ORAÇÃO DE FIM DE NOITE.

ORAÇÃO DE FIM DE NOITE.

Por quem pedirei em oração? Por qual "SÃO" ou "SANTO" invocarei para lhe entregar minhas angústias? As agonias do meu tempo cheio de violência, solidão, egoísmo, qual santo vai querer me acudir? Sei bem que virá um novo dia e que não devemos nos preocupar com o de amanhã. Mas eu sei que minha fé é pequena, posto que se não fosse talvez nem precisasse orar em contrição.

Penso, neste final de noite, que a melhor oração seja mesmo a elevação do pensamento. Do altíssimo, devem vir todas as bênçãos que necessito para me fortalecer e diminuir meu débito de pecados. Ah, os pecados! No foco desta elevação, invoco a sabedoria e peço que me ensine a não pecar, porque o que aprendi do pecado não cabe em ti, Senhor. Porque sou pequenino e Tu imenso; sou temporal e Tu infinito; sou fraco e Tu fortaleza; sou rude e Tu sábio; sou da vida inquilino e tu, da criatura o Criador. Ajuda-me, pois, a entender essa concorrência "desleal" entre nós, pecadores e ti, Senhor dos Céus e da Terra. Para que livre de interpretações rudes eu possa, a cada dia, me despojar dos prazeres que a carne faculta e que, pelo pecado, dificulta a salvação da alma. Mesmo que eu às vezes não acredite na alma como foi posta pelas religiões, mas não posso fugir dos grilhões da sabedoria que o ser enclausura e liberta para o eterno.

São José, Santa Luzia, santos e sãos! Intercedam por mim neste mistério de transição permanente que a vida nos determina. Fazei com que a cada dia sejamos noite para nossas dúvidas e em cada noite, a luz divina nos transforme em luz, para que nossos caminhos sejam sempre na direção das estrelas do bem.

O tempo que gera os homens difere dos tempos dos anjos. Dai-nos, Senhor, a capacidade de viver no tempo dos homens, sentindo o tempo dos anjos para melhor nos depurar das imperfeições. Desta forma, Jesus, permita-nos seguir as trilhas da existência buscando compreender as horas, apesar dos minutos; os dias, apesar dos anos, porque a lógica do tempo e do calendário na forma que conhecemos nos faz perder um pouco do saber na linguagem simbólica das chuvas, das tempestades, do sol, das flores, do mar, da relva, dos campos verdes.

Concede-me, nesta noite, a capacidade de não nos perder em desatinos coletivos que a soberba faculta; que a solidão projeta e que o desamor estimula e condicionam, amém!