Revelação

Para nós cristãos, há uma pergunta que não quer calar : a Revelação proferida por Deus está encerrada ? O que Deus tinha para nos dizer, já foi dito ? O diálogo entre o Pai e seu povo terminou ? A Revelação pode estar concluída para mim, para você, mas ela já aconteceu para todos os índios na Amazônia, por exemplo ? Ela já aconteceu para todos os povos na Africa ? Ela já chegou aos quatro cantos do mundo ?

A Revelação não é estática, é dinâmica. Se alguém disser que o ápice da Revelação aconteceu em Cristo, Jesus. Perfeito ! Mas o diálogo jamais terminará. Primeiro, porque Deus nos conhece muito bem e é exatamente por isso que Ele nos trata com doses homeopáticas do seu saber.

A bem da verdade, temos que compreender que a Revelação é como se fosse um vagão de trem, recheado de riquezas e maravilhas esplendorosas, mas nenhum vagão move por si mesmo. É preciso que à frente dele haja uma locomotiva : forte, vigorosa, pungente, confiante, determinada e consciente do tesouro que está carregando. Esta locomotiva chama-se Evangelização !

Vejamos o caso de Jesus. Ele esteve entre nós e sua vida pública durou mais ou menos 3 anos. Ele veio, plantou a semente do “amai-vos uns aos outros”, adubou a terra e voltou para casa. Jesus veio para nos ensinar a “pescar”, Ele não é de ficar levando peixe todos os dias para as pessoas. Ele veio, mostrou-nos o caminho, falou-nos a verdade e abriu-nos as portas para a vida. O resto é conosco. Por que ? Porque somos livres. E tanto Ele quanto o Pai respeitam a nossa liberdade de vontade. A Revelação é convite e a fé é a aceitação a esse convite.

Mas voltemos à locomotiva, você não entendeu bem a metáfora ? Então vejamos : depois que Jesus ressuscitou o que aconteceu ? Os apóstolos iniciaram o processo de evangelização. Depois deles os famosos Santos Padres na patrística e assim por diante. Se podemos assegurar que Jesus é o ápice da Revelação, também podemos assegurar que São Paulo é o ápice da evangelização. Com todo o respeito, será que o cristianismo seria hoje o que é sem que Paulo fosse a “locomotiva” que foi ?

No Antigo Testamento Deus falava conosco pelos profetas. E o seu povo tinha medo e receio desse diálogo, que mais parecia um monólogo. Quando Moisés dizia que precisavam conversar com o Senhor, as pessoas pediam para que ele, Moisés, subisse sozinho à montanha, escutasse o que o Pai tinha para dizer e depois repassasse para eles.

Após a visita de Jesus, tudo mudou. Ele inaugurou um novo estilo, mostrou que Deus é Pai, que Deus é amor, justiça e misericórdia. E aprendemos a dialogar com Ele. Portanto, a Revelação não termina nunca, ela é constante. O diálogo com o Pai, hoje, é feito através da Igreja, polo central da evangelização. Aprendemos a não ter medo de Deus, pois Deus é bom !

Ao longo da história da humanidade-cristã tivemos diversas “locomotivas” que conduziram a evangelização : Santo Agostinho, Santo Irineu, São Tomás de Aquino, Paulo VI, João Paulo II e tantos outros. Quando Jesus apareceu aos apóstolos em Pentecostes o que foi que Ele disse ? “ … Se eu não voltar, não poderei lhes enviar um outro Paráclito ...”. E quem é esse Paráclito ? O Espírito Santo de Deus. E a Igreja ? É o corpo de Cristo, Templo do Espírito ! Portanto, a Revelação não se encerra nunca, pois o Espírito Santo veio para “nos ensinar e orientar” em tudo que precisamos aprender de forma a consolidar a nossa fé.

O grande problema é querermos compreender Deus dentro da nossa lógica. Ora, a lógica de Deus é outra. Até me atreveria a dizer : Ele é a lógica ! É preciso entender que o substantivo tempo só existe para nós, seres humanos. Para Deus não existe passado e nem futuro. Deus é eterno, está sempre presente.

Na introdução geral sobre as determinações do Concílio Vaticano II, item I, letra D, encontramos, nas últimas linhas, a seguinte afirmação :

O cristianismo é a adesão, por uma fé viva, a uma pessoa viva; é o encontro de Deus em Cristo que salvou historicamente o mundo por sua encarnação, morte e ressurreição, e continua a realizar misteriosamente o ato salvador, de maneira permanente, por sua Igreja”.

Leandro Cunha

01.07.2011

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 01/07/2011
Código do texto: T3068923
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