O FANTASMA DO APITO, capítulo 10: A descoberta
CAPÍTULO 10
A DESCOBERTA
(Anteriormente ocorreu o brutal assassinato de George, o rapaz que se interessara por Fátima de Aquino. O Detetive Anselmo chegou ao local e começou a tomar providências, tomando também a defesa das três meninas. Fátima, porém, revoltada com a morte de George, resolveu tomar a iniciativa.)
No quarto, Fátima tomou um banho, fez um lanche de alcova com pipocas e outras coisas simples, acompanhada pelas amigas, e se pôs à vontade, só de short e camiseta, tratando então de pegar o caleidoscópio.
Foi quando Andréia reparou numa coisa:
- Fátima... sua conta...
- Hein?
Andréia se aproximou dela, e tocou numa conta amarela pendurada em seu pescoço, junto com uma medalha de São Vicente de Paula:
- Está piscando...
- Bofé! – exclamou Carol, indignada.
– Onde você aprendeu essa palavra esquisita? – indagou Fátima.
- Em Monteiro Lobato, sua tola.
- Vamos localizar o aparelho de escuta – falou Andréia com senso prático.
Todas as contas fornecidas por Irina piscavam, e o piscar acentuava-se com a proximidade. Era fácil saber se estava “quente” ou “frio”. Encontraram o aparelho por trás de uma cômoda, afixado na parede.
Carol arrebentou-o com um martelo.
- Tratantes! Pilantras! Safados!
- Calma, por favor – pediu Fátima. – Deixa eu fazer o que ia fazer.
Fátima tratou de se concentrar com o caleidoscópio. Dessa vez demorou muito, impacientando as companheiras, mas ao fim tinha uma informação relevante:
- Meninas, eu já sei o que nós vamos fazer.
- Você nem nos deixou olhar... – queixou-se Carol.
- Eu fiquei buscando muita coisa, não dava para deixar vocês entrarem no circuito, iam me atrapalhar. Eu já sei onde fica guardado esse maldito apito.
- É mesmo? Conta, conta! – falou Andréia.
- Ele está no sótão desse castelo.
CAROL – No sótão?
- Nós iremos lá esta noite.
- Nós? Por que não esperamos a Irina?
- Não dá para esperar. Meu quase-namorado foi assassinado hoje, e eu quero pegar esse assassino. Ele vai me pagar.
- Não estou te conhecendo – observou Andréia, muito séria.
- AGORA você vai me conhecer. Estou farta de tudo isso.
- Mas como vamos chegar no sótão sem sermos percebidas?
- Eu já localizei as passagens secretas que levam até lá. Carol, Andréia, entendam isso: o sótão dessa espelunca é o reduto do criminoso.
ANDRÉIA – Então não é o bosque?
- É claro que não. Estamos às voltas com um vilão sombrio, tenebroso, que não vai se esconder ao ar livre. O refúgio dele é lá em cima, onde tem goteiras, ratos, baratas, madeira velha e podre, lagartixas e morcegos.
- Iremos até lá. E levaremos armas.
- Que armas, Carol? Não temos armas.
- Facas, chave de grifo, qualquer coisa, Andréia. Não vamos lá para brincar.
- Fátima... você conseguiu na sua visão uma explicação para a força do assassino?
- Não encontrei... mas acho que a sua mão é forrada com alguma coisa... pode ser uma luva com uma ferradura dentro... foi tudo muito rápido.
Eram duas da madrugada quando as três garotas, tresnoitadas, resolveram sair do quarto, equipadas como podiam, com suas mochilas. Pelo caleidoscópio, Fátima se certificara até onde fôra possível, de que o caminho estava livre, sem noctívagos. Trataram de se esgueirar silenciosamente pelos corredores escuros, pisando com mocassins macios, auxiliadas por discretas lanternas. Seguiram até o andar superior, até o pátio de ginástica, e se aproximaram do grande relógio carrilhão.
- E se não houver o painel? – duvidou Carol.
- Haverá. Senão eu quebro o meu caleidoscópio.
E lá estava o painel de laca, quando elas, a custo, afastaram o relógio de pêndulo. Por sorte, o que lhes aumentava a segurança, existia uma alça de madeira em posição horizontal, por trás do carrilhão e a meia altura, de maneira que puderam recolocar o objeto em seu lugar após fazerem correr o painel (para tanto Fátima localizou no alto-relêvo os botões de abertura, muito bem escondidos).
