ALICE E PETER
Alice e Peter estão sentados em um banco de parque. A luz suave do final de tarde envolve os dois, e o som distante de crianças brincando ao fundo contrasta com o peso do momento. Ambos estão em silêncio, mas é possível sentir a tensão emocional no ar. Alice segura as mãos de Peter com delicadeza, enquanto ele olha para o chão.
Alice (olhando nos olhos dele, tentando segurar as lágrimas):
Eu nunca imaginei que chegaríamos a esse ponto, Peter. Não porque faltou amor, mas talvez porque, às vezes, o amor sozinho não é suficiente...
Peter (com voz embargada):
Eu também não, Alice. Eu sempre achei que o nosso amor fosse invencível, que poderíamos enfrentar qualquer coisa... Mas aqui estamos, e... dói tanto.
Alice (respirando fundo, sua voz tremendo):
É que nós dois mudamos, Peter. Eu sinto que... eu não sou mais a pessoa de quem você se apaixonou, e você também mudou. Não é culpa de ninguém. Só... aconteceu.
Peter :
Eu sei... Eu percebi isso também. Mas parte de mim queria lutar mais, queria tentar de novo, como sempre fizemos. Só que... algo aqui dentro me diz que continuar seria mais doloroso do que nos despedirmos agora.
Alice :
Eu também sinto isso. E essa é a parte mais difícil. Eu ainda te amo, Peter, mas esse amor, do jeito que ele está, nos machuca. Eu não quero que a gente acabe se odiando. Prefiro que a gente se lembre do que foi bonito.
Peter (uma lágrima escorrendo pelo rosto):
Eu nunca vou conseguir te odiar, Alice. (enxuga a lágrima) Como eu poderia? Você me deu tanto... tantos momentos, tantos sorrisos. Você me ensinou a amar de verdade.
Alice (acariciando o rosto dele com ternura):
E você me ensinou a ser forte, a acreditar no que eu sou. A gente cresceu juntos, Peter. Isso nunca vai mudar. Mas às vezes, para crescer mais, a gente precisa seguir caminhos diferentes.
Peter (segurando as mãos dela com força, como se estivesse prestes a deixá-la ir):
Então é isso... Nós vamos seguir caminhos separados. Isso parece tão... definitivo.
Alice:
Nem tudo que termina é o fim, Peter. Nós vamos levar um pedaço um do outro para sempre. Cada um de nós é melhor porque viveu isso.
Peter (encarando-a com tristeza e admiração):
Eu vou sentir sua falta todos os dias. Vai ser difícil não te ter ao meu lado, não te ligar no meio da noite só para ouvir sua voz.
Alice (as lágrimas finalmente caindo):
Eu também vou sentir sua falta... mais do que posso colocar em palavras. Mas a vida vai continuar. E eu vou sempre torcer por você, mesmo de longe. Sempre.
Peter (soltando as mãos dela devagar, com um suspiro pesado):
Eu espero que a gente encontre a felicidade, Alice. Mesmo que ela seja em outro lugar. Mesmo que ela não seja juntos.
Alice :
Nós vamos encontrar, Peter. Eu acredito nisso. Porque, no fundo, o que tivemos foi real. E o que é real nunca se perde completamente.
Eles se olham por um momento que parece eterno. Sem mais palavras, Alice e Peter se levantam do banco, cada um tomando um caminho oposto. Olham para trás uma última vez, com o coração apertado, mas também com a sensação de que estão fazendo o que é certo. O som das crianças brincando ao longe parece mais alto, como se a vida continuasse em meio à dor silenciosa de uma despedida.
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Ronald Sá, é ator, dramaturgo, diretor e professor de teatro. Tem mais de 30 textos teatrais escritos, tanto infantil e adulto. Mora em São Luís do Maranhão. Começou a se interessar pelas letras desde criança. Formado em Artes Cênicas, tem um grupo de teatro na periferia da cidade maranhense, Anjo da Guarda. Bairro cultural, celeiro de vários artistas. Atuou, escreveu e dirigiu 26 espetáculos. No momento, escreve sua primeira série e e seu primeiro livro sobre o mundo teatral.