CATEQUESE - JESUS É SENHOR
SHEMÁ ISRAEL ADONAI ELOKENU ADONAI EHAD! (OUVE ISRAEL, ADONAI É NOSSO DEUS, ADONAI É UM - Dt 6, 4-9).
A mais importante das orações judaicas, a primeira a ser ouvida, meditada e proclamada pelo judeu e, também, a última, ao final da sua jornada na Terra, nos diz o quão importante é ouvir, meditar e absorver em nossos corações a verdade de que o Senhor é nosso Deus.
Querigma (do grego Kérygma) é a proclamação em alta voz, o anúncio da boa nova de Nosso Senhor Jesus Cristo, portanto, o núcleo da mensagem cristã, como se pode notar em vários trechos do Novo Testamento:
Ele é a pedra angular (At, 4,11);
O juiz dos vivos e dos mortos (At, 11,42);
O Salvador (At 13,26);
O chefe que leva a vida (At 3,15).
Para que o caminho, verdade e a vida sejam ouvidos, é necessário antes que alguém proclame, anuncie e ensine a boa nova.
A declaração de fé: “o Senhor é Deus, o Senhor é um”, resume toda a doutrina, toda a verdade, por isso, desde o tempo dos patriarcas, como Jacó em seu leito de morte e Moisés no Sinai, o Shemá Israel é ensinado de geração em geração. É o primeiro (“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”.) e o segundo mandamento de Deus (“Não tomarás Seu Santo Nome em vão”) resumindo toda a Lei. A inigualável experiência espiritual de se recitar o Shemá Israel permitiu a muitos devotos enfrentarem os mais terríveis perigos e aceitarem a própria morte com coragem, serenidade e paz.
Por esta oração, a criatura se conecta com o Criador que está vivo em seu coração para sempre, mesmo após a vida terrena.
Ouvir, portanto, é mais do que escutar; é entender, aceitar, meditar, guardar, submeter-se à soberania divina, viver, servir e proclamar que o Senhor é Deus, que o Senhor é um.
Senhor é o título que estabelece a propriedade divina sobre o universo. As alianças oferecidas por esse Deus às criaturas foram todas rompidas devido à dureza do coração humano. A aliança com Noé (o arco íris), com Abraão (a circuncisão), com Jacó (o nome de Israel), com Moisés (as tábuas da Lei) foram rompidas por dependerem dos homens. A Nova e Eterna Aliança consolidou-se no próprio Filho de Deus encarnado, Jesus Cristo: saiba com certeza toda a casa de Israel que Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus (At 2,36).
Senhor, Kyrios em grego, termo reservado no Antigo Testamento para Deus, afirma o caráter divino de Jesus (Fl 2, 5,11). Mais do que retórica, a conversão, a aceitação do Senhor Jesus deve ser total, abrangendo integralmente a vida da criatura, deixando-Lhe a tomada de todas as decisões, pensamentos, palavras e ações, do acordar ao adormecer, durante toda vida.
O livre arbítrio é, destarte, preservado: decide-se pelo senhorio de Jesus, transfere-Lhe integralmente as decisões por Sua vontade, por sua Lei, por Seu exemplo.
Aceito Jesus como Senhor, o Seu senhorio se dá por completo: não apenas uma ou outra parte da doutrina, não apenas uma ou outra doação eventual. A aceitação eventual, parcial, interesseira, morna é rejeitada: “os mornos ele os vomita (At 3,15).
Não se trata, portanto, de apenas ver, conhecer, acreditar, concordar com uma nova filosofia de vida. Trata-se de ouvir (Shemá) a voz de Deus e retê-la em seu templo interior conectando a criatura com seu Criador.
Os objetos de fé do judaísmo, como a mezuzá (caixinha colocada no umbral da porta residencial contendo o decálogo), o tefilin (caixinhas atadas ao braço do judeu contendo as palavras do shemá) são os sinais físicos da Antiga Aliança e transcendem os significados artísticos e humanos.
Também nós, remidos pelo Cordeiro devemos externar a fé: a Bíblia de uso pessoal, a postura e o traje no espaço litúrgico, o apreço e cuidado com objetos sacramentais, como crucifixos, rosários e escapulários.
Entretanto, o respeito aos símbolos sagrados não pode ser apenas exterior e hipócrita.
Não pode o reinado de Jesus comparar-se ao das monarquias constitucionais. Ele deve não apenas reinar, mas também governar nossos pensamentos, palavras atos e abstenções. Não podemos ser os “primeiros ministros” de nossas vidas, ora manifestando louvores públicos e simbólicos a Cristo-Rei, ora governado nossa vida a nosso talante.
Quando ainda não se entende o Shemá Israel a atitude é ambígua: orgulha-se de se possuir um belo exemplar da Bíblia, mas não o usa, atribui apenas um valor artístico ou sentimental a uma imagem de Jesus, sem, contudo, adorá-lo, comove-se durante a Liturgia da Palavra, mas não retém a mensagem da Boa Nova. Fala, diverte-se, vive segundo os desejos da carne.
Daí a anedota: a Bíblia do evangélico cheira a suor e a do católico a mofo...
Mesmo recebendo o querigma, ouvindo o Shemá Israel, por nossa própria força de vontade não seremos capazes de viver segundo o senhorio de Jesus. É preciso pedir esse dom da Fé. E o Pai não pode resistir a esse pedido de submissão voluntária a seu Filho. Basta pedir e recebemos de coração Jesus como Senhor. Podemos clamar: Reina Senhor, neste lugar!
Venha, assim, o Seu Reino não apenas ao templo do nosso corpo e da nossa alma, mas, também, peçamos que “toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor!” (Fl 2, 10-11).
Bibliografia
1) - Arquidiocese de Brasília – Adoração Eucarística Perpétua – 3ª Ed. Brasília - 2006.
2) - Antoniazzi, Alberto, Pe. - CNBB – Cristo no centro da história e da vida da Igreja.
3) - Flores, José H. P. – “Ide e Evangelizai os Batizados” - Trad. Gulmara Lobato -Ed. Loyola SP 1980.
4) - Kräutler, Dom Erwin, Bispo do Xingu – “Shemá Israel” – Pregação na CNBB – Itaici - SP - 2008.
www.morasha.com - Lamm Norman - The Shemá, Spirituality and Law in Judaism – Rev. Morasha, 2008.
ARQUIDIOCESE MILITAR DO BRASIL
SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA RELIGIOSA DA AERONÁUTICA
CATEQUESE – JESUS É SENHOR
Lidercio JANUZZI (MESCE)
Brasília, DF, 25 jun 2008.