Queridos amigos leitores,

Postarei por etapas. Começarei com três capítulos. 

Espero que gostem como minha leitora beta gostou. 

Desejo a todos boa leitura. 

Sibeli Figueiredo.

29/03/2025

 

Fran

 

  Estamos, um grupo de colegas professores, num karaokê em Los Angeles. É nossa reunião de 50 anos de formados. Dos 50 que se formaram somos 30 agora. O nosso grupo é ainda unido. Esse bando de setentões, cabelos brancos, em geral curtos, homens carecas, corpos envelhecidos, se levantam e pulam como os jovens que um dia fomos. Aqui era nosso ponto de descansar, desestressar das aulas corridas e trabalhos que nunca acabavam.

  Começa o karaokê. Eddie se levanta e grita:

   _Maureen vem.

   E lá se vão os dois mais desafinados dos nossos colegas. Mas vibramos com eles. Amigos são pra essas coisas. Vibrar com os amigos!

   Mas, por Deus!!! Eles cantam muito mal!

   Depois de uma dezena de músicas anunciam que a próxima música é Endless Love. Edoardo me olha e levanta, com a mão na minha direção. Eu a tímida e, todos pensam, sem sal, estico a mão para ele e vamos. Ele e eu já cantamos muito essa música. Não chegamos aos pés dos cantores originais da música, mas, com certeza, damos o nosso melhor.

   Nos colocamos um na frente do outro, cada um com seu microfone, nós nos olhamos e pedimos o play. E começamos. A voz está um pouco alterada pelo vinho que tomamos, mas está boa. Como antes fazemos nosso teatro, um casal apaixonado. A esposa dele adora e ri feliz. Aplaude cada vez que ele canta.

   Ao nos aproximarmos do final quase peço para parar, lembrei do meu falecido marido. Edoardo entende, me abraça pela cintura e encosta a testa na minha. E, felizes cantamos até o final. A esposa dele sobe ao palco e nos abraça muito. E pede bis. Nossos colegas se unem a ela e somos obrigados pelo público todo a dar o bis.

   _Amei!! Vocês dois deveriam ser cantores.

   Diz Constance, esposa de Edoardo. Rindo respondo:

   _Eu não daria certo nesse mundo. Muito glamour. E, como dizem meus colegas aqui presentes, sem sal.

   _Vocês são cegos! Só pode ser. Essa mulher é incrível. Muitas mulheres que conheço dariam um bom dinheiro para ser como ela. E você canta muito bem, Fran.

   Um colega, Amális, se levanta e fala:

   _Já assistiram a Fran cantando e dançando? Não né? Pois eu vi várias vezes. Ela e o marido davam um show. Sem sal são vocês que não entendem a pessoa ser introspectiva.

   Estou descendo do palco e uma mão surge para me ajudar. Acho que é um dos colegas e me assusto quando olho o dono da mão. Ele sorri e me ajuda a descer o resto dos degraus.

   _Uma boa interpretação dessa música emblemática. Sua amiga tem razão, você canta muito bem.

   Fala e não solta minha mão.

   _Faria um dueto comigo?

   Se tinha algum álcool em meu corpo se dissipou nesta fala. Digo, até baixo:

   _Eu!?

   Ele sorri e diz:

   _Sim. Hoje ainda, aqui nesse palco. A mesma música.

   _Estou sem saber o que responder. Uma coisa é cantar com meu amigo desafinado. Mas outra, completamente diferente, é cantar com um cantor.

   _Aceite, por favor. Quero ver como ficam nossas vozes juntas. Ou seu marido se importa? Posso falar com ele se for preciso. Ouvi aquele homem falar do seu marido.

   _Não. Ele não se importa. Meu marido já faleceu. E não se importaria. Ele gostava quando eu cantava.

   Um colega chega perto, preocupado com a conversa. Acho que ninguém o reconheceu.

   _Amiga, tudo bem?

   _Sim, O’Brien, está tudo bem. É uma conversa amigável e distinta.

   _Perguntei por que ele não largou sua mão.

   Só então nos demos conta das nossas mãos.

   _Obrigada por me ajudar a descer as escadas, três inacessíveis degraus. Sim.

