Reflexão
O filho da viúva
Em Lucas 7, 11-17, temos a narração de um dos vários prodígios de Jesus: a revivificação do filho da viúva. Marcante em simbologia, a passagem é rica e profunda em sua mensagem de amor, pela qual devemos refletir e entender o que queria nos dizer com tudo aquilo. Parece simples, apenas mais um gesto de misericórdia, apenas mais um “sinal” de sua majestade. Mas, por trás disso há uma grande verdade a ser compreendida.
Por que falamos de revivificação do filho da viúva e não da “ressurreição”? Porque são fatos diferentes. A ressurreição se dá, obrigatoriamente, pela mudança de uma dimensão para outra. O filho da viúva e Lázaro não ressuscitaram, eles revivificaram ainda para este mundo. Jesus, sim, ressuscitou, pois mudou de dimensão: saiu deste mundo e voltou para a casa do Pai. O que poderá acontecer com todos nós, se, assim, formos convidados e aceitarmos. A ressurreição é dom: dádiva.
Mas voltemos a Naim. Jesus entrava na cidade seguido pelos seus discípulos e por uma grande multidão que sempre o acompanhava em procissão, onde quer que fosse. Ao cruzar o portal da cidade segue em direção contrária a outra procissão: o enterro de um jovem, filho único de uma senhora viúva. O Senhor, então, em sua imensa compaixão diz à mulher:
Não chore!
E tocando o caixão do menino, diz:
Jovem, eu te ordeno, levanta-te!
Bastou essa ação e o que estava morto revivificou e o “entregou à sua mãe”. Milagre? Claro que não. Para Deus nada é impossível.
Interessante observar que nessa passagem temos dois movimentos, um em cada sentido, em direções opostas, cada um com o seu significado. A procissão liderada por Jesus exprime a vida e a procissão do enterro do jovem denota a morte.
Naim, naquele momento, simbolicamente falando, era presenteada duas vezes:
Afastando a morte da cidade e
Recebendo a vida;
Repare em dois outros atos de Jesus: ele ordena ao jovem à levantar-se, demonstrando a sua autoridade. Ora, quem pode ordenar algo assim? Você? Eu? Temos poder para tal? E, depois, ele entrega o jovem para a sua mãe, restituindo-lhe a “vida”. Naquele tempo, as mulheres eram muito mal tratadas pela sociedade; sendo viúva e sem filhos, fatalmente passaria a viver de esmolas.
Sem mudarmos de dimensão, atravessamos os séculos e chegamos aos tempos atuais, onde as pessoas são sufocadas por paixões, desejos e ambições. Onde homens e mulheres vivem sob pressão constante para realizações materiais e são subjugados por uma sociedade que visa, com muita intensidade, a antecedência das coisas naturais em relação as espirituais.
A passagem acima, sobre o “filho da viúva”, nos faz pensar sobre alguns pontos importantes:
Afinal de contas, o que buscamos nesse mundo?
Sabemos o que estamos fazendo aqui?
Qual das duas “procissões” seguimos na jornada da nossa vida? Seguimos a procissão do enterro, que nos levará para a sepultura? Ou fazemos questão de ir em sentido contrário à ela, caminhando para a vida?
Seguindo para a sepultura, o máximo que poderemos alcançar é uma revivificação eventual, se encontrarmos o Senhor pelo caminho e mesmo assim ainda dependerá das nossas ações posteriores. Seguindo para a vida, certamente, alcançaremos o convite generoso do Pai para a ressurreição.
Mas é possível viver isso no mundo atual? Claro que é! Podemos estabelecer objetivos, sonhos, ideais e ambições. Não há erro algum em “ter e querer”, faz parte da vida e é saudável. O importante é conhecer e aplicar a regra do bom-senso. Tudo demais faz mal e o egoísmo é caminho certo para a “sepultura”.
É preciso saber eleger as prioridades de forma correta e ter sempre em mente a importância da ALTERIDADE. Incluir terceiros em nossos projetos é fundamental, mas incluí-los de verdade. Caso contrário, é esmola, você gostaria de ser tratado como esmola?
Leia: Lc 7, 11-17;
Meditando:
Faça um exame de consciência e veja qual das procissões você está seguindo?