O FANTASMA DO APITO, capítulo 8: A Liga Mundial

 

CAPÍTULO 8

 

Lembrete: esta história se passa num mundo paralelo ao nosso, onde a tecnologia avançou menos no século 20 e as duas guerras mundiais não ocorreram; as grandes disputas de poder se desenrolam de forma oculta.

 

(Anteriormente vimos como o original Detetive Anselmo entrou em cena para participar da investigação dos crimes na Faculdade Modelo. E isso, contra a vontade de Irina. Agora saberemos um pouco da vida secreta da Detetive Irina.)

 

A LIGA MUNDIAL

 

Irina de repente perdeu a vontade de prosseguir em seu gabinete. A raiva que a atitude do Chefe de Polícia, Theobaldo, o tio de Anselmo, lhe causara, a sensação de urgência diante do atropelamento de suas funções, a empáfia do detetive com ares de galã, tudo isso espicaçou a moça. Quando ele fechou a porta atrás de si, um clic mental fez aparecer diante de Irina a figura de um homem na penumbra, passando em frente a um mapa na parede, mal iluminado. Era um país meio triangular, banhado pelo mar, com muitas cidades grandes...

A visão se dissipou. Irina se ergueu, sobressaltada: precisava identificar aquele país. Onde poderia ser? Não podia ser na América. África, Ásia? Nem pensar. Devia ser na Europa, a julgar pelo litoral, pela densidade populacional revelada pelas muitas cidades grandes...

A Bélgica!

Aturdida pela revelação, Irina pegou as suas coisas e voou para fora do departamento, esbarrando em colegas espantados.

- Aonde vai com tanta pressa? – indagou Elaine, uma das policiais de plantão. – Parece que viu fantasma!

- Você não sabe como está certa! – foi a resposta desconcertante da capitã, que não se deteve, sobraçando as suas pastas.

Desceu correndo a escadaria, entrou no seu Picwick 2002 e partiu em direção à sua residência. Foi tão depressa quanto a prudência permitia, e só então acordou que nem tinha telefonado.

"Estou um pouco fora de mim. Vou ter que ser cuidadosa ao máximo, pois se suspeitarem o que eu sei a minha vida não vai valer um níquel."

Em poucos minutos chegou à sua residência de Guapimirim, uma casa triplex excepcionalmente protegida e guardada por cães pastores bem treinados. Viviane, sua filhinha de nove anos, veio recebê-la com grandes festas, pois não a esperava. Uma jovem de aspecto indígena veio logo atrás.

- Oi, Iara – disse Irina. – Me desculpem, eu não avisei...

- Ora, você é bem-vinda a qualquer hora.

Irina levantou Viviane nos braços e foi levando-a pela casa, em direção ao quarto.

- Puxa, mamãe! Quando é que você fica direto aqui em casa?

- Vou ver se tiro umas férias depois desse caso, querida. A gente faz uma viagem.

- Para a Disneylandia?

- Quem sabe? Se o dinheiro der...

Depois que fez um lanche rápido e examinou a correspondência e os recados telefônicos, Irina comunicou que iria para o seu gabinete e se trancaria lá por um pouco de tempo.

- Não demora, você tem que brincar comigo – lembrou a pequena Viviane.

A jovem detetive entrou num gabinete de 5x4, cujas vidraças eram opacas vistas do exterior, mas que permitiam a visão da rua. Sentou-se diante de um aparelho telefônico especial, cheio de apêndices recursivos, como chamavam então aos equipamentos complementares que permitiam certas operações. Ela teclou uma espécie de pirâmide cristalina e um mostrador luminoso foi mostrando um cursor que avançava aos poucos.

Após alguns minutos uma voz masculina falou com ela em francês:

- Bonjour, Irina, ma chérie...

- Moacir! Que bom falar com você! Eu estava pedindo a Deus que você estivesse em casa!

- Você teve uma sorte monstruosa. E eu que nunca acho você em casa...

- Um dia terão de ser inventados telefones portáteis.

- Espero que esse dia esteja distante. Ser localizado em qualquer lugar? Seria uma invenção muito importuna.

- Moacir, é preciso mobilizar a Liga.

- Espero que haja justificativa para isso. Tem que ser algo muito grave...

- E você acha que eu ligaria se não fosse? Moacir, temos algo escabroso... algo assustador... ocorrendo aqui no Brasil e com ligações no exterior. Algo que envolve crime, um poder secreto e uma trama tenebrosa cujas conseqüências eu não quero imaginar, se não a detivermos.

- Algo tão grave assim? Mas como...

- Vou pedir a você que investigue uma coisa para mim. Avise os outros membros da Liga Mundial para que fiquem de sobreaviso e façam também investigações sigilosas. Qualquer mensagem sobre isso me envie pelo canal secreto, pois a polícia não pode desconfiar de nada.

"Sobretudo, não pode desconfiar do que eu terei que fazer."

Irina era uma das poucas pessoas a possuir carro a gasolina e mais alguns confortos ultra-modernos. Às vezes tinha medo que lhe questionassem essas coisas, embora os seus vencimentos de fato lhe permitissem gozá-las. Qualquer investigação poderia descortinar as suas conexões secretas com a Liga Mundial, mas esse era um risco de todos os dias, como o risco de morrer, e não valia a pena se preocupar. 

Agora ela teria de dedicar algumas horas de sua vida ao seu tesouro mais precioso, dormir um pouco e depois retornar ao educandário para prosseguir nas investigações. Sabia que estava perdendo um tempo precioso, mas afinal ela não era uma super-mulher, era uma mortal comum e tinha as suas limitações. Sabia que Anselmo não estava mal intencionado, pois se assim fosse não teria ido avisá-la de sua intromissão no caso. Mas ele poderia estorvá-la e chegaria lá antes dela. Tomara que ele não implique com as crianças, pensou angustiada.

 

(O que será a Liga Mundial da qual Irina é uma agente secreta no Brasil? E o que pode haver por trás dos crimes na Faculdade Modelo? A seguir voltamos ao cenário do colégio e às três garotas. Um novo crime brutal e inesperado vai ocorrer, e também este precedido pelo misterioso apito. Anselmo chega na frente de Irina, disposto a resolver tudo. O que ele irá fazer? Ajudar ou atrapalhar? Vamos aguardar.

Em seguida:

CAPÍTULO 9

O FANTASMA ATACA NOVAMENTE)

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 29/10/2024
Código do texto: T8184553
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