Oração dos Justos
Pai quantas vezes senti-me estar tão perto de Ti?
E neste estar senti brotar em mim o meu amor por Ti.
Este amor que tanto amei
fez-me vulnerável ante ao mundo.
Recuei minhas defesas, guardei minhas armas,
mas não livrei-me da luta.
A têmpera miliciana desafiou a morte
com o peito aberto e sem escudo.
E riu-se da vida e desprezou o mundo
no ardor do seu arrogante orgulho.
E viu glória em renunciar a vida
para algo que superava-a em grandeza.
E alimentou-se de estranha felicidade,
mesmo ante a dor ferindo a carne.
E viu que o ideal do espírito era mais forte
do que o instinto de sobrevivência.
A velha paixão ainda assombrava cérebro e coração,
o sangue ainda fervia.
Zombou da efemeridade
e pressentiu o pulsar terrível da força eterna da alma.
Disposto a morrer ouviu no silêncio voz
que dizia; que o construtor esta acima do mártir.
E confundiu-se e visitou-lhe certa vergonha
e porque não dizer uma rejeição que não entendia.
E sua euforia verteu-se em melancolia,
encheram-se de sombras onde supunha haverem luzes.
E a visão expandiu-se e viu a grande vitória do seu ego
e o abismo da sua suprema derrota.
Lembrou-se ignorante a rejeitar a consolação do Pai,
e teve solitário encontro com a morte.
Viu-se eterno quando ainda nada mais desejava
senão as glórias profanas da efemeridade.
A ferida em chaga, a dor ardente querendo justiça,
sendo injusto e sentindo-se injustiçado.
Despertando para as primeiras luzes da real humildade,
ainda crendo-se o maior dos justos.
E ao despertar para os próprios erros descobrir
o quão pequena era a sua noção de justiça.
Querendo a justiça e então encontrando o Pai
pelo caminho do julgamento e da sentença.