O CLUBE DA LULUZINHA, capítulo 1: O dálmata

 

Aviso: a Introdução (Jornada tenebrosa) saiu dia 15, confiram aqui:

https://www.recantodasletras.com.br/novelas/8219782

"O Clube da Luluzinha" é a Parte 1 das novela dupla "Tempo de caçadoras"

 

Esta novela é a continuação direta de "O fantasma do apito", que recentemente saiu em capítulos (folhetim) neste espaço. A série da Liga Mundial se passa num mundo paralelo ao nosso, num século 21 retrô, onde há menos tecnologia do que em nosso mundo real.

Na introdução vimos como, após o desaparecimento do Conde Haroldo Bruxelas, a Detetive Irina consegue convencer as três garotas (Andréia, Carol e Fátima) a irem com ela numa jornada através do país para caçarem o vilão, pois as quatro estão ameaçadas de morte. Elas agora estão numa carruagem, viajando pelo interior de São Paulo. A presença de Fátima é necessária para com seu caleidoscópio localizar o Conde.

 

 

CAPÍTULO 1

 

 

                            O  DÁLMATA

 

 

     Eram cinco horas de uma madrugada escura e fria quando a carruagem estacionou na estação de Palomino, em plena Serra da Mantiqueira, no meio de uma desoladora cerração.

     O sacolejão da parada despertou Carol e Andréia. Fátima acordou logo em seguida e fitou Irina, como por instinto. A detetive estava recostada nos travesseiros, mas acordadíssima. A estranheza que Fátima sentia por aquela mulher aumentou mais um pouco. Mas já a voz roufenha do carruageiro veio distraí-la daquele devaneio:

     — Meia hora para o café da manhã! Procurem ser rápidas!

    — Pombas, café às cinco horas... — resmungou Carol, aborrecida. — Em meia hora nem vou conseguir acordar direito!

    — Coragem, amiga — animou Andréia. — Vamos lá, porque sem a sua presença o café não terá graça!

     A menina riu.

     — Estou é precisando de um banho... quando é que vou poder tomar um?

     — Só quando chegarmos em Lucasville — definiu Irina. — Como já expliquei, temos quartos reservados por lá.

     Fátima pegou o caleidoscópio e pôs-se a examiná-lo.

     Desta vez, porém, ela ficou surpresa. Só viu manchas pretas sobre um fundo branco.

     — O que é que essa bodega está mostrando? — indagou, perplexa.

     — O que é dessa vez? — indagou Irina, fitando a garota.

     Fátima deu um sorriso amarelo, embaraçada.

       — Oh, nada não, Irina. Acho que o mecanismo desarranjou... depois eu dou um jeito, já aconteceu antes.

     E tornou a guardar o caleidoscópio.

     — Veja lá... — tornou Irina. — Esse objeto é a nossa segurança.

     — Tá, não se preocupe.

     Andréia deu alguns passos, espreguiçando-se no frio da madrugada. Aproximou-se então do piso do bar ao ar livre, e enxergou na vitrina alguns pratos apetitosos, desde curau até empadões de queijo. Pediu um desses últimos e um suco de uva. Foi a primeira a ser atendida, pois as outras haviam parado perto da banca de jornais, onde estavam estampadas inquietadoras notícias sobre a crise na Rússia.

     Andréia, pois, estava ainda sozinha quando sentou para lanchar, mas quando ia cortar o empadão deparou com uma cara branca olhando-a por cima da mesa.

     — O que você quer?

     O cachorro dálmata choramingou e esticou as orelhas, super-interessado. Andréia jogou-lhe uma fatia do empadão, que ele imediatamente papou. Mais animado, deu a volta à mesa e sentou junto da garota, em famélica expectativa.

     — Mamãe não gosta de cachorro junto da mesa – observou ela às companheiras que chegavam. — Ela diz que eles tiram a nossa “substância”.

     Fátima afagou o bicho que, mesmo meio sujo, não estava excessivamente magro.

     “É estranho. Pelo jeito foi esse bicho que me apareceu no caleidoscópio. Ora, mas que importância ele pode ter? Eu quero saber de outras coisas!”

     — Já vi que vou ter que comer menos — lastimou-se Andréia, lançando outro pedaço para o cão.

     — Quem é ele? — indagou Carol para a garçonete. — É de vocês aqui?

     — Oh, não. Ele é de todos e não é de ninguém. Já tentaram escorraçá-lo e ele sempre volta.

     — Que houve com ele? Está abandonado então?

     — É — a garota estava meio impaciente. — Uns bacanas o jogaram do carro, não queriam mais ele porque a dondoca  ficou grávida. A gente chama ele de Malhado, às vezes ele é um saco.

     — Que maldade! — exclamou Andréia, indignada. — Abandonar um bichinho lindo e meigo como esse!

     Irina sorveu um gole de licor de ameixa e observou, impassível, as atenções que as três garotas davam ao animal, que se mostrava cada vez mais animado, abanando a cauda. Carol pôs-se a comer uma torta de guabijá e diminuiu a atenção para com o bicho, mas Fátima e Andréia prosseguiram dividindo seus quinhões. E o Malhado demonstrando grande apetite.

