Prece a Deus

O sol abrasador e sem piedade

Calcina a terra.

As plantas, sem entender,

Parecem transferir sua dor,

Para suas folhas,

Que esmaecem e caem no chão calcinado.

O sertanejo olha para o céu e vaticina:

Vai chover!

Os pequenos animais,

Ensaiam uma sinfonia de urros sedentos – Não tem água.

Ao longe,

Uma nuvem de poeira se levanta.

É o vento seco que sopra a terra aquecida.

O sol se esconde

Chega a noite

E a chuva não vem.

Desolado e,

Com a esperança minguada,

O bravo homem do sertão,

Ver os filhos choramingando pelos cantos,

Prenunciando a fome.

Essa dor,

Ele conhece bem,

Mas não sai nos jornais.

Desnutrida e com os seios caídos sobre o peito descarnado,

A esposa no fogão à lenha,

Prepara uma farofa d’água com ovos cozidos

Para afugentar a maldita fome,

Pelo menos naquela noite.

Madrugada,

O suor umedece os corpos deitados em suas redes,

O corajoso nordestino brasileiro,

Abre a porta frontal de sua casa,

Procurando arrefecer o calor.

Vai ao encontro de um pote d’água salobra.

Toma quase meio litro dela e,

Rápido sai.

Precisa reabastecer o pote.

No jumento,

Coloca duas ancoretas

E vai...

Ao som do notívago bacurau,

Que moldura a barra,

Com seu canto triste,

Prenunciando mais um dia de sol ardente.

Fraco e impotente,

O homem pára.

Contempla o céu e,

Ler nas estrelas,

A certeza de mais um dia cruento.

Sem motivos para sonhar,

Inicia um monólogo com Deus,

Que nunca lhe fala,

Apenas lhe escuta.

Com lágrimas nos olhos e com voz trôpega,

O bravo homem do sertão,

Alenta-se numa prece.

Balbucia as únicas palavras que ainda consegue falar:

Meu Deus tenha piedade de mim.

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 22/02/2010
Código do texto: T2102132