   Ele me olha e entende o sim. Sorri e me indica a sua mesa. Vou com ele. Meus colegas não entendem nada. Faço sinal para Constance que tá tudo bem. Ela entende que é uma paquera. Ainda se usa essa palavra? Mas não é. Depois explicarei para ela, para todos.

 

Na mesa

 

   Ele pede uma bebida forte e eu um martini com cereja.

   _Você é bem uma dama. Até na bebida. Um amigo estava aqui e viu você e seu amigo cantando. Gravou um vídeo e me enviou com a seguinte legenda: “Eles são melhores que você!”, em seguida gargalhadas.

   _Imagino o quanto ele riu e você também. Edoardo é bem desafinado. Mas desde a faculdade gostava de cantar comigo.

   _Com certeza eu ri. No início do vídeo, que meu amigo enviou, só ele cantava. Então você entrou, mudou tudo. Me vi levantando, chamei o motorista e vim pra cá. Cheguei e vocês davam o bis.

   _Pobre do seu amigo. Uma vez já é demais. Imagine nos aturar duas vezes.

   Ele sorriu largo.

   _Eu ouvi quase toda a segunda vez e me encantei. Por isso te pedi para cantar comigo.

   _Eu canto por diversão. Você é profissional. Tem certeza de que quer isso? No meu país dizemos “pagar mico”, que quer dizer passar vergonha.

   _No seu país!? Não é americana? Será um prazer passar vergonha cantando com você.

   _Ok. Passaremos vergonha junto. Não sou americana.

   Ele me olha com a expressão séria, parece tentar lembrar de mim. Só espero que não lembre. Foi há 50 anos que nós nos vimos pela primeira vez.

   _Tenho a impressão de a conhecer. Não lembro de onde. Algo em seu olhar me diz isso. E agora ficou com ondas de raiva. Aconteceu algo que não foi bom. Não consigo lembrar.

   Estou irada mesmo, mas não quero demonstrar, Edoardo e Constance nos vigiam, eles sempre estiveram ao meu lado e sabem de tudo.

   _Não tente. Pense que nos conhecemos agora e vamos cantar juntos, só que de novo. Esqueça que quer lembrar quem sou. Será melhor assim.

   Ele sorri. Parece lembrar algo.

   _Eu, no início da carreira vinha muito aqui, para desestressar. O karaokê é diferente de cantar profissionalmente. Era tão relaxante! Quase sempre eu via um grupo de jovens aqui, estudantes, fazendo o mesmo. Eu não era tão conhecido e me misturava com eles. Era ótimo!!

   Ele para de falar, abaixa a cabeça, parece estar concentrando para lembrar.

   _Tinha uma garota, de voz muito boa, que trabalhada daria uma boa cantora. Mas ela queria só ser professora de uma matéria difícil. Não lembro o que era. Determinada, forte, simples, furiosa quando queria, apaixonada pela vida e o curso que fazia. Ela era apaixonante. Caí de paixão por ela. Foram quatro meses incríveis que vivemos juntos, mesmo com todas as apresentações que tinha que fazer. Um dia ela veio, muito centrada e preocupada, me dizer que engravidou.

   Ele levanta os olhos e me olha profundamente.

   _Você me lembrou dela. Não a esqueci, mas o nome dela mesmo eu não lembro. Só lembro do apelido que dei a ela: Lis, por causa da flor de lis que ela amava. Fui horrendo com ela! Mandei literalmente ela tirar o bebê. Ela me deu um tapa espetacular no rosto, ouço o barulho até hoje.

   Ele diz e passa a mão no rosto, no lugar do tapa.

   _Disse: “O corpo é meu. Pensarei a respeito.” Nunca mais a vi. Sabia onde procurar. Sabia onde morava, onde estudava, mas a gravidez dela podia ser a ruina da minha carreira. Não sei por que estou te contando isso!

   Minha voz estava embargada e eu não sabia se podia falar. Tinha lágrimas nos olhos. Não era da história que ele contou, mas da raiva que passei naquela época. Ele não vai lembrar e isso é ótimo. Sofri demais pela rejeição dele. Não por mim apenas, mas pelo bebê. A Lis está na frente dele e ele não percebeu.

   _Talvez por minha voz ter te relembrado do momento. Ainda quer cantar comigo? Pode ser um espiral de dor para você.

   _Quero. Mesmo que seja esse espiral que você falou será bom.

