para tirarem as suas conclusões.

 

Regina foi hábil, não disse sim e nem não. Apenas procurou dar prosseguimento à conversa perguntando ao garoto :

     Como é a sua vida, hoje ? Você se sente bem com os seus pais adotivos ? Você é feliz ? Você se sente amado ? Eles gostam de você ? Como era a sua vida antes de você ser adotado ?

 

Com as respostas, a criança acabou se esquecendo da pergunta e deu para Regina subsídios valiosos para que ela meditasse sobre o tema que é recorrente e afeta dezenas de pessoas atualmente : as novas “famílias” que surgem e que a sociedade precisa aprender a conviver com elas.

 

O importante é o acolhimento, o amor, a doação e o sentimento de alteridade. Para nós cristãos a palavra-chave vem de Jesus em João, capítulo 13, 34 : “Um novo mandamento vos dou : amai-vos uns aos outros como eu vos amei …”. Para o Magistério da Igreja os homossexuais estão em “pecado”. Mas, nesse caso específico eles promoveram um gesto de amor misericordioso. Onde não há amor, acolhimento e compreensão, Jesus não está presente e sem Ele nada subsiste.

 

O que mais encontramos, hoje, são crianças abandonadas e humilhadas pelos próprios pais naturais. O que fazer ? Deixá-las abandonadas ou dar à elas a chance de uma vida nova, com esperança e um futuro possível ? Ou preferimos agir como os fariseus da época de Jesus que estavam mais preocupados com a “lei” ?

 

Regina encontrou em João, capítulo 8, na perícope da mulher adultera as respostas de que precisava para enfrentar os “novos tempos” e os novos desafios. Nesta passagem Jesus nos ensina o significado da JUSTIÇA e da MISERICÓRDIA. “Quem nunca cometeu pecado, atire a primeira pedra ...”.

 

Temos que ter muito cuidado, há um diferença enorme entre religiosidade e espiritualidade. A primeira escraviza, enquanto a espiritualidade liberta. O cristianismo é libertador, jamais castrador.

 

Jesus veio para nos salvar e não para nos condenar.

Quem é você, então, para condenar ?

 

Recriminar é fácil, difícil é encontrar solução justa para os problemas.

 

 

 

Leandro Cunha

março 2o12.

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 06/03/2012
Código do texto: T3539007
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