CONTEMPLAÇÃO


Coragem


A autocrítica é um dos pontos fundamentais do crescimento individual e espiritual. É o momento sublime em que temos a coragem de reconhecer as nossas misérias, as nossas mazelas e enfrentá-las de peito aberto com o objetivo de vencê-las e deixar de sermos escravos.


Se pensarmos que ao fazermos isso iremos nos livrar definitivamente desses “demônios”, estamos redondamente enganados. Os demônios continuarão dentro de nós, mas passaremos a ter consciência de sua existência e aprenderemos a impor a nossa vontade sobre a vontade deles.


D. Dora, uma mulher maravilhosa, era conhecida e muito respeitada em toda a comunidade por sua generosidade. Ela sempre participava ativamente de todas as campanhas de doação aos necessitados, fosse onde fosse, e fazia questão de entrar com a maior parcela, fosse economicamente ou mesmo trabalhando. Estava sempre à frente de todos e, obvio, era a escolhida para falar e incentivar os outros.


Tempos atrás ela foi indicada para fazer um retiro espiritual. Mas ela não sabia o que iria enfrentar e nem a mudança radical que estava para acontecer a partir daquele momento. Ela não imaginava que ao atirar-se de cabeça dentro de si mesma descobriria coisas fabulosas e que isso seria essencial em sua vida, tornando-a uma pessoa ainda muito melhor.


Durante o retiro, em suas meditações, ela desceu fundo em sua alma e em conversa consigo mesma e, depois, com o seu orientador espiritual ela teve a coragem de falar sobre um tema delicado para ela. Na conversa ela abriu o seu coração:


- Confesso que tenho um grande problema e que preciso falar sobre isso, na verdade a minha generosidade é fruto de uma grande vaidade que tenho. Eu preciso estar em evidência. Preciso ser reconhecida, preciso saber que as pessoas me admiram, me amam, me invejam, me imitam. Eu gosto de aparecer, de dar entrevistas, de ser apontada nas ruas como um exemplo a ser seguido. Quando isso não acontece entro em profunda depressão.


Pela primeira vez D. Dora tinha a coragem de enfrentar um de seus demônios. Sua generosidade existia mesmo, mas não era o “ator principal”, era apenas um figurante, nem mesmo era um “ator coadjuvante”. O “ator principalera a sua vaidade, a sua necessidade de afirmação.


Os demônios que habitam em nós são maquiavélicos! Eles ficam lá dentro, escondidos, quietos, só nos observando. São pacientes e começam a trabalhar, exatamente, em cima de nossas fraquezas. Eles escolhem algumas de nossas características e “assumem” o controle delas, nos transformando em escravos generosos. Muitas vezes, como no caso de D. Dora, uma particularidade que ninguém desconfiaria é onde atacam.


Fátima, orientadora espiritual de D. Dora naquela ocasião, iluminada pelo Espírito Santo, soube conversar com ela exaustivamente sobre o assunto. Era importantíssimo não permitir que o tema fosse relegado a plano inferior. Fátima agiu nas seguintes frentes:


  1. Não permitir que D. Dora sentisse qualquer complexo de culpa pelo problema;


  1. Fazer com que ela passasse a ter plena consciência do fato;


  1. Convencê-la a enfrentar e vencer esse demônio;


  1. Ficar alerta e identificar outros;


Mas Fátima deixou claro para D. Dora que somente ela seria capaz de vencer esse obstáculo, pela sua força de vontade, consciência do problema e por sua exclusiva decisão. Ninguém pode “resolver” a questão que é tão somente dela, pois está “dentro” dela.


Hoje, D. Dora é outra pessoa. Continua generosa como sempre, mas os seus valores interiores são outros. A generosidade passou a ser o “ator principal”.


O demônio da vaidade “arrumou” as malas e foi embora? Não, claro que não. Ele continua lá, sempre esperando que D. Dora dê um cochilo. Mas ela está sempre alerta e quando o bichinho da vaidade acorda, ela sempre diz:


- Dora, Dora ! Cuidado, corte o mal pela raiz. Senhor, me ajude !




Leia: Mt 6, 1-4; Mc 7, 6-7; Lc 12, 34;


Meditando:


- Faça um profundo exame de consciência e tenha a coragem de reconhecer os seus demônios. Quais são eles? Para quais você é escravo?














Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 20/01/2009
Reeditado em 20/01/2009
Código do texto: T1394726
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