Adão e Eva
Você acredita em Adão e Eva ? Não ? Pois eu acredito ! Certamente, não com esses nomes, mas talvez, João e Maria ou outro qualquer. Ou será que somos filhos de chocadeira ? Acho que não, pois eu tenho pai, tenho avô, bisavô, trisavô, tataravô e assim por diante. Portanto, lá atrás, em algum momento o funil se fecha, chegaremos ao casal número um.
E o casal número um, para nós cristãos e para os judeus também, foi criado por Deus. Ele do barro e ela da costela dele. Para os filósofos não cristãos e tantos outros, o casal número um surgiu do primeiro princípio, do absoluto, da origem de todas as coisas, onde "tudo é um".
O grande problema dos tempos atuais é que perdemos a capacidade de ler e entender a “história e as estórias” saboreando toda a beleza e assimilando a cultura e os costumes de cada época. Para compreender a história de Adão e Eva é preciso fechar os olhos, entrar na máquina do tempo e retornar há mais ou menos 5.000 anos atrás.
Antes disso, porém, é preciso saber que o livro do Gênesis, onde encontramos essa narrativa bíblica, foi escrito ao longo de aproximadamente 600 a 800 anos. Sim, “durante” um período muito, mas muito longo mesmo. É preciso saber que, primeiro, tudo foi registrado pela tradição oral e passado de pai para filho, de geração para geração por anos e anos.
Ou você pensa que naquela época tudo era fácil como hoje ? A maioria dos povos não tinha alfabeto e os que possuíam, pouquíssimas pessoas tinham acesso a ele; o papel não existia e lápis e caneta nem pensar. Dessa forma, a tradição oral era um fato e funcionava muito bem. Depois, aos poucos, toda essa riqueza foi passando para a tradição escrita e sendo preservada de alguma forma. Os recentes manuscritos descobertos em Qumran na Palestina comprovam isso e enriquecem os nossos conhecimentos. Assim, somos privilegiados !
Por outro lado, é necessário compreender o que temos por detrás da maravilhosa história de Adão e Eva no Paraíso. É importante reverenciar o escritor ou escritores pela brilhante criatividade que deu origem à lenda. Como souberam juntar as peças e construir um conto magnifico ? Leia e releia essa passagem e saboreie as delícias que se encontram nas entrelinhas e descubra a verdadeira mensagem com a qual nos defrontamos.
Sabemos que Deus criou o homem e a mulher. A passagem que consta do Paraíso pode passar despercebida, se o leitor não for cuidadoso o suficiente para entendê-la. Parece uma historinha infantil, ingenua, mas é enigmática e profunda. Deus proibiu o casal de comer e beber no Jardim do Éden ? Não, apenas os “alertou” com referência aos riscos de tocarem nos frutos da “arvore do meio do jardim”.
Mas a serpente, que representa o mal nessa história, seduziu a mulher e em consequência o homem ao informá-los de que o fruto daquela arvore daria a eles poderes divinos. Ora, somos ambiciosos ao extremo. Naquele jardim Deus nos deu a vida, a liberdade e a imortalidade, mas gananciosos, queremos sempre mais e mais. A proposta tentadora da serpente daria ao homem a independência de Deus, pois como ela (a cobra) disse :
“- … no dia que dele comerdes vós sereis como deuses...” (Gn 3, 5).
Até hoje continuamos brincando de deuses. Aprendemos muito pouco com a vida. E para piorar mais ainda compreendemos mal quando interpretamos o significado de sermos “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1, 26 e 27). Ora, isso não significa semelhança física ! Quer dizer, apenas, que somos dotados de inteligência e consciência, o que nos proporciona condições de nos relacionarmos com Deus. Somos o único “animal” (e não podemos nos esquecer disso) que tem a capacidade de se relacionar com o Senhor.
Mas se mesmo assim você ainda tem dúvidas sobre a nossa origem, procure saber mais sobre os detalhes do DNA, composto orgânico que contém as nossas informações genéticas e que se encontra em nosso corpo, mais especificamente no sangue. É o código genético de cada ser humano que ele trás de seus ancestrais e há dados científicos de que todos nós temos a mesma origem : “tudo é um” !
Portanto, da próxima vez que você ouvir a história de Adão e Eva, saiba interpretá-la e orgulhe-se de fazer parte dessa história, mesmo que com alguns milhares de anos de diferença, mas o sangue deles “provavelmente” está no seu sangue !
Leandro Cunha