O FANTASMA DO APITO, capítulo 5: O bosque

 

CAPÍTULO 5

 

O BOSQUE

 

(No capítulo anterior Irina interrogou o Inspetor Aristeu e apesar de sua vidência não conseguiu sentir nada nele, como uma mente vazia de ideias. Mas então, o misterioso apito voltou a se fazer ouvir.

Agora veremos que pela segunda vez ocorre um assassinato após o soar do apito!

Não percam de vista que esta novela é do gênero história alternativa, ou seja, a partir de um ponto de divergência a História seguiu outro caminho. No caso, não houve a Primeira Guerra Mundial e o desenvolvimento tecnológico seguiu mais devagar. Nesse mundo paralelo ainda não existe astronáutica e nem internet.)

 

- Não posso compreender... quem poderia estar andando nesse bosque, agora?

Irina não se preocupou com a estupidez de Aristeu. Olhou em volta, buscando um meio de descer. Não era fácil. O boqueirão não era convidativo, a ravina era íngreme e uma grade perimetrava o pátio da escola, justamente para que as pessoas não caíssem lá para baixo. Irina galgou o murozinho e pôs-se a descer com cuidado.

- E eu, dona detetive? Já me liberou? – quis saber o Aristeu.

Irina não respondeu, mas fitou os seus dois companheiros. Nenhum deles parecia disposto a amarfanhar as roupas.

- Eu não quero pegar carrapichos – disse Roger. – Tenha uma boa sorte!

- Liberem-no, se não tiverem nada a perguntar. Até mais!

Irina afastou samambaias e trepadeiras e foi penetrando no bosque, quase escorregando no plano inclinado da colina. Agarrando-se pelos arbustos e cipós, buscou localizar auditivamente a direção do som do apito. Ela sabia que a estrutura interna dos seus ouvidos – o martelo, o estribo, a bigorna, a cóclea, o labirinto – tudo estava bem lubrificado e que, se dependesse de sua audição, ela localizaria o responsável pelo som. Tendo apenas o cuidado de verificar a presença de víboras, ela se moveu com a maior rapidez possível naquele matagal sombrio e cheio de madeira podre e úmida. Logo, logo, estava bem afastada do colégio, e o som do instrumento se distanciava sensivelmente dela.

O apitador fugia.

A detetive estava irritada e motivada em pegar quem quer que fosse que perpetrava aquela gracinha. Consciente de um provável perigo, empunhou a sua arma e prosseguiu, já agora com a visibilidade mais difícil ainda, pois carvalhos, mangueiras, abricós-de-macaco e outras arvores de grande porte se

acumulavam pelo caminho. Súbito, um grande lagarto se moveu à sua direita, pulando de uma pedra e sumindo, assustando-a. Irina arfou emotivamente e olhou em volta, mordendo o lábio inferior por tensão nervosa. Escutou um ruído sutil, de raminhos sendo pisados... ruído que vinha da sua esquerda.

Ela se voltou, consciente de que, logo adiante, o terreno intensificava a sua ingremidade, tornando-se perigoso.

Uma visão súbita toldou a paisagem à sua frente. Durou apenas uma fração de segundo... mas ela não teve dúvida de que vira a morte com a sua foice.

Algo muito mais pesado vinha pela direita, esmagando as folhas. Ela se voltou e atirou – mas inutilmente, e alguma coisa dura atingiu-a na testa, lançando-a por terra. Irina percebeu que tinha de fugir, e ao mover-se quase em pânico, acabou deslizando ladeira abaixo, desastradamente. Por sorte não se machucou gravemente, e o instinto de sobrevivência fê-la manter a pistola segura.

Colocando-se por trás de algumas pedras, pôs-se a aguardar, pronta a se defender. Mas quem quer que fossem os agressores, agora se afastavam nitidamente. A moça só pôde vislumbrar duas sombras indistintas. Percebeu que os cabelos de seus braços estavam eriçados.

“O que é isso, afinal? O que me atacou não era um ser humano.”

 

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Naquela noite Irina retornou ao colégio e procurou as três garotas – que alguns alunos já vinham chamando de as Três Patetas. Não foi difícil encontrá-las no refeitório, ainda isoladas dos colegas.

- Eu posso jantar com vocês? – indagou ela, trazendo sua bandeja.

- À vontade – disse Carol. – Você já dormiu?

- Eu costumo trocar a noite pelo dia. Vou falar uma coisa importante com vocês, mas não aqui. Pode haver ledores de lábios nos observando.

- Gente, você é uma paranóica.

Andréia chutou a canela de Carol por baixo da mesa.

- Ui! Que é isso, Andréia?

- Não xingue a nossa amiga, ora,!

- Ela tem razão – observou judiciosamente Fátima. – Vamos tratar de comer com prazer. Hoje temos jiló e maxixe, vamos aproveitar!

 

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Passeando pelo pátio já bem escuro – o que dificultaria qualquer leitura labial – Irina contou as últimas novidades. Contou como uma investigação in loco demonstrara um invulgar esmagamento de folhas no chão e vestígios de pegadas pesadas, de pés duros. Se é que eram pegadas.

- E o que você conclui disso? – indagou Fátima, perplexa.

- Tenho um favor a lhe pedir. Quero que, no resguardo do seu quarto, você investigue com o seu caleidoscópio. Procure a visão da verdade, diligentemente. Você pode descobrir o que outros não podem. Faça isso por mim.

- Mas, Irina – objetou Andréia. – Se por acaso você está relacionando o apito com assassinato, devo lembrar que, se da primeira vez houve um crime, agora da segunda não...

A policial Cenira apareceu, ofegante, na frente delas:

- Irina, estão lhe procurando! Sabe o que aconteceu?

- Não, mas fale logo!

- Houve outro crime! Aquele homem das camisas... apareceu morto!

- Quem? O Aristeu?

- Oh, não! – exclamou Carol. – Logo ele!

- Onde está o corpo? – perguntou Irina.

- Me acompanhe! – e assim dizendo Cenira saiu correndo.

Irina voltou-se para as pequenas:

- Parece que alguém por aqui não gosta de quem briga com vocês.

 

(Parece que os acontecimentos estão se desenrolando de maneira a prejudicar as três meninas! E por que tanta discriminação contra elas afinal? 

Na sequência veremos como George reaparece mais uma vez a favor das três garotas, enquanto o mistério do Colégio Modelo só aumenta.

Brevemente:

CAPÍTULO 6: MISTÉRIOS)

 

imagem freepik 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 13/10/2024
Código do texto: T8172576
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