Inspirada no Apóstolo Paudo de Tarso
 
Que me adiantaría ser santo frente aos homens, 
se fosse pecador perante a Deus?
De que me valeria ter poderosas asas,
se não soubesse a direção do voo a tomar?
Por que haveria de me preocupar
com as lágrimas que caem, se a dor tanto ensina?
E por que, ainda assim, não almejar a tristeza,
mas querer antes, ardentemente, a felicidade?
Que coragem não é necessária para enfrentar
as próprias culpas, sem ser escravo da violência?
Difícil é transformar as águas paradas e insalubres
do lago do remorso em produtivo riacho.
Terrível é modificar a fúria da espada
que abre caminho à força pelo cajado que planta o amor.
Necessário é fecundar a juventude com senilidade
e a velhice com a esperança jovial.
Obstinação vertida em perseverança faz-se essencial
para se modificar de servo para filho.
Esforço na boa vontade
e poderosas rédeas para dominar os instintos
e domar os velhos impulsos.
Estranho é reconhecer um velho guerreiro
transformado em escravo da ilusão da paternidade.
Inimaginável é ver o filho rebelde curvando-se feliz
e reconhecido ao amor do único Pai.
E com que intensa dor a efemeridade
descobre ser apenas momento da eternidade...
E quanta loucura é o finito ter acesso às trilhas do infinito,
a verdade é antes de tudo assustadora.
Frágil é o coração humano
ante as emoções sublimadas da alma.
Teme-se a força do bendito.
Como sobreviver o homem
ante o despertar impetuoso do espírito
que quer fazer-se vivo?
Como pode um mero frasco
suportar a suprema força
da nascente da vida que fecunda o ser?
Incompreensível, porém real.
E pensando dominar é dominado,
e supondo-se preso caminha para a liberdade.
E sendo antes escravo da guerra reconhecer
a necessidade da paz.
E encontrando no passado força no ódio,
por fim sentir o poder do amor.
E ao ter sido orgulhoso ter-se feito minúsculo
e aprendendo a humildade, adquirindo grandeza.
E reconhecendo os próprios conflitos,
vendo brotar da confusão a intensa verdade da lucidez.
E por ter sido feliz no engano,
tendo que ser triste no acerto,
finalmente feliz na verdade.
E então sentir próxima a liberdade
que desejava, mas não entendia.
E percebê-la antes suave que impulsiva,
ser brisa e não vendaval.
Ser toque afetivo e não a paixão das carícias.
Para, finalmente, o filho pródigo
entender o sublime coração do Pai.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 17/05/2009
Reeditado em 28/06/2009
Código do texto: T1599787
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