Entre Bois e Cafés
Capítulo 1
As Últimas Luzes do Império do Gado
Cena de Abertura
O sol se despedia no horizonte, tingindo o céu de vermelho e dourado, enquanto sua luz se espalhava sobre a vasta fazenda de gado. O campo, extenso e árido, se estendia como um manto ressequido, cortado por caminhos de cascalho e trilhas marcadas pelos cascos dos bois que pastavam lentamente. A imagem refletia não apenas o espetáculo do crepúsculo, mas também a grandiosidade de um império construído sobre a carne e os ossos daqueles animais. Cada boi, imponente e indiferente, simbolizava um legado de riqueza e poder que agora começava a ser ameaçado por novos interesses.
Ao fundo, o casarão da família se erguia no topo da colina, suas paredes de adobe e madeira, desgastadas pelo tempo, refletindo as cores do pôr do sol. A estrutura, imponente como uma fortaleza, observava a terra que dominava com um ar de soberania. O patriarca, um homem de olhar firme e traços endurecidos, vestia um linho amarelado e um chapéu de couro amassado, seu rosto marcado por rugas profundas que contavam histórias de um passado de conquistas e desafios. Ao seu lado, o jovem protagonista, seu filho, observava a vastidão da fazenda com um olhar distante, sonhando com um futuro que ele sabia que desafiaria o legado do pai.
“Essa terra aqui é sagrada”, dizia o patriarca, sua voz ressoando como um eco do orgulho familiar. “Cada pedaço de pasto que esses bois pisam foi domado pelo suor da nossa gente. E esses animais…” Ele apontou com o queixo para o campo onde os bois continuavam a pastar, “são mais valiosos do que qualquer outra coisa que o mundo já viu. Homem que é homem vive do gado, e nada vai tirar isso de nós.”
Mas o jovem não podia se contentar com essa verdade. Enquanto o pai falava, seus pensamentos vagavam para além das colinas, em direção a fazendas onde um novo tipo de riqueza começava a florescer: o café. Ele ouvira rumores sobre o crescimento de plantações que prometiam um futuro mais próspero, uma colheita que poderia mudar não apenas suas vidas, mas o próprio rumo da história. Aquela ideia era um desafio, um quase sacrilégio para o patriarca, que via no gado a única forma de riqueza legítima.
Enquanto o sol mergulhava atrás das colinas, as sombras dos bois e dos homens se alongavam, um prenúncio de que a noite traria consigo novas tensões. O jovem respirou fundo, sentindo a poeira da terra se misturar ao aroma adocicado do ar que se preparava para a escuridão. O mundo ao seu redor estava prestes a mudar, e ele sentia isso pulsar em suas veias como um desafio ardente.
Breve os capítulos, todo sábado postarei um total de três capítulos