TEXTO TEATRAL: A DANÇA DOS VERBOS

PERSONAGENS EM ORDEM ALFABÉTICA

• Bêbado - O personagem marginalizado, que acredita que o verbo esquecer é o único caminho para a liberdade. Personagem marginalizado, que se refugia no álcool e acredita que esquecer é o único caminho para a paz.

• Dona de Casa - Cidadã simples, sempre correndo para garantir a sobrevivência e o sustento da sua família. Acredita que a força do trabalho é o alicerce da sociedade. Representa a luta pela sobrevivência, e que o verbo esperar é a chave para tudo. Mãe dedicada, mas conflitante, com o verbo ganhar. A mulher que vê o cuidado como o centro de tudo na vida familiar e comunitária. A figura maternal que acredita que o verbo cuidar é o mais importante para o equilíbrio da vida.

• Estudante - Uma jovem que sente a pressão do sistema, mas ainda sonha com um futuro melhor. Idealista e introspectiva, dominada pelo verbo sofrer. Idealista que acredita que o estudo e o aprendizado são essenciais para mudar o mundo. Acredita que o verbo pensar é o único que pode transformar a sociedade. Observa a aceleração da vida e refletindo sobre as consequências desse correr.

• Futebolista - Representante de um mundo apaixonado pelo futebol, onde os verbos jogar e ganhar dentro das competições é o melhor caminho, perder nem se cogita.

• Militar - Agressivo, obcecado pelo verbo matar. A figura autoritária que acredita que a disciplina e a educação rigorosa são fundamentais para a ordem social.

• Pastora - A figura religiosa que acredita que o verbo rezar é o caminho para a salvação. Personagem que defende a fé e o dinheiro como a dupla correta para a salvação. Pessoa com forte crença no poder da política partidária para mudar a realidade. Pessoa de negócios, obcecada pelo sucesso financeiro e pelo poder.

• Professora - Racional e sensível, apaixonada pelos verbos sorrir e ensinar. Defensora do conhecimento e da educação como a chave para uma sociedade melhor.. A defensora da razão e da educação, acreditando que conhecer é o verbo mais importante. Preocupada com a natureza, tentando alertar sobre o desastre iminente.

• Verbo - Representado através do sexo masculino, com o figurino repleto de palavras verbais. Ele é o responsável por todos os personagens, considerado o Mestre daqueles que falam.

RESUMO

Esta obra teatral, intitulada: A DANÇA DOS VERBOS, explora os diferentes significados dos verbos através dos personagens, que possuem motivações e desejos contraditórios. No centro de tudo, o verbo amar emerge como o mais forte, mas outros verbos – como matar, sofrer, ganhar, sorrir, mentir e viver – mostram o impacto das escolhas humanas na construção da identidade e dos relacionamentos. As palavras que os personagens escolhem expressar tornam-se suas ações e definem o curso da história. A sociedade está imersa em um ritmo frenético, correndo atrás de sobrevivência, mas esse correr tem um preço- a destruição do planeta, o sofrimento das pessoas e a perda de valores essenciais. O verbo correr simboliza a busca incessante por algo que parece escapar a cada passo. Em um mundo onde as pessoas e as forças da natureza estão sendo consumidas por essa corrida, os personagens refletem sobre suas escolhas e o impacto desse movimento. Os personagens discutem temas controversos como futebol, religião, política e o valor de seus próprios verbos, acreditando firmemente que suas verdades são as únicas válidas. Cada um desses personagens usa suas palavras com convicção, mas no final, é mostrado que todos os verbos têm seu lugar e merecem respeito. Em um mundo onde cada verbo se torna uma verdadeira ideologia, os personagens entram em confronto feroz, acreditando que seu verbo é a única verdade absoluta. Eles defendem suas crenças com todas as forças. Em um ambiente carregado de tensões, suas brigas expõem as fragilidades humanas e a ilusão de que uma única verdade pode governar todos os aspectos da vida. A busca incessante pela verdade. Mas que verdade é essa que não encontra respaldo em determinadas religiões, dogmas ou crenças? Ao final, cada um dos personagens segue seu destino, ciente de que as palavras não ditas, as que ficam no inconsciente, também carregam seu peso.

