A Cruzada de Catarina, posfacios
Nota: a novela "A Cruzada de Catarina", que acaba de ser publicada em capítulos aqui no Recanto, recebeu dois posfácios, com pontos de vista diferentes: Ronald Rahal, ateu, e Shirleyde Fernandes da Mota, cristã católica. Aqui pode portanto ser cotejadas a visão materialista e a visão cristã perante uma história de espiritualidade de cunho católico. Shirleyde já teve escrivaninha no Recanto das Letras, com o nome de Shirley Murphy.
POSFÁCIO 1 – A CRUZADA DE CATARINA
Ronald Rahal
Carqueija pediu-me que escrevesse um posfácio deste pequeno conto.
Bem, a trama segue o principio maniqueísta da luta entre o bem e o mal. Só que procura dar uma visão um tanto ocidental desta “luta”, principalmente do ponto de vista católico, o que complica um pouco a trama em vez de torná-la fácil. Não que a leitura seja difícil ou o enredo seja complexo. Eu diria que o torna simplista em demasia.
Primeiro qual é afinal o conceito correto do que seja o bem e o mal? Se observarmos o comportamento do vilão Homer Nightgale – aliás o papel mais difícil em toda história, já que sem ele não há um eixo sobre o qual a trama pode girar – e das heroínas Cathy e Andrômeda em sua luta para combater o mal, cheias de virtudes, não há dificuldade de entender o que sejam as duas forças. Mas nem sempre há uma clara divisão entre as duas. Às vezes o que se procura fazer como bem é entendido como mal e vice-versa.
A dificuldade está em se entender porque num Universo tão vasto, este é o único lugar escolhido para que isso ocorra? Haverá outros mundos onde o mesmo se dá, ou é apenas reflexo de um conceito que está nas raízes da humanidade; algo que se origina de tempos mais primitivos, onde o homem para sobreviver precisava lutar contra as forças da natureza? Onde elas conspiravam contra sua existência e eram vistas como forças malignas, ao passo que entidades imaginárias, boas, criadas por eles, combateriam essas forças como um anteparo?
A história de Carqueija talvez seja um reflexo desses tempos antigos e não deixa de trazer uma moral onde o bem sempre vence o mal. Mas devemos recordar que na vida real, nem sempre o bem vence o mal, e às vezes o herói ou a heroína acabam morrendo no final.
Ressalto que Carqueija soube de forma sutil fazer uma grande homenagem às séries de TV e a grandes escritores e divulgadores, que permeiam a trama. E torna-se também visível o quanto gosta de homenagear o melhor amigo do homem, personagens constantes em seus trabalhos.
RONALD RAHAL
Escritor de Ficção Científica “Hard” (ou seja, com grande embasamento científico-técnico), autor dos romances “Regresso da máquina do tempo”, “Superposição”, “Somente um dia” e outros publicados pela Agbook e Clube dos Autores.
A Cruzada de Catarina ( Posfácio 2)
Shirleyde Fernandes da Mota
É muito bom estar aqui para posfaciar mais uma obra desse grande escritor carioca chamado Miguel Carqueija, grande escritor e grande amigo.
Em “A cruzada de Catarina” o primeiro impacto que temos é perceber como algumas pessoas podem usar o bem para fazer o mal, isso não é coisa de ficção, acontece na vida inúmeras vezes e em todas as partes. Muitas vezes o que é mal apresenta-se de forma bela e muito atrativa ou até mesmo como um ganho irrecusável. O Barão Homer representa aqui a personificação do mal , por isso ele tem esse caráter cem por cento mau, não há traços de humanidade nele, penso que simboliza aquela força nefasta que leva a humanidade a se corromper. Catarina por sua vez é o lado oposto, ela é a luz e a bondade, como uma mensageira celestial, de maneira que ao conviver com seu anjo ela mesma quase se torna um .
Catarina demonstra uma moral elevada e sentimentos nobres como o perdão, apesar da monstruosidade que foi feita com sua mãe e seu irmão, em nenhum momento ela demostra sentir ódio ou desejo de vingança, sua cruzada é para cessar o horror que aquele homem leva a tantas pessoas em nome de seus vis desejos.
Catarina é a face da bondade e também a face de Deus que deu ao homem a liberdade para decidir sobre o seu destino, para fazer o mal ou o bem, mas liberdade não significa impunidade e nada passa despercebido aos olhos dEle e muitas vezes , não digo castigo pois Deus não castiga ninguém exatamente, mas as consequências dos nossos atos chegam ainda antes da morte e assim aconteceu nestas páginas por meio de duas justiceiras.
Andrômeda surge demonstrando uma outra face da justiça, diferentemente de Catarina, ela não utiliza de docilidade. As duas são guerreiras Cristãs , mas cada uma com sua personalidade distinta. Andrômeda nos trás um bom exemplo de que ser cristão não é ser bonzinho, bobinho, levar na cara o tempo todo. Ser cristão é ser bom e ponto. E o bom muitas vezes é grosseiro, muitas vezes se irrita, se enfurece com coisas tolas, mas sempre faz tudo por amor . Amor a todas as coisas e especialmente a Deus, esse é o caráter cristão.
Sonia é esta pessoa, impaciente, agressiva , mas que demostra toda a honra de uma grande heroína de Deus. Mais experiente, ela surge como o apoio perfeito para Catarina em um momento crítico, porém sem roubar a cena da nossa protagonista, a gentil Catarina que além dos dons especiais também chama atenção pelo talento para agregar.
Gostaria muito também de falar sobre a grande lição contida neste romance : superação. A tragédia acontecida na vida daquela então menina , poderia facilmente arruinar a vida dela e de toda sua família. O futuro dela poderia ser negro, poderia ter se revoltado , se perdido em vícios. Mas ela desperta em si uma grande força interna e torna-se âncora da mãe e da casa. Através da educação alcança uma vida melhor, longe de ostentação. Torna-se uma jovem mulher sóbria e sensata, acumulando o carinho e a admiração de todos que a conhecem. E eu posso dizer com total segurança: o grande segredo dela para não se deixar consumir pelo rancor e ódio que muitos poderiam dizer ser direito dela e talvez até fosse, mas ela recusa-se a aceitar: o segredo dela é a fé. Na companhia de Deus ela se fez forte, seguiu adiante, não se prendeu ao passado e esperou pacientemente o momento de iniciar seu combate. Combate este que culmina com a morte de seu adversário depois de uma apavorante luta e no fim mais uma vez a clareza do caráter de justiça e não vingança da Cruzada de Catarina, a heroína pede ao vilão que se arrependa de seus crimes e assim tenha a chance do purgatório. O que aconteceu depois da morte dele jamais saberemos, vale então a sua escolha, fica a seu critério. Mas muito cuidado hein, muito cuidado em seu julgamento!
Shirleyde Fernandes da Mota
( Shirleyde Fernandes da Mota é uma escritora e poetisa fluminense que tem seus textos e romances publicados pela editora Protexto e nos Wattpad e Recanto das Letras.)