   _Ok. Podemos cantar logo? Eu tenho que ir embora. Tenho compromissos logo cedo amanhã.

   _Compromissos?! Desculpa, eu nem perguntei o que faz aqui. Além de estar reunida com amigos.

   _Estamos comemorando 50 anos de formados. Comemoramos todos os anos. Sempre unidos como na época da universidade. Esse ano é especial, meio século de formados.

   Ele passa os olhos nos meus amigos. Sorri.

   _Nunca fiz faculdade, fui logo pra música e abandonei os estudos. Vocês são formados em que?

   Eu sorri largo. Feliz mesmo.

   _Somos físicos, matemáticos, químicos, médicos, psicólogos, especialistas em tecnologia e IA, professores, antropólogos, historiadores, geógrafos, cientistas. Todos com doutorado, alguns com mestrado e MBA.

   _Caramba!! Cada um em uma especialização. Achei que todos eram da mesma área. Então ali, naquelas mesas, farreando, estão doutores?

   Vira pra mim e fala surpreso:

   _Eu estou conversando com uma doutora?

   _Sim. Hoje só uma formanda comemorando os 50 anos de formatura.

   _50 anos! É muito tempo. Já aposentou?

   _Não consegui. Sempre que penso nisso sou requisitada por uma universidade. Bom, podemos cantar? Amanhã cedo tenho um compromisso.

   _Podemos. Vou pedir ao anfitrião. Você o conhece?

   _Conheço, há 54 anos. Felix é ótimo e sempre nos aturou aqui cantando.

 

   Enquanto ele chama Felix e pede a música eu relembro nossos momentos juntos. Então sei que irei chorar e volto a pensar no agora. Olho para meus amigos, eles estão perto de nós e falo:

   _Edoardo, vou te trocar por ele só uma vez, ok?

   Ele ri pra mim e diz:

   _Só dessa vez ou fico de mal com você. Cante lindo, minha amiga. Solte essa voz e arrase!

   Felix vai ao placo e anuncia que terá dois cantores, de verdade agora, para cantar Endless Love. E nos chama com a mão.

   Subimos ao palco, de costas só quem nos conhece sabe quem somos. O amigo dele se levanta e me pergunta com gestos se pode gravar. Assinto e digo que quero a gravação. Meus amigos também vão filmar. Estão amando esse momento.

   Quando soam os primeiros acordes e ele começa a cantar eu volto no tempo. Ele me olha fixamente, nós nos olhamos. Ele canta a primeira parte, então eu começo a cantar, como sempre cantei com ele. Ele se surpreende e entre sorrisos continuamos a cantar. Em determinado momento ele pega minha mão e leva ao coração, como fazíamos quando estávamos juntos. As mãos juntas trocam energia. Isso não pode acontecer. Vou retirar minha mão e ele a firma forte. Com o olhar diz não. Meu coração acelera. Ele não pode lembrar. Não pode!!

   Continuamos cantando, sem errar, sem sair do compasso, do ritmo, usando na voz o sentimento que a letra e melodia passam. O olhar muda de só fixar para comtemplar. Tão como era antes.

   Estamos quase no fim da música e ele me faz ficar bem perto, passa a mão na minha cintura, canta bem perto de mim, o que me obriga o olhar bem de perto e cantar quase no rosto dele, como ele no meu. Os olhares estão embevecidos e embargados de sentimento. Eu preciso mudar isso. Não sou a mesma jovem boba e idiota que caiu na dele. Mas a energia entre nós ainda é intensa.

   Quando chegamos na parte: my Endless love, o olhar dele transborda o sentimento falado. Percebo que ele está lembrando. Me afasto dele, faz parte da coreografia antiga entre nós dois, e canto um pouco distante. Nunca cantamos essa música juntos, ela foi composta muitos anos depois da nossa separação.

   No som repetitivo, que faz parte da música, ficamos nos olhando fixamente. O olhar dele brilha. E continuamos a música. No último verso, de novo, my Endless love, ele sorri ao terminar e me abraça forte. Não diz nada. Agradecemos ao público as palmas e somos ovacionados, lógico pelos meus amigos, todos de pé.

   _Bravo!!

   _Como eram antes!

   _VIVA!!

 

Descobrindo quem sou

 

   O amigo dele vem ao palco e me ajuda a descer. É o Brian! Será que lembrou de mim? Muitas mulheres estavam falando com o cantor.