ABERTURA

Militar - (Com uma arma) O que move o militar é o verbo matar. Eu sou a mão que comanda a morte. Eu sou a mão que defende. Sou a mão da justiça. Eu sou a mão que decide de quem vive e de quem morre.

Estudante - (Com livros) Eu... eu vivo para aprender, mas também, não sei, não sei, sofro, sofro tanto. Eu sou a mão da justiça? Que justiça você prega? Chega de violência, chega... O verbo sofrer me acompanha. (Gritando) Eu quero paz.

Dona de Casa - (Mexendo sua bolsa) Ganhar... eu preciso ganhar, minha família precisa de mim. É tudo que posso fazer. Do quintal pra sala, da sala pra cozinha, da cozinha pro quarto. Muitos dizem que não trabalho. (Cansada) Eu corro todos os dias, de sol a sol, para garantir o pão de cada dia. Não há tempo para descansar. Se não correr, fico para trás. (Observa os sons dos carros passando. Bate forte na mesa) Nada disso. O verbo cuidar é o mais importante. Sem cuidado, as pessoas não têm base para nada. Eu cuido da minha casa, da minha família, do mundo. E vivo o tempo todo em busca de quem vai cuidar de mim.

Professora - (Rindo para o público) Sorrir... sorrir é o que me mantém de pé. Cada sorriso é uma vitória da vida. (Eles começam a conversar, mas logo se percebe que suas palavras não se conectam, seus verbos estão em conflito) (Levantando a voz, com um livro na mão) O único verbo que importa aqui é ensinar. O conhecimento é a chave para a evolução da humanidade.

A mentira surge da incapacidade de entender o teor de uma leitura.

Estudante - (Interrompendo) Não, pensar é o que importa. Pensar criticamente, questionar tudo. Sem o pensamento, o conhecimento não serve de nada.

Dona de Casa - (Gritando) Pensar? O que adianta pensar se você não pode viver? O verbo esperar é o único que mantém todos vivos. É o que faz o mundo girar. Mas, algo a ser dito que a vida depende da compreensão dos outros.

Pastora - Vocês estão todos errados. Rezar é o único verbo que tem poder real. Tudo na vida começa e termina com a oração. É a única maneira de encontrar a verdade e a salvação. Rezar é alcançar Deus.

Bêbado - (Rindo) Deus? O deus do dinheiro, o deus da mentira. É isto. Salvação? Rezar? O verbo mais importante é esquecer. Só assim a gente consegue fugir da dor. Esquecer tudo. Esquecer que bebeu pra noutro dia beber de novo. Muitas vezes meu principal verbo é vomitar.

Futebolista - (Gesticulando) Vocês não entendem. O verbo jogar e o verbo ganhar são os únicos que movem o mundo. Futebol é mais do que esporte, é uma religião para milhões. Só quem joga sabe o que é paixão. A paixão com respeito, torcer me dá força. A força de poder ganhar, vencer, vencer..

Pastora - (Interrompendo) Vencer, em parte até que concordo, mas o verbo rezar é o único que traz salvação. (Pregando) Irmãos pecadores, é chegada a hora. Aceitem o Salvador em seus corações. As igrejas estão cheias, não por causa do futebol, mas pela fé, meu nobre atleta. O que é o futebol sem oração? Aliás, a fé move montanhas.

Bêbado - Se a montanha não vem a mim, eu vou subir a montanha, mesmo de cabeça cheia de cachaça. (O grupo começa a cantar uma música sobre cachaça)

Todos -

Cachaça é pra beber

Pra beber, se embriagar

Cachaça pra conceber

Na farra pra se entregar

Bêbado vai perceber

O quanto é bom saber

Seus verbos vão chamegar.

Estudante - (Indignada) O que vocês cantam não tem base científica. O verbo estudar é a única forma de realmente entender o mundo e de transformá-lo.