     — Benza Deus! — observou Andréia, feliz por alimentar um animal.

     — Ele é bonito — admitiu Irina. — Como esses tordilhos da carruagem também...

     O carruageiro retornou de outra mesa, onde traçara um bife de chapa feito na hora e acompanhado de malsibier, e dirigiu-se a elas:

        — O rádio anunciou que uma tempestade muito forte está se aproximando. Vamos nos apressar.

      — Vamos terminar nosso café da manhã normalmente — respondeu Irina, pouco disposta a receber ordens.

      O homem deu de ombros e se dirigiu à carruagem, subindo para o seu posto, onde ficou examinando criticamente o céu que pouco a pouco clareava.

     Irina colocou uma bala de mel na boca

     — É melhor a gente ir. Temos um longo caminho pela frente, até Lucasville...

     Andréia silenciara estranhamente. Elas pagaram a conta e Carol, erguendo-se, comentou:

     — Papai e mamãe... foi um Deus-nos-acuda a última vez que falei com eles. Estão achando que eu sou gay, porque só ando com mulheres...

     — Faz tempo — opinou Fátima — as gerações não conseguem mais se entender. Porque vocês acham que estudantes como nós preferem ficar na faculdade mesmo durante as férias?

     Andréia olhou para trás. O Malhado deu um latido comedido e olhou expressivamente para ela. A jovem negra abaixou-se e pôs-se a afagar o dálmata. Despediu-se dele e seguiu andando.

     O cachorro foi atrás dela.

     — Cuidado! Ele vai querer entrar aqui! — avisou Irina, já dentro do veículo.

     Andréia olhou-o. O bicho choramingava, então ergueu as patas dianteiras encostando-as nas pernas da garota.

     — Ele sempre está atrás de alguém que queira adotá-lo — disse um dos empregados da cantina, passando perto.

     Os olhos de Andréia já se encontravam marejados de lágrimas. Ela tomou uma decisão:

     — Vamos levá-lo.

    — Está doida, não está, Andréia?

     Andréia já se abraçava ao animalzinho e respondeu a Irina com firmeza:

     — É uma crueldade deixar esse bichinho aqui ao relento, ainda mais que vem aí uma tempestade. Ele vai comigo!

     Irina saltou da carruagem.

     — Eu também gosto de bichos, mas francamente não é hora para isso, moça. Nós temos as nossas obrigações... — hesitou, pois não podia falar muito na frente de estranhos — e ele vai nos atrapalhar. E pode ter pulgas, carrapatos...

     — Se tiver eu cato ele.

     — Ai, que nojo — ironizou Carol.

     Irina insistiu:

     — Andréia, eu não estou brincando.

     A garota cruzou os braços:

    — Eu também não estou, Irina.

     Andréia era uma gaúcha muito guapa e não estava disposta a se deixar dominar. O Labrego, porém, gritou do alto da carruagem:

     — Vamos entrar! Temos que ir embora! E animal tem que pagar passagem!

     — Eu pago — respondeu Andréia. — Quanto é?

     Irina chamou Carol e Fátima à parte.

     — Vocês não podem convencer sua amiga a esquecer esse cachorro?

     — Isso não seria recomendável — esclareceu Carol. — Ela nunca nos perdoará se a forçarmos e isso é uma boa ação.

     — Pílulas, Carol, nós não podemos recolher tudo quanto é bicho abandonado que encontrarmos pela estrada.

     Fátima se pronunciou:

     — Esse a gente deve levar, Irina. Eu o vi no caleidoscópio.

     — O QUE???

     — Na hora em que eu falei que ele estava desarranjado... na verdade eu não soube interpretar a visão. Vi manchas, malhas pretas em fundo branco... era o Malhado que estava para entrar em nossas vidas. Se a visão me mostrou, ele é importante. Vai ser útil pra gente. Nós temos que levá-lo.

     A detetive olhou para a cena comovente da menina abraçando-se ao animal e sentiu-se tocada. Além disso não lhe agradava duvidar de um pressentimento da Fátima. Nos últimos dias as suas próprias visões tinham escasseado, o que a preocupava.

     “Quem diria que a Andréia é tão sensível... ela que é normalmente a mais reservada das três.”

     — Bem, talvez possamos deixá-lo em algum abrigo de animais — suspirou, conformada.

     — Só se me deixarem também no abrigo – objetou Andréia.

     — Traga o bicho e vamos embora de uma vez.

     — Como sempre a Irina tem a última palavra... — sussurrou zombeteiramente Carol para Fátima.         

 

 

(A situação começa a ficar estranha a partir de agora. Acompanhadas pelo dálmata, Irina e as três garotas são apanhadas por uma violenta tempestade e chegam a uma estalagem misteriosa e assustadora.

Confiram a seguir nesta escrivaninha:

CAPÍTULO 2

MUDANÇA DE PLANOS)

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 22/12/2024
Código do texto: T8225104
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