Oração dos Justos

Pai quantas vezes senti-me estar tão perto de Ti?
E neste estar senti brotar em mim o meu amor por Ti.

Este amor que tanto amei
fez-me vulnerável ante ao mundo.

Recuei minhas defesas, guardei minhas armas,
mas não livrei-me da luta.

A têmpera miliciana desafiou a morte
com o peito aberto e sem escudo.

E riu-se da vida e desprezou o mundo
no ardor do seu arrogante orgulho.

E viu glória em renunciar a vida
para algo que superava-a em grandeza.

E alimentou-se de estranha felicidade,
mesmo ante a dor ferindo a carne.

E viu que o ideal do espírito era mais forte
do que o instinto de sobrevivência.

A velha paixão ainda assombrava cérebro e coração,
o sangue ainda fervia.

Zombou da efemeridade
e pressentiu o pulsar terrível da força eterna da alma.

Disposto a morrer ouviu no silêncio voz
que dizia; que o construtor esta acima do mártir.

E confundiu-se e visitou-lhe certa vergonha
e porque não dizer uma rejeição que não entendia.

E sua euforia verteu-se em melancolia,
encheram-se de sombras onde supunha haverem luzes.

E a visão expandiu-se e viu a grande vitória do seu ego
e o abismo da sua suprema derrota.

Lembrou-se ignorante a rejeitar a consolação do Pai,
e teve solitário encontro com a morte.

Viu-se eterno quando ainda nada mais desejava
senão as glórias profanas da efemeridade.

A ferida em chaga, a dor ardente querendo justiça,
sendo injusto e sentindo-se injustiçado.

Despertando para as primeiras luzes da real humildade,
ainda crendo-se o maior dos justos.

E ao despertar para os próprios erros descobrir
o quão pequena era a sua noção de justiça.

Querendo a justiça e então encontrando o Pai
pelo caminho do julgamento e da sentença
.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 03/05/2009
Reeditado em 03/07/2009
Código do texto: T1573145
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