Contemplação
Amar a Deus
Nunca tive a menor dúvida do amor de Deus por mim. Há anos sei disso e a cada dia as provas desse amor são inúmeras. O que me incomodava era a minha falta de reciprocidade para com esse amor. Um complexo de culpa constante me sufocava.
Deus me ama e eu não consigo corresponder a esse amor. Os meus sentimentos eram estranhos, eu não sentia nada dentro de mim e isso me incomodava. Onde estava a minha afetividade?
Um belo dia resolvi fazer um retiro espiritual. Mas não era um retiro qualquer. Era um retiro de oito dias, enclausurado e com os famosos exercícios espirituais Inacianos. Lá fui eu cheio de esperanças, mas com o terrível sentimento de culpa atrás de mim, dentro da bagagem.
No retiro encontrei pessoas maravilhosas e apesar do silêncio total praticado, as raras palestras e apresentações eram magníficas. E a cada dia os resultados iam aparecendo, iam se multiplicando e o meu crescimento interior aumentando.
Fiquei encantado com a piscina de conhecimentos que Deus me oferecia. Mais uma prova de seu amor incontestável. E a cada mergulho que eu dava nessa piscina, mais eu percebia a grandeza da minha insignificância e a enorme distância que eu me encontro da verdade absoluta. Excelente exercício de humildade e quebra de arrogância.
Nos exercícios Inacianos pouco a pouco vamos destruindo os fantasmas, os monstros, os tabus, os medos e os demônios que habitam dentro de nós. É um processo de purificação interior.
E no meio de tudo isso, o coordenador diz a seguinte frase:
-... Deus nos ama incondicionalmente!
Puxa vida, Ele me ama, não exige nada em troca e eu aqui, sem corresponder a esse amor, sem sentir o mesmo afeto por Ele. Ou, pelo menos, sentir uma pontinha de amor que seja. E o complexo de culpa aumentava a minha bagagem.
De repente, sinto um estalo dentro de mim! Ora, se eu estou aqui enclausurado por oito dias, só falando Dele, pensando Nele o tempo todo, louvando, orando, conversando com Ele, o que mais isso significa? Só pode ser amor, profundo e verdadeiro. Quando a gente ama alguém a gente pensa nessa pessoa o tempo todo e quer estar junto dela, também, o tempo todo.
Descobri a pólvora! Deus me ama e eu também O amo. A forma de ver esse amor é que estava errada dentro de mim. Só isso. Eu esperava um sentimento para com Deus da mesma forma que eu sinto para com as pessoas. E são sentimentos completamente diferentes.
Ao descobrir essa intimidade tudo ficou mais fácil. Abri as portas do meu coração e disparei a falar, a conversar com Ele e de uma maneira fantástica. Com Deus podemos falar de tudo, sem medos e sem receios. Esconder algo Dele é simplesmente ridículo, pois Ele nos conhece melhor do que nós mesmos, Ele sabe quais são os nossos pontos fracos e fortes, Ele conhece as nossas virtudes e as nossas misérias. Falo com Deus coisas que não teria coragem de confessar ao padre.
Às vezes fico bravo com Ele: - Senhor, lembra-se quando eu fiz aquilo, assim, assim? Como é possível que o Senhor tenha deixado eu fazer aquilo? Onde o Senhor estava que não me impediu de tamanha loucura? Que vergonha! E o Senhor viu aquilo tudo e ficou quieto?
Sabe qual foi a resposta Dele?
- Quando você nasceu Eu fiquei tão feliz que além da vida Eu lhe dei um presente: a liberdade, o livre arbítrio. Você pode fazer o que quiser. Quando Eu vi você fazendo aquilo Eu chorei muito, fiquei triste e amargurado. Mas Eu tinha que respeitar a sua liberdade. Se Eu interferisse estaria transformando você em uma marionete. E o que Eu quero é que essa liberdade ensine você e a todos os seus irmãos o discernimento entre o que é certo e o que é errado, entre o bem e o mau. Vocês podem tudo, mas nem tudo lhes convém.
E é através dessa liberdade que nós cresceremos como seres humanos e algum dia entraremos em plena sintonia com Deus. Mergulharemos, definitivamente, em Sua imensidão.
Leia: 2Cor 3, 17; Gl 5, 13;
Meditando:
- Quais são os fantasmas que o atormentam?
- Você conversa com Deus? Como?
- O que é a liberdade para você?
- O que significa o amor em sua vida?