   _Que saudades de ouvir sua voz junto a dele. Acho que só os dois conseguiram nos transmitir o que a letra diz, apesar dela a ter sido feita para outra pessoa. Vocês, amiga, transbordaram o sentimento da música. Lis, é tão bom te ver de novo.

   _Obrigada, Brian. É bom te rever amigo.

   Senti uma presença nas minhas costas e a voz entrecortada:

   _Lis!? Você disse Lis?

   Brian fica sem jeito. Eu digo que tudo bem, já ferrou tudo mesmo.

   _Disse! Só você, cabeça dura que é, não entendeu por que te enviei o vídeo dela cantando. Idiota! Vem Lis, tome uma bebida comigo. Um martini rosé com cerejas, certo?

   _Correto, Brian.

   Meus amigos se aproximam e me cumprimentam em algazarra. Rimos muito e alguns vão até a mesa de Brian comigo. Ao sentar o vejo me olhando sério. Parece não compreender como ele não lembrou de mim. Sorrio triste e volto minha atenção aos amigos. Minha bebida chega e brindamos a nos rever. Brian está feliz, fala muito.

   Depois de atender alguns fãs ele vem até a mesa. Não retirou os olhos de mim em momento algum.

   _Posso falar com você um instante. Eu a devolvo para vocês. É só um minuto.

   Olho meus amigos e falo:

   _Estarei bem e logo ali.

 

   Andamos de volta a mesa dele. Ele me ajuda a sentar. Senta a minha frente e me encara firme. O olhar está difícil de ler.

   _Por que não me contou quem era?

   _Para não mexer no passado. Doeu muito na época, por que reviver, não é mesmo?

   _Eu não sei se devo, ou se responderá a minha pergunta, mas sempre quis saber.

   Fica nisso e me olhando. Esfrega as mãos. Limpa os lábios, toma um gole da bebida.

   _Você quem sabe se quer mexer com isso.

   _Eu preciso. Você não sabe quantas noites não dormi, pensando no que fiz. No que te falei, te impus. Eu não tinha o direito de negar e de te impor fazer aquilo. O quanto me condenei. Depois eu fui pai. Aí meu coração doeu mais. Lis, eu não tive coragem de te procurar naquela época. Fui um covarde de merda, mesmo sabendo que te magoei profundamente.

   Seus olhos estão inundados de lágrimas que ele segura. Eu falo:

   _Não me encontraria. Eu me formei uma semana depois. Mesmo triste e inconformada com você, eu comemorei muito a minha conquista. Anos de estudo, sacrifícios diversos, noites sem dormir, milhões de livros para ler, aulas para dar, enfim um mundo diferente do que você viveu. Fui para o México com Edoardo e Constance. Quando me centrei mais, voltei para o meu país. Deixei um excelente emprego na universidade, o reitor não entendeu minha decisão até que lhe contei o que aconteceu. Sem citar nomes. E fui viver minha vida em terras conhecidas. Retornei uma vez por ano, nessa época, para este karaokê, com meus amigos, para comemorarmos a nossa formatura. Afinal vencemos uma etapa incrível de nossas vidas. E comemorarmos outras conquistas nossas. 

   _Eu posso perguntar?

   _Pode. Mas saiba que respondo se quiser.

   _Continua pimenta como antes.

   _Sou dona da minha vida, você sabe disso. Como sempre fui. Isso colocado o que quer saber?

   _Você tirou?

   Eu o olho profundamente e sei que não direi o que ele quer saber.

   _50 anos depois isso importa? Se fiz ou não o tempo passou.

   Eu dou um sorriso triste. Bebo um gole de martini, preciso de coragem agora.

   _Se fiz, só eu sofri. Se não fiz, só eu sofri também. Então lhe digo para não se preocupar com essa parte da minha vida. Ela não faz parte da sua. Foi um... como você disse mesmo? Ah, lembrei, você me disse: “Isso foi um deslize meu. Não quero isso na minha vida.”

    Respiro fundo. Dói como doeu no dia. 50 anos e ainda dói.

   _O tapa que dei em você doeu um milionésimo do que senti. Então fique com seus ses e esteja satisfeito.

   _Lis, eu tenho o direito de saber. Por tudo o que você considera sagrado me diz. Por favor!!

