Palavras Francas ao Pai

Talvez fosse mais respeitosa
a oração tradicional,

mas confesso senti-la insuficiente,
desejo intimidade.

Antes preciso da franqueza,
do que de educadas palavras.

Longe de beirar-me à blasfêmia,
quero ser honesto.

Reconheço que talvez
fosse melhor ser mais doce,

mas o fato é que não sou,
embora, amargo, deseje sê-lo.

Tivesse têmpera suave
meu caminho teria menos dor,

mas meus impulsos são fortes,
sou paixão querendo paz.

Assim é que Te amo acima de tudo,
mas de forma viril.

Amo – Te como o leal soldado
disposto a morrer pelo rei.

Amo – Te como impulsivo vendaval 
à procura de brisa.

Amo – Te como o pecador
arrependido, desejando reparo.

Por Ti curvo o meu orgulho
de homem ferido em batalha.

Busco – Te com a ingenuidade bruta
dos vis guerreiros.

Desafio as minhas culpas
e me obstino na justiça do bem.

De joelhos fiz-me Teu servo,
mas quero erguer-me Teu filho.

Irritadiço e colérico
desejo serenar-me em energia branda.

Rude e brusco no pecado
quero ser leal e justo na virtude.

Encanta-me a Tua obra,
fascina-me o Teu profundo bem.

Mas por ser imperfeito não amo de todo,
pois odeio o mal.

E nisto não reconheço força,
mas fraqueza de quem busca.

Creio que já consigo respeitar o mal
que leva o ignorante,

mas sou por demais intolerante
com o mal da inteligência.

Mais pela estupidez da força,
do que a hipocrisia da astúcia.

Sei que nada disso justifica,
antes é imperfeição a ser vencida.

Assim é que me reconheço
cheio de limites e deficiências.

Minha esperança, portanto, és Tu ,meu Pai.
Sei que me conheces,

Tu tens o dom de ler
as linhas de meu coração.
Desvenda-me.

Perdoa-me por meus muitos enganos.
Perdoa a intolerância.

Sabes do meu amor pela verdade
e minha velha obstinação.

Sabes da minha têmpera miliciana,
mas também minha exaustão.

Acompanha-me por minha longa busca
pela árida trilha escolhida.

Sei que notas toda a arrogância
de meu orgulho tão heróico quanto quixotesco,

mas sei que viste em mim sincero amor
pelo bem que emana de Ti.

Viste-me Teu, antes que eu soubesse que o era,
apartaste-me para Ti.

É por isso que clamo:
acalma meu coração, serena minha mente,

traz equilíbrio que harmonize
a tempestade que pareço ser.

Ensina-me o amor
que renuncia às velhas e imprudentes paixões.

Faz descobrir a sutileza
do movimento evolutivo que me agrada.

Que a justiça em mim
seja fertilizada pela misericórdia de Ti.

Que Teu perdão brote em mim
como o doce fruto da gratidão.

Dai-me forças para obter
o mérito da Tua graça.

Guarda-me em Teu coração
para conseguir chegar à humildade.

E sendo humilde,
que eu seja forte
para fazer-me Teu no bem,

Pois que este velho servo
da Tua justiça quer ser
filho de Teu amor.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 06/05/2009
Código do texto: T1579429
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