Anjos Guardiães - janeiro 1.859

Anjos Guardiães

Autor: Allan Kardec

Revista Espírita, janeiro de 1859

Comunicação espontânea obtida pelo senhor L.., um dos médiuns da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos pelo seu encanto e pela sua doçura:

a dos anjos guardiães. Pensar que se tem, junto de si, seres que vos são superiores, que

estão sempre aí para vos aconselhar, vos sustentar, para vos ajudar a escalar a áspera

montanha do bem, que são amigos mais seguros e mais devotados que as mais íntimas

ligações que se possa contrair nesta Terra, não é uma idéia bem consoladora? Esses seres

estão aí por ordem de Deus; foi ele quem os colocou junto de nós, e estão aí pelo amor dele,

e cumprem, junto de nós, uma bela mas penosa missão. Sim, em qualquer parte que

estejais, ele estará convosco: os calabouços, os hospitais, os lugares de deboche, a solidão,

nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma sente os mais

doces impulsos e ouve os sábios conselhos.

Por que não conheceis melhor essa verdade! Quantas vezes ele vos ajudou nos momentos de

crise, quantas vezes vos salvou das mãos de maus Espíritos! Mas, no grande dia, esse anjo

do bem terá, freqüentemente, a vos dizer: "Não te disse isso? E tu não o fizeste. Não te

mostrei o abismo, e tu nele te precipitaste; não te fiz ouvir na consciência a voz da verdade,

e não seguiste os conselhos da mentira?" Ah! questionai vossos anjos guardiães; estabelecei,

entre ele e vós, essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. Não penseis em não

lhes ocultar nada, porque são o olho de Deus, e não podeis enganá-los. Sonhai com o futuro,

procurai avançar nesse caminho, vossas provas nele serão mais curtas, vossas existências

mais felizes. Ide! homens de coragem; lançai longe de vós, uma vez por todas, preconceitos

e dissimulações; entrai no novo caminho que se abre diante de vós; caminhai, caminhai,

tendes guias, segui-os: o objetivo não pode vos faltar, porque esse objetivo é o próprio Deus.

Àqueles que pensam que é impossível a Espíritos verdadeiramente elevados se sujeitarem a

uma tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que influenciamos vossas almas

estando a vários milhões de léguas de vós: para nós o espaço não é nada, e mesmo vivendo

em um outro mundo, nossos espíritos conservam sua ligação com o vosso. Gozamos de

qualidades que não podeis compreender, mas estejais seguros que Deus não nos impôs uma

tarefa acima de nossas forças, e que não vos abandonou sozinhos na Terra, sem amigos e

sem sustentação. Cada anjo guardião tem o seu protegido, sobre o qual ele vela, como um

pai vela sobre seu filho; ele é feliz quando o vê seguir o bom caminho, e geme quando seus

conselhos são desprezados.

Não temais nos cansar com vossas perguntas; ficai, ao contrário, em relação conosco: sereis

mais fortes e mais felizes. São essas comunicações, de cada homem com seu Espírito

familiar, que fazem todos os homens médiuns, médium ignorados hoje mas que se

manifestarão mais tarde, e que se espalharão como um oceano sem limites para refluir a

incredulidade e a ignorância. Homens instruídos, instruí; homens de talento, elevai vossos

irmãos. Não sabeis que obra cumpris assim: é a do Cristo, aquela que Deus vos impôs. Por

que Deus vos deu a inteligência e a ciência, se não para partilhá-las com vossos irmãos,

certamente para avançá-los no caminho da alegria e da felicidade eterna.

São Luís, Santo Agostinho.

Nota. - A doutrina dos anjos guardiães, velando sobre seus protegidos, apesar da distância

que separa os mundos, nada tem que deva surpreender; ela é, ao contrário, grande e

sublime. Não vedes sobre a Terra, um pai velar sobre seu filho, embora dele esteja distante,

ajudar com seus conselhos por correspondência? Que haveria, pois, de espantoso que os

Espíritos possam guiar aqueles que tomam sobre sua proteção, de um mundo ao outro, uma

vez que, para eles, a distância que separa os mundos é menor que aquela que, na Terra,

separa os continentes?

Roberto F Storti
Enviado por Roberto F Storti em 29/09/2010
Código do texto: T2528096
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