Querido Diário

Querido Diário,

Hoje li o livro Cartas a um jovem poeta, de Rilke Rainer, e entre as grandiosidades de seus conselhos, muitos dos quais eu já seguia, destaquei: “volte-se para si mesmo e sonde as profundezas de onde vem a sua vida”. O que de mais profundo consegui visualizar em minha busca foi o Divino. Assim, perturbadoramente, uma vontade maravilhada tomou-me o ímpeto: orar pelos MEUS.

Obrigada, Senhor Meu Deus, pela vida que tens me dado.

Pela fortaleza que ainda me reservas no meu lar: minha mãe.

Pela a existência de meu irmão, a quem não digo que amo, mas tenho nele a segurança masculina. Abençoa-o sempre, Senhor.

Obrigada, pela minha infância: nos quintais, na rua, na praça, nos parques de diversão, na presença profunda e constante do meu pai (Perdoe-o, Senhor! Eu já o fiz.)

Por ter feito um Ensino Fundamental I em uma escola particular que, junto ao caderninho de caligrafia “imposto” por minha mãe, deram-me uma educação básica de riquíssima qualidade. Abençoa, Senhor, minha primeira professora – Tia Claudete – a quem a doçura no falar não há igual. Ilumina, Senhor, a alma boa do meu primeiro professor – Tio João – a quem o Senhor, na sua decisão divina, o afastou de nós. Ainda guardo seu livro, sua voz.

Obrigada, Senhor, por ter tido um professor de Matemática, tão sem didática, que o Senhor me ofertou em todos os meus anos de Ensino Fundamental II. Sem ele, hoje eu seria uma cética contabilista em algum escritório pardo perdido na cidade. Obrigada, por minha amigas Nilze e Andreia, a quem o tempo encarregou-se de desvirtuar nossos caminhos. Elas com seus filhos e ideais, eu, com meus ideais, sem a vontade de filhos. Abençoa-as e aos seus.

Obrigada, Senhor, por meus amores juvenis, por meus galinhos de estimação, por minhas bonecas compradas com o suor do serviço de ferreiro do meu pai e os empreendimentos de locação de minha mãe. Obrigada, Senhor, por minha letra; por meus versos em quartetos aspirando amores inalcançáveis; por meus cabelos, por meu corpo e por minha consciência tranquila; por todos os cadernos que tive, por todos os livros que tive e tenho, e li e não li – tudo é processo.

Obrigada, Senhor, pela timidez no meu primeiro Ensino Médio. Obrigada, especialmente, pela intransigência inexperiente do Professor Valdo Orley, a quem devo os primeiros estudos aprofundados em Literatura e Gramática e, usado por Ti, Senhor, me falou da existência do Curso de Letras. Ele é o adorável culpado de todas as minhas, bem ou mal, como queiram julgar, traçadas linhas.

Obrigada, Senhor, pelos meses de emprego na Phillips do Brasil S/A, onde conheci o Sr. Manfred, que onde estiver, esteja sob Sua proteção. Foi ele o primeiro a reconhecer publicamente as minhas poesias e divulgá-las no jornal mensal da empresa, assim como Jairo e Chico – seres que amaram as minhas letras como eu amei suas atitudes.

Obrigada, Senhor, por me fazer tentar entrar na Universidade Federal de Pernambuco, por sete vezes e, quando já desistindo do preito, estando desclassificada por 0,3 pontos, o Senhor me faz ser estudante da melhor Universidade particular do estado, a Universidade Católica de Pernambuco, no curso que tanto almejei e sem gastos.

Obrigada, Senhor, por ser a primeira formada em Curso Superior na família; por ter estimulado, indiretamente, minha prima e meu irmão a seguirem uma formação superior. Abençoa-os, Senhor, sempre. Orienta e resguarda-os em Sua salvação.

Perdoe-me se Lhe canso, Senhor, mas a necessidade de agradecimento é muito forte.

Obrigada, Senhor, por ter me colocado no Curso de Magistério, onde aprendi a dizer “não” e do qual tenho o bom emprego que tanto amo. Conversa mais com a “eterna” Diretora Rita, Senhor; abençoa Cardoso (professor a quem devo tudo que sei de Matemática), abençoa Walquíria Castelo Branco Lins – professora de Filosofia que me conheceu e, me conhecendo, só me reconheceu; abençoa a Professora Conceição, de quem eu me espelho na minha prática pedagógica; ilumina os loucos professores que aportaram em minha vida – ser-lhes como farol, Senhor. Eles precisam de Ti. E os alunos deles mais ainda!

Cuida e protege, Senhor, todos meus alunos. Proteja-me nos meus ambientes de trabalho. E obrigada por cada ventura neles.

E por falar nisso, Senhor, agradeço a presença de Álvaro Negromonte em minha vida – com suas intransigências e sapiência – protege-o de todo mal, Senhor. Ele é alguém a quem inexplicavelmente eu admiro.

Grata por colocar no meu caminho, por duas vezes seguidas, o Professor Robson Teles – meu grande mestre – que me cedeu o texto para a orelha do meu primeiro livro de poesias. Pessoa admiravelmente eloquente, sábia, única. Abençoa-o sempre, Senhor. Ele me entendeu no silêncio de nós dois.

Grata pela doçura não-diabética de Haidée Camelo, por quem pela verdade, reconheci todos meus inimigos. Guarde na Sua glória, Senhor, sua voz, seu carisma, seu “florzinha”.

Obrigada, Senhor, pela presença em minha vida das seguintes pessoas, a quem sinto como irmãs:

• Adria – o virar de página do meu diário – guarde-a Senhor.

• Dayse – minha sábia conselheira – abençoa-a no seu casamento, Senhor.

• Georgina (Geo, para não assustá-la) – minha “análise crítica de conteúdos” – protege-a na operação que brevemente irá fazer. Afasta-a das dores que “opacam” seus olhos.

• Ana Rita – meu out-door sem despesa – a mantenha sempre, Senhor, no estado de ponderação na qual vive e se compartilha.

• Jacilda – minha ouvinte que não falha – dá sempre, Senhor, o sorriso livre em seus lábios e, de quebra, se ainda puderes, Senhor, cuida, por ela (e por outros), da Mata Uchôa.

• Luzenilda – a que sabe o melhor lugar para beijar uma amiga ou irmã – cuida sempre do juizinho dela, Senhor.

• Celiane – a que deixa saudades, mesmo estando tão perto – protege-a, Senhor.

• Idalina – “irmã” mais nova, porém mais experiente – guarda-nos na sua coragem, Senhor.

• Teoneide – a que cativa – rompa seus temores, Senhor, e guarda-a na Sua glória sempre.

• Educarmo – meu anjo norteador – realize seus sonhos e glorifica-a – eis um ser merecedor!

Por fim, Senhor, esteja no coração daqueles que não me entendem; daqueles a quem aqui eu não citei os nomes (são muitos!), mas que estão no meu afeto, guardados; daqueles que têm contato comigo e, no momento dessa oração, eu não lembro; daqueles que necessitam de Ti, Senhor; daqueles que eu não quero colocar o nome aqui, Senhor – não correria o risco de mentir ao Senhor, usando as palavras vãs, que logicamente, o Senhor saberia quais são. Entrego-me a Ti, Senhor, em oração, pelos MEUS.

Amém.

Rosália Cristina
Enviado por Rosália Cristina em 22/06/2010
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