O FANTASMA DO APITO, episódio 11: As revelações de Irina

CAPÍTULO 11

 

AS REVELAÇÕES DE IRINA

 

(No capítulo anterior as garotas descobriram o apito no sótão - um curioso sótão de dois andares - do educandário. Mas encontraram também a pintura de um homem assustador e pior, a lista do assassino - incluindo os três já assassinados e os nomes de Andréia, Carol e Fátima. Na sequência veremos como Irina volta ao local e faz revelações espantosas às garotas.)

 

Irina madrugou no estabelecimento. Primeiramente, estabeleceu contato com seus homens e com Anselmo. Depois, abrindo mão da equipe e deixando-a aos cuidados do outro capitão-detetive, tratou de procurar as três garotas.

- Ela está obcecada com aquelas três... – observou Aderbal.

- Deixa para lá – disse Anselmo. – Nós temos um trabalho duro pela frente, e não creio que ela queira ajudar.

- Mas – queixou-se Cosme, cofiando os bigodes brancos – você quer dizer que vamos ter mesmo que fazer aquilo?

- É claro, Cosme! Vamos agir com inteligência! Obtivemos a pista para esclarecer esses crimes, portanto vamos seguir a pista!

Roger Maldonado suspirou. No fundo preferia Irina.

 

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- É a segunda vez que eu abro para você de madrugada – queixou-se Andréia. – Mas não faz mal, nós estamos aliviadas por revê-la.

- O que quer dizer? – Irina foi logo entrando e Andréia apressou-se em trancar a porta.

De camisola, Carol beijou Irina e observou:

- Não queira saber o que nós descobrimos. Estamos assombradas, aguardando escutar de novo o apito!

Fátima não apenas beijou Irina, como já haviam feito Andréia e Carol, mas também abraçou-a com força.

- Irina, nós descobrimos a lista do assassino!

- A o que???

- E o que é pior, amiga: nós três estamos incluídas na lista!

- Vocês estão, não é? Eu já esperava por isso...

ANDRÉIA – Como assim? Você é como Willy Wonka?

- O que?

- Você sabe tudo?

- Não exatamente... mas primeiro quero que me contem o que aconteceu, o que vocês descobriram.

E assim dizendo ela sentou-se numa das camas.

Carol sentou-se ao seu lado. Parecia estar mais amiga da “tira”.

- Já soube da terceira morte?

- Já. O Anselmo me avisou por telefone. Ele fez questão de me dizer que o George morreu “um minuto antes que eu chegasse”, e ainda acrescentou: “Depois que eu cheguei, ninguém mais morreu”.

- Ele é muito convencido... – comentou Andréia, sentada na cama em frente, em posição de Buda.

- Mas demais, meninas...

Nesse ponto Irina percebeu que Fátima chorava silenciosamente, o rostinho entre as mãos.

Andréia afagou-lhe os cabelos.

- Coitada... ficou tão sensibilizada com isso...

- Eu começava a gostar dele  -choramingou Fátima, enxugando os olhos.

- E o enterro?

- Não sei de nada. Não sei se quero ir, suponho que entregarão o corpo à família. 

- Eu perguntei isso à diretora, ela simplesmente respondeu que esse assunto não interessa à polícia.

- Ela é uma psicopata – sentenciou Andréia.

- Eu também começo a achar isso. E não só ela, isso aqui é um ninho de psicóticos, esquizofrênicos e maníacos.

- Irina... – falou Carol – falemos da lista! Nós estamos apavoradas, esperando a qualquer momento escutar o apito!

ANDRÉIA – Pela lógica tocará hoje... morre uma pessoa por dia...

- Não parta do princípio de que é assim – respondeu Irina, calmamente. – Pode ter sido questão de oportunidade.

- Eis a lista, amiga – e Carol estendeu uma folha de bloco escrita a lápis.

- Tão mambembe assim?

- Não, Irina – Carol riu-se ao responder – eu é que copiei, deixamos a lista lá para o assassino não desconfiar que já sabemos.

- Lá aonde?

- No sótão! Lá é o reduto do criminoso!

Irina não pareceu se espantar e passou a ler os nomes da lista. 

- Thiago Jorge Compostella... Aristeu Virgolino de Andrade e Silva... George de La Rue... Andréia Ganzarolli... Carol Rowina... Fátima de Aquino Montese... como vocês sabem que esta é a lista do assassino?

FÁTIMA – Porque os três primeiros morreram. Porque, quando George foi atacado pela coisa, ela ia me atacar também, mas alguém gritou que não era a minha vez. De fato, pela lista, a Andréia e a Carol têm de ir na minha frente,

- Um serial killer metódico – acrescentou Carol.

- Meninas – disse Irina, solenemente – está na hora de contar a vocês a verdade.

CAROL – Você conhece a verdade desse caso desgraçado?

- Eu sei quem é o responsável pelos mortes e o que está por detrás disso.

- Caspité! – exclamou Andréia. – Então, não faça suspense de Agatha Christie, por favor! Fale agora mesmo!

Irina se ergueu:

- O assassino é o Conde Haroldo Bruxelas, fundador e proprietário deste estabelecimento.

Elas ficaram de queixo caído.

- Irina... como pode dizer uma coisa dessas? – balbuciou Fátima.

- Nós nem conhecemos esse homem – observou Andréia, espantada. – Por que ele haveria de querer nos matar?

- Sim... como ele pode saber quem nós somos, e o que pode ter contra nós? – era Carol reforçando a perplexidade das colegas.

