O FANTASMA DO APITO, capítulo 3: Irina investiga
CAPÍTULO 3
IRINA INVESTIGA
(No capítulo anterior Fátima, Andréia e Carol foram surpreendidas logo cedo com a chegada da Detetive Irina, da Polícia de Investigação, chamada para investigar um crime de morte. E o surpreendente é que a pessoa assassinada é o rapaz que criou caso com elas na véspera. A Diretora Adjunta Eduarda parece já considerar as três como culpadas pelo assassinato. Mas Irina não concorda e ignora a acusação gratuita. Ela aparentemente sabe muito mais do que dá a entender.)
Lembrete: esta novela é do gênero "história alternativa", ou seja, uma realidade paralela onde a História seguiu outro rumo; no caso, as duas guerras mundiais não aconteceram e a tecnologia avançou mais devagar.
Quando saíram, as três não puderam deixar de admirar a desenvoltura, a agressividade dos movimentos da Detetive Irina, com seu passo elástico e veloz. Elas tinham dificuldade em acompanhá-la.
- Aonde vamos? – quis saber Andréia, ofegante.
- Vou lhes mostrar o corpo e o local do crime, se vocês têm nervos fortes, depois vamos fazer uma reconstituição da sua viagem de bondinho.
Alcançaram Irina no elevador e entraram, sob o olhar espantado da bexiguenta ascensorista.
- Que bom! É como trabalhar com Sherlock Holmes! – exclamou Fátima, animada.
Irina não sorria facilmente mas também não parecia uma pessoa mal-humorada; quem prestasse atenção no seu modo de agir, de se expressar, poderia notar, isto sim, uma intensa concentração na sua atividade, nas coisas que estava fazendo no momento. Ela não se distraía, como se o mundo se resumisse aos seus assuntos. Ao entrarem no elevador a sua preocupação aparentemente era só de chegar aonde tinha de chegar, conservando-se acima do bom humor das três estudantes.
- Quero que vocês me confirmem se conhecem de fato o estudante morto.
- De fato, só vendo... – disse Carol.
- Abriu. Vamos!
Irina saiu lépida e atravessou o saguão com seu passo decidido, com as meninas no seu encalço. Não deixavam de chamar atenção, e um homem de paletó dirigiu-se à policial:
- A senhora é a Detetive Irina?
- Sou. Quem é o senhor?
- Sou Curt Lowenstein, atual diretor desta casa. Já soube do que houve e estou chocado, nunca houve um homicídio por aqui. Coloco-me à disposição da polícia para que este assunto seja logo resolvido, teremos de dar uma satisfação à família da vítima...
- Isto eu deixo a seu critério, é claro.
- Estas meninas estão detidas?
- Não, em absoluto.
- A diretora-adjunta falou-me delas...
- Professor Curt, não posso parar agora. O senhor quer me acompanhar?
- Tenho muitos compromissos e não gosto de ver cadáveres... não é para o trem que a senhora está indo?
- Isso. Por favor, tome as suas precauções. Ainda não sei o que o assassino quer.
- Como assim? Não haverá mais crimes!
- E quem lhe garante?
- Seria a ruína desta faculdade!
- Então sugiro que avise o Conde Bruxelas. Com sua licença, diretor.
- Pois não...
Irina prosseguiu em sua andadura rapidíssima e as garotas, passando pelo diretor, olharam-no de esguelha, embaraçadas pela falta de apresentação e pelo fato óbvio de que Eduarda já lhes havia queimado o filme.
Saindo pelo mesmo pátio onde haviam desembarcado na véspera, elas acompanharam Irina que rodeou o pavilhão, dirigindo-se a uma grande área aberta onde corria a pequena ferrovia. O trenzinho estava logo ali, na estação encostada no morro.
- Isso aqui é muito grande! – exclamou Carol, segurando o chapéu que o vento queria levar para longe.
- O trem não funciona à noite depois das 21 horas – explicou a detetive. – O corpo foi encontrado às cinco e meia da madrugada.
