A Revolução dos Bichas - Rafferty Orwell

Discussão na fila da pipoca desencadeou vaias e expulsão de espectadora; mulher estava acompanhada da filha e deu sua própria versão dos fatos em um boletim de ocorrência

Na noite da última quarta-feira (26/03), uma discussão na fila da pipoca do Teatro Renault, em São Paulo, tomou grandes proporções e repercutiu amplamente nas redes sociais. O incidente envolveu a influenciadora trans Malévola Alves e uma espectadora identificada como Viviane Milane, que assistiria ao musical Wicked com sua filha de 10 anos.

O conflito teve início quando Malévola solicitou a nota fiscal de sua pipoca e foi informada de que os comprovantes ficavam arquivados na pipocaria. Durante a discussão com a atendente, uma mulher na fila pediu que a influenciadora se apressasse, pois o espetáculo estava prestes a começar. A situação se agravou quando Malévola ouviu de seu parceiro e de uma fã que a mulher havia feito um comentário transfóbico: “Isso é um homem ou uma mulher?”. A influenciadora, então, confrontou a espectadora e, acompanhada de um advogado presente no local, argumentou que transfobia é crime e exigiu que a mulher deixasse o teatro.

A discussão se estendeu até a plateia, onde parte do público vaiou a mulher. Após uma conversa com representantes do teatro, ela saiu da sala com sua filha chorando. O diretor do Ateliê de Cultura, Carlos Cavalcante, subiu ao palco e declarou: “Transfobia em Wicked não dá!”. A atriz Fabi Bang, que interpreta Glinda, fez referências ao ocorrido durante duas cenas da peça e posteriormente publicou um vídeo chamando Viviane de “agressora”. O vídeo viralizou e gerou grande repercussão na mídia e nas redes sociais.

Viviane Milane, que inicialmente permaneceu em silêncio, depois se pronunciou afirmando ser “vítima de uma injustiça” e que busca reparação. Segundo ela, a confusão começou quando Viviane viu uma movimentação no caixa e pediu em voz alta que a situação se resolvesse rápido para evitar atrasos para o espetáculo. Segundo ela, algumas pessoas afirmaram que alguém havia furado a fila. Em seguida, fez a pergunta: “Era um homem ou uma mulher que estava na fila?”, sem intenção ofensiva. Ao ser acusada de transfobia, Viviane preferiu seguir para a plateia, mas foi vaiada pelo público e convidada pela produção a se retirar, com a promessa de ingressos para uma sessão futura.

Ainda no saguão do teatro, Viviane foi abordada por policiais que perguntaram se Malévola gostaria de registrar um boletim de ocorrência, mas a influenciadora recusou. Viviane, porém, decidiu formalizar a queixa no local, alegando que queria resguardar seus direitos e os de sua filha.

A repercussão seguiu nos dias seguintes. Viviane afirmou que sua filha ficou com medo de ir à escola e que sente ter sido injustiçada. Também criticou a postura de Fabi Bang e da produção do musical, alegando que foram responsáveis por incitar o público contra ela e sua filha. A influenciadora não voltou a comentar o caso, mas o debate segue intenso nas redes sociais, com opiniões divididas.

A produção de Wicked Brasil publicou uma nota oficial nas redes sociais logo após o ocorrido, mas não respondeu diretamente às críticas de Viviane.

Ogs.: Transfobia não é crime. Homofobia é.