- Vou lhes dizer. Escutem com atenção.

“O Conde Bruxelas não passa de um gangster, ligado a uma das mais poderosas e obscuras organizações criminosas do mundo, a Rede. Quando eu comecei a investigar o seu passado, encontrei coisas do arco da velha. No que se refere a vocês o que eu apurei é que há várias décadas esse homem sofreu graves prejuízos em suas instituições em razão de processos civis e criminais que lhe foram movidos por pessoas da família de todas as vítimas consumadas ou potenciais. 

“Você por exemplo, Fátima. O seu bisavô processou Bruxelas e obteve, na época, uma indenização monstruosa de 14 milhões de cruzeiros. A sua tia-avó Jacinta, Carol, testemunhou contra Bruxelas num caso de sedução de menor. E o seu avô, Andréia, retomou propriedades que haviam sido usurpadas por Bruxelas e seu cartel econômico, que aplicaram distorcidamente a lei de usucapião. Quanto aos outros três, todos têm antepassados que, para defender suas honras e propriedades, causaram prejuízos diretos ou indiretos a esse canalha.

“É por isso que ele está por aqui secretamente, resolvido a executar sua vingança.”

FÁTIMA – Você quer dizer que esse sujeito quer vingar na terceira ou quarta geração o que outras pessoas fizeram a ele? Ele é maluco?

- Mas evidente que é – interpôs Carol. –É acromaníaco, maluco de pedra!

- Ele é louco, sim – confirmou Irina.

- E a coisa que anda com ele... o que é? – quis saber Andréia.

- É um robô.

Carol deu um pulo.

- Um robô assassino? Que nem naquelas histórias de ficção científica?

Irina fez que sim com a cabeça.

ANDRÉIA – Como você sabe disso, Irina?

- Porque o Conde Bruxelas sempre se interessou por mecânica e era fã daquela peça teatral de robôs, R.U.R. de Karel Capek. E porque, na juventude, construiu diversos homens mecânicos, ganhando até um prêmio numa Exposição de Paris, décadas atrás.

- É esse maldito autômato que mata as pessoas com seu braço metálico, então. Pobre George! Não teve a mínima chance!

Assim dizendo, Fátima pôs as mãos no rosto e voltou a chorar. Irina, porém, enlaçou-a carinhosamente:

- Deixe para chorar depois, minha amiga. Agora nós temos é que reagir.

- Sim... nós três morreremos se não pegarmos esse desgraçado...

- Nós quatro. Tenho certeza de que ele me incluirá na lista se eu não me afastar do caso.

Fátima se ergueu e mirou Irina bem nos olhos:

- Irina... quem é você realmente?

- Como assim?

- Fale a verdade. Como um dia você exigiu de mim. O que você é, além de vidente? Como você descobriu tudo isso em tão pouco tempo?

Irina também se ergueu, encarando a amiga:

- Pois bem, Fátima. Já é tempo de vocês saberem. Direi tudo.

“Eu pertenço a uma organização secreta até aqui conhecida como a Liga Mundial. Não é uma polícia secreta. É uma organização particular de pessoas altruístas e idealistas, conscientes da existência de poderes ocultos nesse mundo, que praticamente governam a sociedade, mantendo-a à mercê do crime e da corrupção. Governos ocultos, invisíveis, contra os quais a polícia e os próprios governos normais revelam-se impotentes, ao menos em parte.

“Nós combatemos a Rede e outras máfias desse gênero. Bruxelas é um membro da Rede que se deixou levar por suas paixões pessoais. A sua sede de vingança, represada e cultivada durante décadas, explodiu agora contra os inocentes, e assim ele se expôs numa “vendetta” inútil e estúpida. Isso é muito bom, porque agora eu vou pegá-lo.

Fátima sorriu e pôs a mão esquerda no ombro da detetive.

- Correção: nós vamos pegá-lo.

- Nós quatro – disse Andréia.

- Estamos nisso até a medula dos ossos – concluiu Carol, em tom decidido.

- Me diga uma coisa... – lembrou Fátima – o que é que os outros policiais estão fazendo agora?

- Pelo que sei, estão examinando as mãos de todo mundo.

ANDRÉIA – O que você quer dizer com isso?

- O Anselmo pôs na cabeça que o criminoso possui mão mecânica, portanto uma das 430 pessoas que por aqui se encontram deve ter essa característica. Assim ele pegou a minha equipe e está examinando as mãos de todo mundo, à procura do assassino.

FÁTIMA – Jesus! Esse é melhor do que a encomenda!

- Deixa ele fazer o que quiser, Fátima. Fico mais livre para agir.

- Lembrei uma coisa importante – observou Andréia, judiciosamente. – Como é esse tal Haroldo? Você tem alguma foto dele?

A capitã fez que sim.

- Bem lembrado. Tenho vários retratos antigos e recentes. Vejam... nosso inimigo.

As fotografias excitaram as três garotas. Carol deu um pulo e exclamou:

- Aquele mondrongo da pintura!

IRINA – Como? Que pintura, Carol?

- Há uma porção de painéis com pinturas lá no sótão. Ele está lá representado, o bandido! Tem uma capa azul... qual é o seu plano, Irina?

- Iremos lá agora mesmo. Antes que Andréia seja atacada.

 

(A história se aproxima de um ponto fulcral: a incursão da Detetive Irina e Carol, Fátima e Andréia ao sótão, o reduto do criminoso. O confronto final está se aproximando.

Em breve:

CAPÍTULO 12

ARMADILHA)

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 19/11/2024
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