Dona de Casa - (Calma) Mas e o verbo cuidar? Sem cuidado, não há sociedade, nem futuro. Cuidar é o alicerce de tudo, sem isso, todos os outros verbos perdem sentido. Reflitam sobre o que uma simples mulher fala.

Pastora - (Decidida) Nada disso. O verbo manipular é o único que pode organizar tudo. Sem manipulação, o caos toma conta.

SEGUNDA CENA - CONFLITOS

Militar- (Falando sozinho) O que é mais forte? O amor pela pátria ou o desejo de destruir? O que é mais puro? Matar... ou amar? (Um momento de silêncio, ele parece hesitar, mas logo se prepara para agir)

Dona de Casa - (Gritando) Você acha que pensar vai pagar minhas contas? Eu tenho que dá duro, tenho que viver do meu trabalho, eu sou quem alimenta as pessoas.

Estudante - (Irritada) E a senhora acha que ser dona de casa vai salvar o mundo? O que você se coloca não faz sentido. Pense um pouco no que fala.

Professora - (Com firmeza) A educação e o verbo ensinar são fundamentais para construir uma sociedade justa. Se não ensinar as gerações a pensar, o futuro será uma farsa.

Estudante - (Revoltada) Nada disso. O verbo educar é mais importante. Educação não é só conhecimento, é vida, é disciplina.

Dona de Casa - (Intervindo) Mas sem o verbo cuidar, a educação vira um vazio. Você pode ser disciplinado, mas se não tiver carinho e cuidado, nada vai funcionar.

Futebolista - (De forma sarcástica) Disciplinar? Cuidar? O que importa é jogar. No futebol, as coisas acontecem de forma espontânea, é uma guerra de emoções. Se emocionar é o verbo que transpõe o tempo da bola.

Pastora - (Com serenidade) O verbo rezar é o único que traz paz no meio do caos. Quando tudo parece perdido, a oração é o que nos guia. (Nervosa) Eu corro, eu corro para ser a melhor. Cada segundo perdido é uma chance que alguém pode me ultrapassar. O dinheiro, o poder... isso é o que importa. Eu tenho que correr mais rápido que todo mundo. (Seu telefone toca incessantemente, ela atende sem parar)

TERCEIRA CENA - EMOÇÕES

Estudante - Por que aprendo se nada muda? Sofro a cada palavra, a cada conceito. O sofrimento é o meu verbo, minha vida é isso... é viver em dor. (Sentada no palco, ela começa a chorar, enquanto as palavras de outros personagens ecoam ao fundo)

Professora - (Gritando para o público) O planeta está correndo contra o tempo. O sol está queimando mais, a chuva está cada vez mais forte, e o mar está furioso. A natureza não aguenta mais essa corrida sem sentido. Está tudo indo embora. Pensar sem a base do saber é um erro. A educação, o estudo... Isso sim é o que faz o indivíduo evoluir. Ensinar é a única forma de transformar a sociedade.

Estudante - (Gritando, com o livro na mão) Você está enganada. Não basta ensinar apenas o que está pronto. Precisamos questionar, precisar de uma visão crítica sobre tudo. Pensar é o verbo de nossa geração.

Pastora - (Interrompendo, com autoridade) Mas vocês estão esquecendo o mais importante. Rezar é a verdadeira sabedoria. Sem Deus, todo o conhecimento é vazio.

Bêbado - (Rindo) Tudo isso é bobagem. O que importa é esquecer tudo. Não precisa pensar, estudar ou rezar. Só precisa se largar e esquecer a dor do mundo.

Pastora - (Exaltada) A política é tudo. O verbo governar é o que dá poder para mudar a vida das pessoas. Sem política, a desordem toma conta.

Militar - (Firme) A disciplina é o que mantém o mundo em ordem. Só educar com rigor e autoridade garante a paz.

Estudante - (Levantando a voz) Vocês estão loucos. A política e a ordem não vão salvar ninguém. O verbo estudar é o que nos ensina a ver o mundo com outros olhos, sem manipulação. Disciplina para perder o teor crítico.