As garotas entraram no abrigo e avistaram a pequena locomotiva de fachada redonda como um relógio despertador, e os seus dois vagões. Parecia mais um bonde, e Andréia concluiu que era mesmo um bonde. Chamá-lo de trem era exagero.
- Bonitinho! – admirou Fátima, ajeitando os cabelos louros.
- O que está lá dentro não é nada bonitinho. Vamos lá!
Deixando Irina fazer um pouco de distância, Carol afagou o próprio rosto e comentou:
- Mas o que há? Essa tira gosta de ser estraga-prazeres?
- Não ligue, é o jeito dela – falou Andréia, pragmaticamente. – Vamos lá!
- Você repetiu o que ela disse – casquinou Carol, indicando Fátima.
- Humpf!
Irina acercou-se do segundo vagão, onde dois policiais uniformizados se encontravam de sentinelas, e subiu agilmente para o interior. As três garotas seguiram-na e viram o corpo estendido no corredor entre os bancos, a cabeça numa poça de sangue.
- Não toquem nele nem se aproximem – avisou Irina. – Reconhecem-no?
- É ele de fato – afirmou Fátima. – O que discutiu com a gente ontem.
- É ele – confirmou Carol, logo corroborada também por Andréia.
- Mas vocês só o viram ontem à noite? E já o conhecem tão bem?
- Você deve compreender – ponderou Fátima – que ele nos provocou de forma bem baixa, e nós o gravamos bem pois desde que chegamos sofremos provocações gratuitas. Mas, meu Deus, depois disso nos recolhemos e não vimos mais ninguém!
- Está bem. Eu teria feito o mesmo.
- O que foi que fizeram com ele? – quis saber Carol.
- Ele parece ter sido morto por um instrumento metálico bem duro, e o Dr. Tarkovsky, nosso legista, afirma que foi entre 5 e 5 e meia da madrugada. Ele foi achado às 6 e cinco pelo varredor Gonçalildo, que estranhou ver o trem aberto... este vagão, quero dizer.
- Vocês chegaram bem depressa!
- Sim, Fátima. Em vinte minutos eu estava aqui, e soube logo do incidente que ocorreu com vocês.
- Mas os colegas já estavam de pé?
- Quem me contou foi a Eduarda.
- Como ela podia saber? - explodiu Carol. – Ela não estava no refeitório, será que ela tem alcaguetes entre os alunos? Que coisa desagradável!
- E ela nem nos conhecia – acrescentou Andréia, bem séria.
- Bom – Irina foi taxativa. – Não adianta ficar remoendo isso agora. – Vamos fazer a reconstituição de sua travessia no teleférico.
- Vamos – disse Fátima, sorrindo. – Gosto dos seus métodos, sabe?
- Não adianta me adular – respondeu a detetive, sorrindo também.
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A viagem no bondinho só teve como diferença o fato de ser dia, e a ausência do som do apito. Irina quis saber em que trecho da viagem elas haviam escutado aquele som, se alto ou baixo, observou atentamente a paisagem e tomou notas.
- Para mim – disse por fim – o apitador devia estar nesse bosque, onde facilmente se esconderia.
- Mas isso tem alguma coisa a ver com o crime? – espantou-se Fátima.
- Se eu fosse você, tornaria a consultar o caleidoscópio. Verifique-o todos os dias, OK?
- Sim, Irina... mas você não me respondeu...
- Vou lhe dizer, menina. Eu não gosto das coisas que estão acontecendo nesse lugar sinistro. Essa história do apito me incomoda. É uma coisa sem pé nem cabeça, não faz sentido... e logo em seguida um homicídio. Pode haver alguma relação. Mas vamos aguardar os acontecimentos.
(Assim Carol, Andréia e Fátima, até aí simples estudantes, se vêem repentinamente envolvidas numa investigação criminal de desdobramentos imprevisíveis. Elas não imaginam o quanto são assustadoras as implicações do que começou a acontecer com o assassinato de Tiago.
Leia a seguir:
CAPITULO 4:
O SOM DO APITO)
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