PODEROSA capítulo 8: Na noite escura

 

CAPÍTULO 8

 

NA NOITE ESCURA

 

(No capítulo anterior, Ava e Elaine, passando dias na subsede Guarapari do Parque de Teresópolis, encontram um rapaz ferido na testa e que teve um objeto roubado. Elas descobrem que foi Frida, a misteriosa mulher dos olhos verdes, a autora da agressão e do roubo. Entretanto Alfredo, a vítima, não quis revelar o que havia sido roubado. Elaine agora ira reencontrar essa personagem que conhecera na Tijuca.)

 

    — Para um adulto, ele é muito apavorado — comentou Ava, intrigada. — O que será que está escondendo?

    — A sua mãe também ficou intrigada. Mas isso, Ava, é a própria síndrome da vítima.

    — O que é que você quer dizer com isso, Elaine?

    — Simplesmente, que uma vítima não gosta de dar queixa ou de pedir ajuda. É dar parte de fraca, entende? A revelar uma coisa humilhante, prefere silenciar. E não é só isso, tem também a culpa de você ser vítima.

    — Hein? Essa eu não entendi.

    — É um tipo de lógica que funciona mais ou menos assim: “Não posso denunciar que me bateram, ou que me ameaçaram de morte, porque vão querer saber o que eu fiz para me baterem ou me ameaçarem de morte.” Está entendendo? É muito comprometedor se alguém te bater, é sinal de que você fez alguma coisa errada, aí você não fala nada.

    — Não necessariamente — protestou Ava. — Então se eu for agredida, vou achar que a culpa é minha mesma? A mim parece maluquice.

    — Entenda dessa maneira: poucas pessoas são inocentes. Esse nosso amigo, por exemplo: se ele não fez nada de mais, por que não conta à gente? Quando duas pessoas brigam, não quer dizer que uma seja má e a outra boa; as duas podem ser más.

    — É, pode ser...

    Observei, fascinada, o vôo de uma gigantesca borboleta de cor predominantemente azul-turqueza e prossegui:

    — Talvez não devêssemos nos meter nisso. Afinal, ele não quer a nossa ajuda.

    — Mas você suspeita dessa mulher, não é?

    — Há alguma coisa tenebrosa nela, disso eu tenho certeza.

    — Você tem alguma idéia do que nós vamos fazer?

    Nisso fomos chamadas pela mãe de Ava.

    — Talvez só possamos agir na cidade — observei. — Aqui dá muito na vista.

 

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    Fomos dormir sem ter tornado a ver aquelas pessoas. Eu e Ava ficamos na mesma barraca — oh, eu tive que aprender como é que se monta uma tenda, Ava e Estela eram craques nisso! Campismo... eis algo que eu precisava conhecer melhor.

    Ava veio deitar comigo, após darmos boa-noite e beijarmos Estela — aliás, uma mãe muito simpática.

    — Tem certeza que você não quer ficar com sua mãe? — perguntei, no fundo preferindo que ela ficasse comigo.

    — Não se preocupe, Eliane. Mamãe é cobra criada. Não quero te deixar sozinha, afinal você é neófita nisso.

    — É... tem razão...

    — E aí? Está gostando?

    — Estou adorando. Nem sei como te agradecer.

    — Mas o que é isso, nós somos ou não somos amigas? Aliás, somos como irmãs.

    —Eu também penso assim, Ava. Minha maninha...

    — Mudando de assunto... e a tal bruxa, o que é que nós vamos fazer?

    — Tenho a impressão de que hoje nós não podemos fazer mais nada.

    — Se aquele medroso confiasse em nós... se nos tivesse dito o que é que a mulher roubou...

    — Ava, eu acho que posso descobrir. Basta segui-lo pela televisão.

    — Quando nós voltarmos, você diz? É uma idéia...

    — Posso tentar com ela e com ele. Pena que vamos ficar três dias aqui ainda...

    — Não há nada que você possa fazer, mesmo aqui?

    — Infelizmente não dá nem para passar mensagens, já que por aqui não existe internet.

    — E se telefonássemos...

    — Ava, nem pensar. Isso aqui é uma tenda. Sua mãe pode perceber...

    Tomei porém uma decisão, quando minha amiga resolveu dormir. Saí da tenda, pensando em dar um giro pela vizinhança. Começava a me achar em local inseguro. Afinal que proteção havia numa barraca? E se aquela mulher resolvesse tentar alguma coisa contra mim, achando que eu podia ser um estorvo em seu caminho? Certo, eu estava viajando um pouco, mas de repente já não me sentia à vontade e desejava voltar para casa.

    Resolvi caminhar um pouco pela noite, calçada de pantufas. Queria testar os meus poderes, ver se eles poderiam me ajudar naquela hora.

    Mas eu não me sentia uma vidente. Não me vinha nenhuma iluminação, nenhuma revelação sobre os perigos que pudessem nos ameaçar.

    Súbito ouvi passos de saltos femininos e senti medo.

    Lá surgiu ela, de uma curva do caminho. Bem mais alta do que eu e com a sua majestade assustadora.

    — O que deseja? — perguntei, mal escondendo o meu terror.

    Ela respondeu gelidamente:

    — Menina, uma coisa é não querer se iniciar; eu poderia deixá-la em paz. Outra coisa, bem diferente, é intrometer-se nos meus negócios. Isto não será saudável para você.

    – Eu me meti... nos seus negócios?

    — Está perigosamente perto disso. Você e sua amiguinha tiveram muita conversa com aquele sujeito.

    — Ele estava ferido e tivemos de socorrê-lo.

    — Somente isso?

    — Nem sabemos o que você tomou dele — atirei com audácia, para ver se pescava alguma coisa. — Ele não quis nos dizer!

    — Isso não é da conta de vocês. Se insistirem, poderão morrer.

- Deixe a minha amiga fora disso — falei, indignada. — Ela não tem poder nenhum, só eu.

    — Então não a arraste para aventuras temerárias. Por que não aceita o meu convite? Estará mais segura como minha aliada do que como minha inimiga.

    — Não servirei ao demônio, se é isso que você espera de mim.

    — Acha mesmo que é isso?

    Não respondi. Ela tinha toda a pinta de satanista; fiquei então na minha, esperando poder descobrir mais coisas. Ela então olhou-me entre irada e sarcástica e tomou uma decisão:

    — Está bem. Vou embora. Não costumo dar três avisos, portanto espero não encontrá-la de novo.

    — Como eu poderia imaginar... que a encontraria aqui no parque?

    — As coisas não acontecem por simples coincidência — e assim dizendo ela virou as costas e sumiu-se na escuridão.

    E eu fiquei por alguns instantes ali estática, até ter a certeza da sua ausência.

 

(O que acontecerá depois desse encontro assustador com a bruxa? Porém, após a volta ao Rio de Janeiro, outro reencontro desagradável irá ocorrer na vida de Elaine: seu ex-namorado Raul irá reaparecer.

Em breve nesta escrivaninha:

CAPÍTULO 9

FATÍDICO REENCONTRO)

 

imagem freepik 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 10/04/2025
Código do texto: T8306669
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