Professora - (Gesticulando) A educação é o único caminho para a liberdade. Trocar saberes, trocar experiência São essenciais para quebrar as correntes da ignorância.

QUARTA CENA - DESAFIOS

Dona de Casa - (Olhando para a comida) Ganhar... Eu preciso ganhar. Ganhar a confiança, ganhar a vida, ganhar o futuro para os meus filhos. Não posso falhar.

Professora - (Observando os personagens)) Eles correm para comprar o que não precisam. Correndo em busca de status, de algo que os faça se sentir mais completos. Mas... para onde estão indo? (Os personagens correm de um lado para o outro, pegando itens sem parar)

Dona de Casa - (Com firmeza) Para que todo esse conhecimento, para que toda essa luta? O mundo precisa de cuidado. Cuidar é o verbo que sustenta as famílias, os lares, a humanidade.

Bêbado - (Irônico) Cuidar? O que adianta cuidar se você não tem nada para comer? Cuidar não coloca comida na mesa. O verbo beber é o que faz o mundo girar. A cabeça roda, roda e o esquecimento vem depressa feito um gole de cana.

Professora - (Irritada) Isso é egoísmo. O que você prega não traz verdade, não traz transformação. Só ensinar pode salvar as pessoas da ignorância.

Dona de Casa - (Gritando) Cuidar é mais importante. Sem cuidado, tudo isso cai por terra. Não é só de conhecimento ou dinheiro que a vida se faz.

Futebolista - Vocês não entendem. O verbo jogar é a maior paixão da vida. Sem futebol, o que mais temos?

Pastora - (Tentando sorrir) Sem rezar, a paixão não tem direção. O futebol é apenas um jogo, mas a fé é o que nos dá força para continuar.

Dona de Casa - (Com um olhar sereno) Paixão sem cuidado não é nada. O verbo cuidar é o que faz com que essa paixão tenha um propósito.

Bêbado - (Rindo) Paixão? Esquecer é o que importa, esquecer o sofrimento do mundo, esquecer as falácias. (Os outros personagens trocam olhares confusos enquanto o Futebolista corre para a bola)

QUINTA CENA - CONTROVÉRSIAS

Professora - O verbo sorrir pode parecer simples, mas é ele que nos dá força. Cada sorriso é um antídoto contra o medo, contra a tristeza. Vamos, experimentem. Cada passo é um fardo. Quero parar... mas tenho que continuar, como todos os outros.

Pastora - (Insegura) A única verdade está em rezar. O contato com Deus é o que purifica a alma, é o que nos guia. Sem oração, estamos perdidos.

Estudante - (Rindo sarcasticamente) Rezar? Acreditar em algo sem questionar? Isso é ignorância. O verbo pensar é a chave para a evolução.

Bêbado - (Interrompendo) Embriagar, beber, engolir, provar... Esquecer... é isso que a gente precisa. Esquecer os problemas, esquecer as mentiras. Só esquecer nos liberta.

Pastora - (Pregando) O verbo governar, o verbo rezar, o verbo manipular são bases fundamentais da política. Sem política, não há lei, não há ordem. O que precisamos é fazer pessoas acreditarem naquilo que você fala. Eis aqui a religião.

Militar - (Firme) Sim, isto é importante, mas sem militar, sem disciplina, nada funciona.

Dona de Casa - (Tranquila) E a educação começa em casa, com o verbo cuidar. Quando a base da família não é cuidada, o resto da sociedade desmorona.

Estudante - (Decidida) Não vejo como política e disciplina podem resolver os problemas. O verbo estudar nos dá a chave para entender a verdade.

SEXTA CENA - MUNDOS

Militar - Eu mato por um ideal, por um futuro melhor. Eu sou o poder.

Estudante - Você é a própria morte. Não matarás, já dizia o testamento sagrado. É o sofrimento que molda a alma. Tudo é dor. Na dor você cresce.

