Ama-me Pai

Fonte primordial de inspiração.
Muito divaguei pela razão,
andei pelos caminhos da filosofia,
ocultei-Te em sinônimos em minhas letras.
Temi que a empáfia do intelecto humano O rejeitasse.
Amadureci e hoje percebo que
a inteligência é apenas caminho para Ti.
Sempre viva a vontade de senti r-Te próximo,
sempre presente a impossibilidade
material de detectá-Lo.
Hoje, porém concluo, que sempre estiveste próximo,
eu é que não tinha olhos para ver-Te.
Ainda cego reclamei do Teu fardo
que obrigava-me a ser paciente.
Vendo a luz, envergonhei-me
ao perceber a contrapartida
de Tua paciência para comigo
Escravo dos preceitos humanos, imaginei Te
encontrar em meio a pompas e glórias.
Mero engano, pois foi naquilo
que é singelo e simples
que percebi o toque de Tuas mãos.
Quanta felicidade em sentir-Te simples,
pois nisto identifiquei-me como Teu filho.
Avesso à complexibilidade
que mais oculta do que esclarece,
senti-me um dos Teus.
Pai, enganei-me ao supor-me velho de alma,
pois ante Tua eternidade descobri minha meninice.
Não gostando de ter sido criança,
diante de Ti não me ofendia 
ser reduzido à infância.
Tu encheste com Teu espírito, 
que é a própria vida, 
meu velho e descrente coração.
Foste semente milagrosa
que brotou no árido deserto
em que me transformei 
no meu engano de maturidade.
Tu, antes que eu fizesse algo,
fizeste tudo por mim.
Desvendando Tua obra
aprendi a sentir-me grato.
Fosse necessário, viria a Ti
prostrado de joelhos,
mas Tu és Pai que abre os braços
para o filho pródigo.
Alegra-me isto.
O orgulho e a vaidade tornam-se tolos.
Diante de Ti a águia é feliz por ser pomba.
Teu amplexo divino é escudo
que protege-me da sugestão
dos filhos rebelados que ainda são ingratos.
São pobres criaturas,
loucos que pensam-se acima do Criador.
Iludidos, julgam-se proprietários da inteligência.
São aqueles que  não sabem o
que fazem. São os ignorantes
que vestem os trajes dos sábios.
São medíocres que não sabem
quantificar a intensidade da própria tolice.
Pai, eu que fui mediocridade peço-Te
forças para não abandoná-Lo.
Pai, Tu que nunca abandonas,
acompanha-me em minha sincera busca da verdade,
Pai , Tu que és a misericórdia viva e em ação,
enquanto eu sou tentativa de entendimento.
Busco-te para que estejas sempre comigo.
Perdoa-me antes que Te peça perdão,
mas ainda assim Te peço:
Pai de mim e do todo,
perdoa-me os momentos
de ignorância de minha inteligência.
Perdoa-me os instantes de falta de crença
de minha pequena fé,
pois diante de Ti posso ter
a ingenuidade das crianças
que querem aprender.
Armado de Ti, sou menino
com armadura de poderoso guerreiro.
Guiado por Ti,
combaterei o bom combate
que faz-me descobrir a felicidade
que oculta-se atrás da dor.
Cheio de imenso silêncio,
ouvirei a Tua voz consoladora,
escutarei a sinfonia do Teu cosmo.
Será Tua cantiga de ninar
que há de tornar mansa
a energia concentrada na força.
E descobrindo a serenidade
caminharei pela intuição, 
na dimensão de Teu espírito.
Lá, minha vontade aprenderá a amar a Tua,
convertendo minha rebeldia à Tua Lei.
Liberto da escravidão do ego, 
minha individualidade
será integrada e não mais personalista.
Reaprenderei os conceitos de força e fraqueza,
descobrirei a força dos fracos.
Desvendarei, meio que surpreso,
toda a vulnerabilidade
existente na força.
Verei que força e fraqueza
complementam-se,
que são ambas Tuas filhas.
Diferentes caminhos
para chegar ao único
objetivo que és Tu.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 08/08/2009
Reeditado em 25/03/2010
Código do texto: T1744175
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