R E F L E X Ã O
A Igreja e as Mulheres.
A Igreja Católica trata com muita atenção a liberdade que nos foi ensinada por Jesus. Entretanto, um dos pontos fracos do magistério da Igreja é o preconceito e a discriminação com respeito às mulheres.
Em nenhum dos quatro Evangelhos do Novo Testamento temos qualquer tipo de orientação, direta ou indireta, por parte de Jesus proibindo a ordenação sacerdotal das mulheres. Estamos em pleno século XXI e até hoje o magistério da Igreja trata as mulheres com o mesmo desprezo que a sociedade judaica de 2.000 anos atrás. Naquela época, as mulheres gregas vivenciavam uma certa liberdade se compararmos com a tradição hebraica. As mulheres eram tratadas como propriedade.
Mas o magistério da Igreja além de preconceituoso é mal agradecido. Sim, por incrível que pareça : mal agradecido ! Temos uma divida de gratidão com Maria, mãe de Jesus, e precisamos honrá-la. Como assim ? Veja bem : Deus quando decidiu encarnar o Seu Filho em nosso mundo, precisou da contribuição feminina para esse evento.
E qual foi a contribuição masculina para a encarnação de Jesus ? Nenhuma. Deus precisou de uma mulher para tal, mas dispensou integralmente o homem. Mas e José ? Ora, José foi pai adotivo de Jesus para cumprir um preceito da sociedade judaica de então, pois qualquer criança que nascesse sem pai, automaticamente era desprezada pela comunidade.
Assim sendo, o mínimo que a Igreja poderia fazer em agradecimento e reconhecimento à Maria, mãe de Jesus, seria implementar a ordenação sacerdotal das mulheres. Colocar as mulheres, tão bem representadas por Maria, no lugar correto e de direito que possuem : ao mesmo nível dos homens que, por medo, tomaram de assalto toda a liderança eclesial. Resquícios do machismo de Pedro ?
Mas a grande responsável por isso são as mulheres que não lutam por seus direitos junto à Igreja que elas contribuíram de forma brilhante para o crescimento e desenvolvimento. Quantas mulheres foram discípulas de Jesus e de São Paulo ? Onde a Igreja escondeu Maria Madalena e tantas outras ?
A Igreja tem um procedimento ao qual considero importante. Ela não toma decisões precipitadas. Pensa muito antes de qualquer mudança de posição e isso é saudável. Contudo, com referência às mulheres o radicalismo já completou mais de dois mil anos, tempo mais do que suficiente para uma profunda reflexão, estudos, analises e uma tomada de posição. Afinal de contas, nada consta na Bíblia contra as mulheres.
Por outro lado, não podemos nos esquecer de que, apesar do extremismo da sociedade judaica (onde Jesus nasceu e viveu), só é considerado “judeu” aquele que nasce de mãe judia. Mesmo naquela época, em uma sociedade retrograda com referência às mulheres, os homens, nesse tocante, nada significavam. E isso vale ainda hoje. Até os judeus curvam-se à importância das mulheres : a fôrma de Deus !
Estamos no ano 2.011 assistindo ao que se chama “primavera árabe”: países africanos como a Líbia, o Egito, a Tunísia e outros libertando-se de ditaduras machistas e cruéis que imperam há anos em um covarde sistema de dinastia onde o povo é massacrado e humilhado em falso “nome de Deus”.
Confesso que gostaria de ver as mulheres católicas aproveitarem o momento de grandes mudanças mundiais e partirem para a criação de um movimento : “a primavera das mulheres católicas”. Um movimento de libertação, de tomada de consciência, de resgate dos seus valores reais.
Todas as mulheres que trabalham em atividades eclesiais e/ou litúrgicas deveriam suspender as suas atividades por 30 dias e refletirem profundamente sobre o fato de servirem para “servir” ao magistério da Igreja, mas continuarem sendo tratadas como seres de segunda categoria.
Seria interessante ver os padres celebrando missas com as igrejas vazias e fazendo homilia para meia duzia de homens. Quem carrega a Igreja nas costas, há séculos, são as mulheres, sem elas muitas igrejas já teriam fechado suas portas.
A Carta Apostólica Mulieris dignitatem, do Papa Paulo VI diz : “Chamando só homens como seus apóstolos, Cristo agiu de maneira totalmente livre e soberana”. A Igreja exime-se de responsabilidade jogando a “culpa” em Jesus : “Ele só escolheu homens como discípulos”. Os Evangelhos mostram um Jesus includente, amoroso, justo e misericordioso. Jamais preconceituoso, atitude comum aos homens.
Com todo o respeito, me recuso a acreditar que Jesus tenha agido dessa forma, seria um contrassenso em toda a história de um homem que nos deixou um só mandamento: “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”. Seria uma atitude paradoxal para alguém que foi magistral no caso da Mulher Adultera.
Jesus é um paradigma e quem se comporta como Ele é seu discípulo, independente de raça ou sexo. Ou será que a Igreja quer insinuar que Jesus faz distinção entre as pessoas ?
A crise vocacional pode ser resolvida de forma quantitativa e qualitativa com a sóbria decisão de ORDENAR as mulheres. Mas quando há luta de poder o homem se esquece completamente de Deus.
Leandro Cunha