Arianismo

 

Pesquisando sobre o dia de nascimento de Jesus, esbarrei com um fato interessante que contribuiu para a determinação e escolha do dia 25 de dezembro como a data de aniversário do Deus dos cristãos.

 

No século IV surgiu, entre várias outras, uma heresia que abalaria os fundamentos da Igreja, ainda tenros e em franca formação, pois Jesus tinha passado por aqui pouco tempo antes. Como já disse em outra oportunidade : o perfume dele ainda pairava no ar.

 

A heresia que surgia tornou-se famosa e entrou para a história como Arianismo. Ario, era um sacerdote baseado em Alexandria, no Egito. Sua “doutrina” perdurou por um bom tempo e foi razão até da convocação de um Concílio para tratar do tema e “tentar” colocar o bonde nos trilhos, novamente. Mas não foi fácil !

 

Ario nasceu na Líbia, por volta do ano 256, era muito inteligente, culto, estudioso e detinha o dom da palavra. Ele era muito envolvente. Suas pregações eram famosas e tinham o poder de conquistar as pessoas. Sua presença foi marcante em Alexandria, no Egito, onde fez inúmeros admiradores e onde surgiu a sua doutrina, que circulou livre e abertamente por várias regiões granjeando corações.

 

Mas, o que é que ele pregava ? O que é que se tornou conhecido no mundo cristão como “arianismo” ? E por que transformou-se em heresia ?

 

De forma bem simples : dizia ele que Jesus não era verdadeiramente Deus. Era um homem simples, comum, como qualquer um de nós, mas dotado de um caráter notável, perfeito, maravilhoso, especial e que fora criado por Deus Pai para ajudá-lo a salvar os homens. Para Ario, Jesus desempenhou de forma brilhante a missão que Deus lhe deu e que com a sua paixão e morte de cruz, em nome do Pai, este resolveu torná-lo Deus e adotá-lo como Filho. Mas, Jesus não era Deus em seu nascimento, veio a sê-lo posteriormente, graças ao que fez na Terra e por sua fiel obediência ao Pai.

 

Pronto ! Estava estabelecido o “caos”. Fascinante ! Isso facilitava, e muito, a compreensão de todos, especialmente, da gente simples que tinha enorme dificuldade em entender como Jesus podia ser “ao mesmo tempo” homem e deus em uma só pessoa (até hoje muita gente ainda tem dificuldade em compreender isso...). Explicava como Jesus poderia se submeter a tantas humilhações provocadas pelos judeus de então. Essa crença foi tão profunda que conquistou vários sacerdotes e até mesmo dois bispos : Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesareia.

 

Feche os olhos por alguns instantes e tente imaginar o conflito gerado por essa ideologia de Ario em toda a Igreja, alcançando todos os níveis da sociedade cristã e até mesmo não cristã. Padres, bispos, reis, imperadores, diáconos e o povo em geral discutindo abertamente sobre o assunto : Jesus é Deus ! Jesus não é Deus ! Quanta gente brigou por causa disso ? Quanta gente se aproveitou disso ? Quanta gente foi ferida no que há de mais sagrado no ser humano : a sua fé ? Onde estava a verdade ? O que é a verdade ?

 

O caos criado foi tão profundo que decidiu-se convocar o primeiro Concílio da Igreja. O Concílio de Niceia, cidade ao lado de Constantinopla no ano 325, sob a égide de Constantino Imperador de Roma. Foram convocados todos os bispos do mundo inteiro para discutir o tema, compareceram aproximadamente uns 300 religiosos.

 

Depois de muita discussão, a grande maioria entendeu que a doutrina de Ario era completamente errada e que Jesus era, sim, verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Para firmar e confirmar essa posição foi criado, então, o Credo de Niceia que conhecemos até os dias de hoje e que faz parte da liturgia católica que diz :

 

Cremos em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os tempos : Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado.”

 

O arianismo foi considerado herético pelo Concílio, foi condenado e todos os seus defensores foram destituídos dos cargos que ocupavam, em uma demonstração de unidade da Igreja. Mesmo assim, Ario e seus seguidores continuaram “pregando” as suas ideias ainda por muitos anos. Tempos mais tarde ainda se encontravam igrejas pelo mundo que respeitavam as crenças de Ario.

 

A decisão do Papa Júlio I em definir uma data unificada para celebrar o nascimento de Cristo contribuiu para que o arianismo fosse, aos poucos, sendo abandonado. E o dia 25 de dezembro foi escolhido pegando-se uma “carona” em uma festa pagã, muito antiga, vinda do oriente trazida pelo imperador Aureliano. Era a festa do “SOL INVICTO”. Nada mais sugestivo para retratar Jesus, certo ?

 

Mas eu fico pensando com os meus botões : e se a teoria de Ario tivesse saído vencedora no Concílio de Niceia ? Como estaria o cristianismo hoje ? Como Deus (Jesus) poderia compreender a natureza humana sem “experimentar” a nossa vida : nossas alegrias, nossas angústias, nossa felicidade, nossos medos, nossos sonhos, nossas incoerências, etc. ?

 

Leandro Cunha

Baseado na Revista Bíblica n. 337.

 

 

 

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 02/01/2012
Reeditado em 03/01/2012
Código do texto: T3418790
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