O FANTASMA DO APITO, capítulo 7: O Castelo
CAPÍTULO 7
Nota: "O fantasma do apito" é a primeira parte da saga da Liga Mundial. Passa-se numa realidade alternativa ao nosso mundo.
O CASTELO
(Dois assassinatos ocorreram na Faculdade Modelo em circunstâncias que lançaram suspeita contra as três moças. No entanto a investigação de Irina aponta para outros fatores, como o ataque que ela sofreu no bosque, de um agressor não identificado e que não seria humano. O que há por trás desse estranho educandário?)
Naquele domingo pela manhã, abdicando de uma justa folga, motivada pela premência dos acontecimentos, Irina se encontrava em seu gabinete no Departamento da Polícia de Investigação em Teresópolis, examinando uma pilha de plantas e outros documentos.
Intrigava-a a circunspecção dos responsáveis pela Faculdade Bruxelas. Obter as plantas exigira muita energia, pois Lowenstein demonstrara a maior má vontade. Ele dissera, sem subterfúgios, que as plantas não podiam ser úteis à investigação.
- Ora essa! E porque não? – respondera Irina.
- Não podem ser úteis porque não podem! – fôra a resposta “esclarecedora” do diretor.
Irina mordera os lábios, procurando se controlar. Tinham vindo do exame do corpo de Aristeu, o ambiente era de muita tensão, mas a atitude do reitor era incompreensível.
- Não posso aceitar o que o senhor está me dizendo. A investigação desses assassinatos está a meu encargo, e eu preciso das plantas locais para estudo. Se o senhor negar-se a entregá-las, serei obrigada a representar contra a sua pessoa, por obstrução da ação policial.
- A senhora não pode fazer isso. Esta faculdade é muito importante para sofrer ameaças.
- Do que o senhor está falando? Estamos nós dois, falando o mesmo idioma? Não fiz nenhuma ameaça à faculdade, estou apenas lembrando que o senhor não tem o direito de entravar a investigação policial e que, se o fizer, assumirá a responsabilidade. Agora eu quero as plantas.
- Calma, Irina – dissera Cosme, um tanto despropositadamente.
Estaria ele próprio, um policial experiente, com medo?
Por fim, Curt forneceu a Irina as plantas e outras documentações. Ao despedir-se, a detetive indagou:
- Me diga uma coisa, diretor... o Conde Bruxelas já foi informado desses últimos acontecimentos?
- Não, e espero que ele nem venha a saber. Seria péssimo, ele poderia até me
responsabilizar pelas mortes...
Irina olhou-o sem acreditar no que ouvira.
- O que é isso, senhor reitor? Dois seres humanos morreram assassinados, isso vai sair nas folhas, como o senhor espera que fatos dessa natureza possam ser ocultados ao dono da faculdade?
- É pouco provável que ele esteja prestando atenção às notícias brasileiras – foi a estranha resposta.
“Como é que esse energúmeno pode ser reitor de uma faculdade tão conhecida?” – questionou-se Irina em pensamento.
- Professor Lowenstein, acho muito estranho o seu modo de encarar a situação. O Conde Bruxelas tem certamente o direito de saber destas tragédias. Aliás, onde ele se encontra no momento?
- Eu não sei. Ele pode estar no Japão, na Birmânia, na Venezuela, na Dinamarca, no Alasca... ele viaja muito.
- E o senhor não tem como contactar com ele agora?
- Em geral a gente espera que ele entre em contato.
- Mas numa emergência?
- Nós não estamos numa emergência. Para que incomodar o conde com um busílis desses? Não é um problema financeiro, ou de obras, nada.
- É claro que não. Só um pouco de derramamento de sangue, coisa sem importância é claro. Bem, segunda-feira eu volto. O Cosme fica tomando conta no meu lugar.
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Agora, nove da manhã, a jovem detetive procurava analisar os mapas que tinha diante de si, sobre a escrivaninha.
Era um grande castelo, sem dúvida. Sem contar os porões, existiam cinco pavimentos em dois grandes pavilhões geminados. Torres góticas projetavam-se marcando os quatro pontos cardeais, superando em altura o sótão que, curiosamente, apresentava dois andares. O número de janelas, quase todas de venezianas, era imenso. Em grande parte da fachada as lajotas eram perfeitamente visíveis mas em certos trechos viam-se feios remendos de cimento escuro ou argamassa. No conjunto a construção fazia lembrar um labirinto que incluía
obscuras passagens subterrâneas que poderiam até ter ligação com um curso d’água igualmente subterrâneo. Tirando fora o pátio frontal, alguns terrenos limpos em volta, e uns poucos prédios anexos, o que existia em redor era a mata, o barranco, e o parque de carruagens lá embaixo, com a estação do trenzinho.
A moça esforçava-se por vislumbrar um caminho naquele aranzel, um fio da meada, por onde pudesse começar.
Então algo aconteceu. Ela viu por um instante um lugar... feio e sujo, cheio de cacarecos, e um apito pendurado num prego na parede...
Na faculdade, já se falava no “fantasma do apito”.
A visão havia desaparecido e ela não podia trazê-la de volta. Contudo, ela vislumbrara um antigo aparelho de som, do tipo cheio de módulos, formando um verdadeiro móvel, encostado numa parede forrada de papel sujo, com a figura do Monte Rushmore. E objetos como uma velha bengala, tapetinhos, um guarda-chuva escangalhado, uns jornais espalhados e amarelecidos, umas gavetas de arquivo enferrujadas.
“É um lugar no castelo, aonde não se vai com freqüência... ou nunca. A prova está no apito, tranqüilamente deixado ali, à vista...”
Subitamente a porta se abriu e apareceu um homem louro e bonito, glostorado, de elevada estatura. Só um certo desatavio no paletó e na gravata atenuavam uma ostensiva elegância.
Irina encarou-o com surpresa.
- Anselmo! Você por aqui?
- Oi, Irina – assim dizendo ele puxou a cadeira e sentou em frente a ela, pegou uma caixa de chicletes e ofereceu um à moça, que recusou polidamente.
- Não sabia que estava em Teresópolis – observou ela, na expectativa.
- É porque o meu tio me pediu um grande favor – disse ele, mascando o chiclete. – Pediu que eu investigasse os crimes da Faculdade Modelo do Castelo.
- O QUE VOCÊ DISSE?
- Tem relação com o fato de que você não está conseguindo resultados e já ocorreu outra morte. Estou seguindo para lá.
- Sem a minha presença?
- A sua equipe está lá, não está?
- Anselmo, quem disse que eu não estou conseguindo resultados? Ou você acha que uma investigação é coisa tão simples?
- Sei que você quase morreu – ele foi enfático.
- É. Mas ainda não morri.
- Com a minha presença, as coisas se esclarecerão mais rapidamente.
- Ah, que bom. Vai levar a sua varinha mágica?
- Nada pode ser tão complicado – e assim dizendo, ele jogou o bagaço do chiclete na cesta de lixo mais próxima.
"Pelo visto, vou ter que agüentar esse sacripantas. Que o Céu me dê paciência!"
(A presença de Anselmo, o detetive de pose, representa um fator importante na trama. Com suas ideias próprias e sendo protegido pelo Diretor da Polícia de Investigação, seu tio, Anselmo é um problema para Irina, e de longa data. Mas agora finalmente veremos uma pista sobre o que realmente está acontecendo. E que envolve uma organização secreta. Na verdade duas, mas não antecipemos.
Em breve nesta escrivaninha:
CAPÍTULO 8
A LIGA MUNDIAL)
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