- Você deve ser descendente de Nostradamus – brincou Andréia, remexendo os cabelos da amiga.
Na escuridão da passagem secreta, a escassa luz das lanternas mostrava uma velha escada de pedra, estreita, úmida e mal-cheirosa.
Carol lembrou-se de um detalhe:
- Fátima... a Irina pediu que avisasse qualquer descoberta feita com seu caleidoscópio.
- Isso vai ter que esperar. Ela não está aqui agora e eu não vou recuar.
Liderando o trio, Fátima pôs-se a subir corajosamente os degraus. Andréia e Carol entreolharam-se e a seguiram. Deram umas voltas e afinal, já fora de vista o ponto inicial da jornada, encontraram uma porta de madeira desconjuntada, já meio fora dos gonzos, que empurraram sem dificuldade.
Viram-se em pleno sótão da faculdade.
- Esse lugar é mais feio que o resto – queixou-se Carol.
- Sem dúvida – concordou Fátima. – Vamos adiante, o negócio é no andar de cima!
Passaram por uma espécie de galeria onde pinturas a óleo, nas paredes mofadas,
ostentavam figuras pomposas e anacronicamente trajadas, com roupas espaventosas, cheias de cores.
- Pessoal tão chic num lugar tão labrosta – criticou Andréia, com um muxoxo.
- Que espécie de louco... mandaria colocar essas pinturas num sítio onde ninguém se aventura?
Esta última observação partira de Fátima, que se esforçava para compreender o que realmente estava acontecendo.
No final da galeria, um homem de ampla capa azul-escuro, fazendo lembrar um
personagem de história de terror, tinha no entanto uns ares mais modernos, portava até mesmo um relógio de pulso.
Pararam as três, instintivamente. O homem tinha um olhar penetrante, de aço; um nariz de abutre, cabelos negros porém feios, sem brilho; uma atitude geral que sugeria uma assustadora arrogância.
Infelizmente não existiam letreiros que identificassem as pessoas ali representadas.
Finalmente elas encontraram uma escadinha de madeira que levava para cima.
- Tenham cuidado – lembrou Fátima, muito séria. – Repararam como o teto, de madeira, já está dando cupim, já está com buracos? Uma queda de um andar para o outro deve ser muito dolorosa.
No andar de cima, a chegada das garotas provocou um tropel assustado de ratazanas, que sumiram num galope. Nenhuma delas tinha medo de roedores, e prosseguiram em sua missão. Viram muitas quinquilharias numa confusão indescritível, passaram por cima de rodas, peças de rádio, roupas de teatro, velhos livros esparramados e estragados, abacaxis e melancias de plástico, enfim avistaram um grande aparelho de som encostado na parede, aparentemente intacto.
E junto a ele, pendurado num prego na parede, o apito.
Andréia avançou para pegá-lo.
- Espere! – falou Carol. – Vejam nessa mesinha... esse papel embaixo do peso, é novo... branquinho...
- É uma folha de ofício – esclareceu Fátima.
Carol pegou a folha e soltou um grito abafado.
- Que foi? – perguntaram as duas, ao mesmo tempo.
- Gente... há seis nomes aqui... três foram riscados... e os três riscados são os dos mortos. É a lista do assassino!
- Deixa eu ver – pediu Fátima.
- Você vai ter uma surpresa desagradável.
- Como assim?
Andréia e Fátima olharam.
Primeiramente estavam os nomes completos de Thiago, Aristeu e George. Nessa ordem.
E depois vinham os nomes de Andréia, Carol e Fátima.
(A situação começa a se definir. Por misteriosas razões Andréia, Carol e Fátima estão juradas de morte pelo assassino do apito. O que farão elas agora?
Na sequência Irina retorna ao Colégio Modelo e tem uma reunião com as três garotas. Sabedora da lista do assassino, Irina finalmente revela às três sua qualidade de agente da Liga Mundial e revela também a identidade do assassino! Agora, as quatro se unirão contra o inimigo. Uma luta que transcenderá a ação da polícia...
A seguir:
CAPÍTULO 12
ARMADILHA)
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