Reflexão
Nardo
No Evangelho de João temos uma passagem maravilhosa que me faz refletir muito sobre alguns pontos da minha vida. No capítulo 12 encontramos o seguinte:
“... Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo. ...”
Ora, Maria entendeu que estava diante do Senhor e resolveu presenteá-lo com algo de “grande valor”; algo expressivo e mais, em gesto de grandeza e humildade ela fez questão, absoluta, de enxugar os pés dele com os seus próprios cabelos. Essa foi a maneira que ela encontrou de agradecer a Jesus por sua passagem pela casa dela.
Fico pensando: durante toda a minha vida quantos presentes recebi de Deus? Um? Dois? Não, vários! Faço um rápido balanço em minha história e vejo que fui presenteado por Ele milhares e milhares de vezes. Talvez, em momentos que considero negativos, na verdade fui presenteado por Ele me livrando de grandes problemas que não tive capacidade de assim perceber, pois muitas vezes a nossa visão egoísta nos cega.
O gesto de Maria foi tão impactante que, na hora, causou inveja e ciúmes. Veja a reação descontrolada de Judas:
“... Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres? …”
Judas não entendeu a atitude de Maria. Quantos presentes ele deve ter recebido do Senhor e não percebeu, jamais retribuiu. Mas a ação de Maria, também, teve outro desdobramento: o perfume espalhou-se pela casa e encheu o coração de todos, encantando as pessoas e provocando alegria e felicidade.
Lendo e refletindo sobre essa passagem, me defronto com um grande problema. Eu jamais tive uma atitude como a de Maria, nunca parei para pensar e me preocupar em retribuir a Deus os presentes que Ele me dá. Agradecer? Claro, faço isso todos os dias. Mas quantos presentes eu dediquei a Ele? Minhas orações são carregadas de pedidos e de alguns agradecimentos. Mas isso basta? Isso é justo?
Ou será que considero um presente a Deus as migalhas de tempo que dedico para Ele? Ou será que considero uma concessão especial a Deus ir a Igreja? E durante o culto sair para atender o telefone celular que não tive a gentileza em desligar antes de entrar no templo para dedicar-me integralmente ao Senhor?
Quantas promessas fiz e não cumpri? Ele não me pediu nada, fui eu que prometi e, pior, não cumpri. Todas as minhas ofertas foram tiradas do superfluo, daquela parte que não me faz falta alguma, jamais abri mão de algo que me fosse substancial para oferecer a Deus.
Provavelmente, você estará pensando: - mas como presentar a Deus?
Primeiro, é preciso compreender o significado profundo do gesto de Maria nessa passagem, que nada mais é do que a verdadeira expressão do AMOR. Amor em alta generosidade. Pergunto: - conhecemos esse tipo de amor? Creio que não. Infelizmente.
Segundo, podemos mergulhar na reciprocidade desse amor, lendo ainda no mesmo Evangelho de João, no capítulo seguinte, a passagem referente a última ceia e o famoso lava-pés, quando Jesus demonstra todo o seu amor e misericórdia pelos homens, inclusive àqueles que o traem, quando se ajoelha para lavar e depois enxugar os pés de cada discípulo. Observe-se que Judas ainda estava na salão!
Questionado por Pedro:
Lavar os pés a mim? Jamais !
Qual foi a resposta de Jesus:
Se eu não te lavar, não poderás ter parte comigo.
Pedro respondeu rápido:
Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça!
Por quê Pedro disse isso ? Porque ele queria ter “parte” com o Senhor.
E nós? Queremos ter parte com o Senhor? Jesus demonstra que Ele quer ter parte conosco e deu a sua vida, neste mundo, por isso. E nós? Aquele que se entrega a Deus na plenitude, não precisa ser lavado, pois está puro, inteiramente puro!
E nós? Estamos puros? Jesus mesmo respondeu a essa pergunta:
Vós não estais todos puros.
O gesto de lavar os pés está carregado de simbologia, ilustra o amor e a compaixão que temos que dispensar aos nossos semelhantes. E quando assim o fizermos, estaremos, também, ungindo Jesus com o bálsamo de nardo, mais uma vez.
Leia: Jo 12, 1- 11;13, 1 – 20;
Meditando:
Você dedica a sua vida a Deus ou oferece a Ele as migalhas do seu tempo?
Faça um exame de consciência, profundo, sobre suas atitudes para com Deus?