ORAÇÃO AO TEMPO PERDIDO
Senhor, arranja um canto do lado esquerdo do teu peito onde eu possa me aconchegar.
Dá-me a serenidade de aceitar todas as partidas porque simplesmente eu as mereço.
Tira de mim o peso da perda. A dor de estar com o coração por um triz e as lágrimas que marcam minha face já pálida.
Senhor, me transforma em algo que não sente; algo que não ama; algo que não pensa.
Dá-me o descanso que não tenho e ameniza o peso dos ponteiros nos dias que se alongam feito bichos peçonhentos envenenando todas as horas e de forma tão devagar.
Afasta-me de tudo que parece belo, mas que não passa de mera ilusão de beleza. Esta que busco desde que o ar arranhou meus pulmões sem nunca lograr êxito.
Faz que tudo pare. Com que me falte o ar. Tem piedade de quem não suporta mais os punhais cravados nas costas por esta vida sem razão de ser. Concede-me a partida.
Senhor, não me castigue mantendo-me onde já não vislumbro nada; onde tudo parece seco e tudo que olho vira estátuas de sal.
Abranda o meu desespero noturno e diário. A minha inquietude, o meu desassossego. Livra-me do mal que é ser eu mesma.
Senhor não creio estar pedindo demais. Tudo rui ao redor de mim. Todos se foram e nada me prende aqui.
Por clemência, liberta-me. Peço-te isso com toda a fé que trago, embora não a transpareça e espero, torço, imploro, para que não precise mais abrir os olhos e encarar o tempo. Porque há tanto tempo perdido em mim que não há motivos para me manter aqui. Num mundo onde as pessoas se matam; se deixam; e fingem tanto a pondo de se fazer acreditar.
Peço-te apenas a minha morte e que seja breve. Ao final, todos esquecem, pois todos só pensam em si mesmos e não quero padecer da loucura de acreditar no que não merece crença.
Senhor, dai- me a liberdade de voar; desaparecer; voltar ao pó, porque cansei de ser NADA.
Segura as minhas mãos e me transporta antes que, outra vez, o sol apareça e eu fique a rasgar cartas escritas para mim mesma.
Amém!
12-02-2010