ORAÇÃO SEM NOME

Escuta Deus:

Jamais falei contigo.

Hoje quero saudar-te. Bom dia! Como vais?

Sabes? Disseram-me que tu não existes,

E eu, tolo, acreditei que era verdade.

Nunca havia reparado a tua obra.

Ontem à noite, da trincheira rasgada por granadas,

Vi teu céu estrelado

E compreendi então que me enganaram.

Não sei se apertarás a minha mão.

Vou te explicar e hás de compreender.

É engraçado: neste inferno hediondo

Achei a luz para enxergar o teu rosto.

Dito isto, já não tenho muita coisa a te contar,

Só que... que... tenho muito prazer em conhecer-te.

Faremos um ataque à meia noite.

Não sinto medo.

Deus, sei que tu velas...

Ah! É o clarim! Bom, Deus, devo ir embora.

Gostei de ti... vou ter saudade... quero dizer:

Será cruenta a luta, bem o sabes,

E esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta!

Muito amigos não fomos, é verdade.

Mas... sim, estou chorando!

Vês, Deus, penso que já não sou tão mal.

Bem Deus, tenho de ir.

Sorte é coisa bem rara:

Juro, porém: já não receio a morte.

Obs: Esse poema foi encontrado no bolso

de um soldado americano desconhecido,

estraçalhado por uma granada no campo

de batalha.

Kid verso
Enviado por Kid verso em 09/04/2010
Código do texto: T2187323
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