Dona de Casa - Eu ganho todos os dias, sou a fortaleza da minha casa. Sem isso, como sobrevivemos?

Professora - (Com serenidade) É a leveza do sorriso que nos faz lecionar sem perdermos a postura.

Dona de Casa - (Exasperada) As ruas não param. O trânsito não para. A vida corre mais rápido do que minhas pernas podem aguentar. A cidade virou uma selva, onde quem corre sobrevive.

Futebolista - (Com raiva) Você acha que cuidar das coisas vai salvar você no fim? A sociedade não te dá nada de graça. Eu jogo tudo que posso, o verbo ganhar é a única chance de sobreviver.

Dona de Casa - (Quase chorando) Você não entende, né? Eu cuido da minha casa, da minha família, de todos ao meu redor. Sem cuidado, nada tem sentido.

Estudante - (Aparecendo entre eles) Ambos estão errados. O que precisamos é pensar diferente, quebrar esses ciclos.

Bêbado - (Com um sorriso triste) Vocês falam demais, mas tudo o que eu vejo é sofrimento. O verbo esquecer é o que liberta. Se ninguém se importasse mais, se a gente esquecesse do que fez.

Professora - (Com calma) Esquecer não resolve nada. O verbo ensinar traz a verdade à tona. Só o conhecimento te faz um ser crítico.

Pastora - (Calmamente) Mas sem fé, o saber não tem propósito. O verbo rezar é o que nos dá o entendimento do que realmente importa.

Militar - Só a disciplina e a ordem podem salvar este mundo.

Dona de Casa - (Intervindo suavemente) Sem cuidar, nenhuma dessas verdades importa. Cuidar é a raiz de todos os nossos destinos.

SÉTIMA CENA - DILEMAS

Militar - (Olhando para o inimigo) Eu posso matar. Mas será que posso amar? O que realmente me guia? O verbo matar é só uma ilusão do poder.

Professora - (Com tristeza) O mundo está correndo para o colapso. Onde havia vida, agora só há concreto. O homem corre, destrói e acredita que está no controle. Mas quem controla o que está correndo para a morte?

Bêbado - (Dando risada) Quem precisa de saber ou de rezar? O verbo mais importante é esquecer. Se você não esquecer, vai sofrer para sempre. Eu vou beber, se vocês me dão licença.

Professora - (Indignada) Você está perdido. Só ensinar pode nos salvar, nos elevar. Esquecer é a morte da consciência.

Pastora - (Interrompendo) Esquecer? Não. A oração é o que nos reconcilia com o mundo. Rezar é o que nos dá forças.

Professora - O verbo ensinar é o que salva a humanidade. Não há progresso sem educação.

Futebolista - (Raivoso) O que salva é jogar. A energia, a emoção, o futebol tem o poder de unir as pessoas como nada mais tem. Vocês concordam?

Pastora - (Indecisa) Sem fé, não há país. O poder de governar é o que controla a sociedade, o futuro de todos.

Militar - (Autoritário) E sem militar, ninguém segue as regras. A disciplina é tudo. Eu posso matar. Mas será que posso amar? O que realmente me guia? O verbo matar é só uma ilusão do poder.

Bêbado - (Gritando e dando risada) Quem precisa de saber ou de rezar? O verbo mais importante é esquecer. Se você não esquecer, vai sofrer para sempre.

Pastora - (Interrompendo, com firmeza) Esquecer? Não. A oração é o que nos reconcilia com o mundo. Rezar é o que nos dá forças.

OITAVA CENA - LAMENTAÇÕES

Estudante - (Gritando) Eu sofro. Mas e os outros? Por que o sofrimento é o meu caminho? Quero sair dessa prisão de dor.

Dona de Casa - A gente corre, corre, mas o capitalismo só nos usa até nos quebrar. O que nos resta? Nada. Estamos correndo atrás do que não podemos alcançar, tudo para enriquecer poucos e sacrificar muitos.

