Reflexão

 

A Igreja e as Mulheres II.

 

O tema é palpitante e desafiador, portanto gostaria de dar continuidade às minhas reflexões sobre o assunto que, certamente, deve permanecer vivo no pensamento e na consciência de cada cristão e o respeito a liberdade de interpretação de cada um deve primar sobre todas as coisas, pois assim nos ensina Cristo, Jesus.

Na Carta Apostólica “Mulieris dignitatem” o Papa Paulo VI esclarece que a Igreja não pode ordenar mulheres porque Jesus escolheu entre os seus discípulos apenas homens e que por essa razão ela (a Igreja) não se sente autorizada a proceder de forma diferente. Entendo a dedução, mas faz sentido ?

Apenas para reflexão : quando Jesus foi crucificado, onde estavam os seus discípulos ? Sumiram ! Segundo os 4 Evangelhos, somente as “mulheres” estavam ao lado dEle naquele momento. Entre elas, temos : Maria, mãe de Jesus e sua irmã; Maria Madalena; Joana; Maria, mãe de Tiago; Salomé; a mãe dos filhos de Zebedeu e tantas outras que vieram e o serviram desde a Galileia.

Apenas no Evangelho de João encontramos que, naquele momento, o “discípulo amado” também estava presente. Mas quem é o “discípulo amado” ? João ? Não há provas disso. Todos os outros 10 discípulos sumiram. Sim 10, porque Judas tinha se suicidado ! Ora, que discípulos são esses que quando o Mestre mais precisa deles, lhe dão as costas ou o renegam ? Interessante : as mulheres não !

Ainda a título de reflexão : No domingo de Páscoa, primeiro dia da semana, Jesus ressuscitou e em 3 Evangelhos está claro que Ele primeiro apareceu para as mulheres e não para os seus discípulos. Podemos confirmar isso em Jo 20, 14-18; Mt 28, 9-10; Mc 16, 9. Apenas o Evangelho de Lucas não fala nada sobre isso, trata de outros temas.

Estranho, Jesus primeiro aparece para simples mulheres que eram desprezadas pela sociedade judaica, consideradas “objeto” e só aparece para os seus discípulos posteriormente ? Parece, então, que as mulheres eram mais importantes, ou não ?

Notei, também, que em momento algum, após a Ressurreição e ao aparecer em corpo glorioso para as mulheres, Jesus ordenou que elas se dirigissem aos “discípulos” e falassem com eles sobre o fato. Ele fala claramente : “Não temais ! Ide anunciar a meus irmãos...”(Mt 28, 10 e Jo 20, 17) . O tratamento é aos “irmãos”; somente no Evangelho de Marcos encontramos a orientação : “…mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que Ele vos precede na Galileia...”(Mc 16, 7), mesmo assim não são palavras de Jesus e sim do “jovem” vestido de branco que se encontrava no sepulcro.

Ora, na verdade todos nós somos discípulos de Jesus. Para ser seu discípulo basta ser batizado e crer ! É a base fundamental do discipulado.

Sabemos que a Bíblia foi escrita ao longo de mais de 3.500 anos e é uma belíssima composição com a perfeita inspiração do Espírito Santo em conjunto com a imperfeição da escrita do ser humano. Portanto, o risco de erros, enganos, interpretações equivocadas, má-fé e incoerências é enorme.

Encontramos tudo isso e muito mais em vários momentos da leitura da Escritura Sagrada dos judeus e dos cristãos. Sabemos, também, que o machismo imperava na época de Jesus e durante os anos críticos do surgimento do cristianismo. Sendo as mulheres desprezadas pela sociedade de então onde os homens consideravam-se os donos da verdade, quem garante que a história não foi alterada propositalmente ?

Os livros sagrados foram escritos de trás para frente. Isto é, primeiro tivemos a tradição oral e depois a tradição escrita. O que significa que, quando foram escritos, a história já era totalmente conhecida e em alguns momentos foram feitos acréscimos substanciais, isso é provado pelos exegetas em diversos pontos da Bíblia. Quem garante que os machistas de então não agiram de forma a tirar o foco das mulheres ?

A minha reflexão continua : a discriminação contra as mulheres bate de frente com uma passagem importante de São Paulo que encontramos em Gálatas 3, 28 : “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus”. Se somos todos um só em Cristo, como o magistério da Igreja marginaliza as mulheres ? Onde está a coerência ? E em Rm 2, 11 temos outra perícope sobre o mesmo assunt0 : “Porque Deus não faz acepção de pessoas” ...

Jesus nos ensinou, entre outras coisas, que existe algo mais importante do que a autoridade : a alteridade ! Alguém que preza a alteridade não pode discriminar ninguém, não faz sentido. 

 

Está Cristo dividido ?”

 

Leandro Cunha

(Base: Bíblia Jerusalém)

 

 

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 07/11/2011
Reeditado em 07/11/2011
Código do texto: T3322661
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