   Olho este homem consagrado no mundo todo. Me implorando para dizer se eu abortei o filho que fizemos juntos, quando achei que nos amávamos. Vou responder quando uma voz que não devia estar aqui me chama. Ele vai atrapalhar tudo.

   _Mãe.

   O que Leandro faz aqui? Olho para ele e peço, com a mão, que me espere. Devon segue meu olhar e o vê. Então ouço ao lado do meu filho outra voz. No caso duas.

   _Vó!

   _Vovô!

  

   Deus!! Não podia ser pior. Ele me olha e sorri. Vira para o neto e ia responder quando este me olha e sorrindo fala:

   _Dra. Michaelis!? Nossa, que prazer vê-la de novo. Não sabia que conhecia meu avô.

   _Sr. Clance. Não sabia que era seu avô.

   Devon está só vendo a interação. Devon é o nome dele, apesar de eu não ter dito uma única vez o nome dele. Olha de um para o outro. De vez em quando para meus filho e neto. Pergunta:

   _De onde vocês se conhecem? Ou já se viram?

   _Da universidade, vovô. Ela será professora por um semestre. Será muito bom aprender com ela. É uma doutora e professora muito conceituada no mundo acadêmico.

   Droga eu não queria que ele soubesse. Então ouço de novo.

   _Mãe! Vim te buscar e ver se está bem. Você está na internet. Um vídeo de vocês cantando com milhares de curtidas em alguns minutos.

   _Oi filho. Brian, um amigo comum nosso, nos gravou e meus amigos também. Pela voz. Não sabia que postariam.

   _Não vai me apresentar ao seu amigo?

   _Um conhecido de 50 anos, filho. Cantamos juntos outras vezes aqui no karaokê.

   Respira Fran, respira, falo para mim.

   _Filho, este é, como você sabe, Devon Clance.

   Olho para o cantor conhecido do mundo, vejo o homem que amei e com ele fiz um filho, que ele não quis. Digo a contragosto.

   _Sr. Clance, este é meu filho Leandro Rocha Michaelis. Meu primogênito.

   Ele se levanta e aperta a mão do meu filho. Meu coração dói nesse momento, dispara e eu tremo. Pai e filho se conhecem. Meus amigos só me olham. Temendo minha reação. Eles sabem de tudo.

   _É um prazer o conhecer pessoalmente, Sr. Clance. Mamãe nunca disse que o conhecia.

   _É um prazer, Leandro. Ela é uma pessoa reservada e introspectiva, não fala muito das pessoas conhecidas do mundo, personalidades, que ela conhece. Sei como ela é. Apesar de ter 50 anos que não a via. Quando jovens cantávamos aqui nesse karaokê e algumas vezes pedi para cantar com ela.

   _Mamãe canta bem. Sempre é muito bom ouvi-la cantar. Mas temos que ir. Mamãe tem compromisso cedo.

   Meu filho todo carinhoso, como sempre foi, vem me ajudar a levantar. Me abraça forte, nesse abraço sei que teve alguma compreensão de algo não falado aqui. Eles se parecem muito, demais. Beija minha testa e abraça de novo. Pega minha bolsa e casaco.

   _Adeus, Sr. Clance. Foi um prazer conhecê-lo. Vamos, mamãe, dizer até logo aos tios.

   _Adeus, Clance. Foi um prazer cantar de novo com você, mesmo você não sabendo quem eu era.

   _Até outro dia, Lis. Sua resposta veio de forma surpreendente. Obrigado por não aceitar o que... pedi. Com certeza nós nos veremos de novo.

   Leandro nos olha sem entender nada. Ele me chamou de Lis. Eu aceno com a cabeça e sigo em direção aos meus amigos que já estão de saída também. Todos fazem festa com Leandro, afinal o conhecem desde a barriga. Meu filho não teve pai, mas teve muitos tios. Todos o amam.

 

   Sigo para minha casa aqui com os pensamentos em ebulição. Deus, era para ser só nossa comemoração como todo ano. Mas fazer o que, não é mesmo?

 

Sibeli Figueiredo 

29/03/2025

Sibeli Figueiredo
Enviado por Sibeli Figueiredo em 29/03/2025
Reeditado em 29/03/2025
Código do texto: T8296758
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