Bêbado - (Cínico) Rezar, vender, estudar... nada disso vai mudar. A verdade é que o que precisamos é esquecer e deixar a vida seguir.

Estudante - (Irritada) Você está falando besteira. O verbo pensar é o que pode transformar o mundo. Esquecer é se abandonar.

Pastora - (Batendo na mesa) Você é quem está perdido. Os verbos da primeira pessoa são os que dizem respeito a rezar e livrar os sofredores do pecado. São os únicos que trazem salvação.

Bêbado - (Murmurando) Rezar e livrar, eis aí dois verbos que vão direto no quengo daqueles que são facilitadores de cabeça, ou seja, são papagaios das religiões. Porém, eu só quero esquecer... esquecer... o que mais resta se eu não me esqueço daquilo que passei no dia anterior?

Estudante - (Pensativa) Será que estamos todos errados?

Professora - (Com pesar) Cada verbo tem sua força, mas em nossa melancolia eterna não conseguimos ouvir os outros.

Dona de Casa - (Triste) Cuidar… será que é isso que falta? (Os personagens ficam em silêncio)

NONA CENA - MILAGRE

Professora - O sorriso não é só uma expressão. Ele é a resposta para a dor, a chave que abre todas as portas. Quando sorrimos, o mundo sorri de volta. A educação é o que nos faz correr, mas estamos tão distraídos com a correria da vida, que esquecemos de pensar. A miséria intelectual se espalha, e nem percebemos. Corremos para aprender o que não é importante, esquecendo de aprender o que realmente importa. (Abre um livro, mas fica em dúvida se ler ou deixa de lado)

Pastora - (Gritando) O verbo é rezar. Sem oração, a humanidade estará perdida.

Estudante - (Furioso) Não, o verbo é pensar. Sem reflexão, não há avanço.

Dona de Casa - (Enfurecida) O verbo é trabalhar. É a única coisa que mantém a roda girando.

Bêbado - O verbo cuidar que se dane. Ninguém cuida de mim, o negócio é esquecer.

Pastora - (Falsa) Talvez o verbo rezar seja o princípio, mas não o fim.

Futebolista - (Pensativo) O verbo jogar traz alegria, mas não preenche tudo.

Militar - (Calado) A disciplina é necessária, mas não é a única verdade.

FINAL

Militar - (Calmo) Eu matei o ódio dentro de mim. Agora, amo.

Estudante - (Sorrindo) Eu sofri, mas agora aprendo que o amor também cura a dor.

Dona de Casa - Ganhei o que realmente importa, o amor.

Professora - Eu sorrio porque, no fim, o amor é o verbo que tudo transcende.

Bêbado - (Tranquilo) Já fiz minha parte. Já vivi mais do que esperava numa bodega de cana de cabeça. Vejo o quanto o mundo corre sem parar. Estamos perdendo o equilíbrio da pegada de um copo. O sol, a chuva, o vento... tudo está correndo, mas para onde devemos seguir? Eu digo que vou esquecer. Pelo amor de Deus, esquecer o quê, esquecer os problemas?

Dona de Casa - Talvez seja hora de parar, olhar ao redor e ver o que realmente estamos buscando. Eles correm para ter mais. Mas será que isso é o suficiente para o enriquecimento espiritual desses que estão em busca sempre de algo?

Professora - Estamos correndo contra o tempo, contra a natureza. Mas o tempo não vai esperar. O que estamos fazendo com a nossa corrida? Eu ainda tenho esperança... mas será que temos tempo para parar e pensar?

Bêbado - Talvez, nenhum verbo seja mais importante.

Futebolista - Quem sabe se estamos perdidos em nossas próprias palavras. (Todos vão saindo. Em cena apenas a professora)

Professora - (Sai com um livro nas mãos, sorrindo suavemente. A luz vai caindo e aos poucos todos os personagens vão voltando ao palco. Fim da peça)

Texto em construção, João Pessoa-PB, 08 de maio de 1988, digitado em 08 de junho de 2005. BENTO JÚNIOR

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 07/12/2024
Código do texto: T8214293
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