Entre o altar e o profano

Se sou altar sinto paz harmoniosa

Sinto estar no apogeu de Tua vontade

Sinto corresponder à vocação tão gloriosa

Sinto meu ser repleto de sublimidade

Se sou profano satisfaço-me em concupiscências

E me desfaço de remorso, arrependido

Estremeço de prazer nas indecências

E me corroo, medíocre, desiludido

Quando altar Te ouço a voz tão bela e suave

E clamo alto com um tom emocionado

Formando belo dueto de mesma clave

Amigo íntimo de um ser tão exaltado

Quando profano escolho palavras sedutoras

E me esqueço da outrora comunhão

Troco carícias com mãos igualmente pecadoras

Toda a grandeza transcendente vai ao chão

Se no altar Tua palavra me engrandece

Parece tudo tão possível, tão palpável

Devoro textos entre lágrimas e preces

Cada versículo se revela confiável

Se no profano nada daquilo me recordo

Como literatura das férias de verão

E de pecados me revisto quando acordo

Passando o dia com pesar no coração

Quando profano dilacero as emoções

Quando altar me encho de Teu Espírito

Se no altar Te anuncio às multidões

Se no profano meu saber se faz empírico

Se no altar eu Te desejo mais ardente

Mais ardente é meu desejo tão profano

Profano a alma, a carne, o corpo, decadente

Entristeço o coração do pai que amo

Quando no altar sinto o sabor da Tua presença

E saboreio a beleza da Tua santidade

Quando no profano, sinto o gosto da indecência

E satisfaço minha humana mediocridade

Se no altar sinto do Pai a mão tão terna

Se no profano, sinto do mal o toque rente

Se profanar vivo, mas morro morte eterna

Se no altar, morro, mas vivo eternamente

Krummel
Enviado por Krummel em 27/10/2008
Código do texto: T1250316
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