A Cruzada de Catarina, Epílogo: Amigas para sempre

 

EPÍLOGO

 

(Após o desfecho na difícil luta contra o Barão Homer Nightgale, como ficaram as vidas de Catarina Freitas e Andrômeda?)

 

AMIGAS PARA SEMPRE

 

 

Meses depois, numa época mais amena do ano, algumas pessoas estavam reunidas no terraço coberto de um apartamento de cobertura, no Trianon. Lá estavam Catarina Freitas, Ênio, Márcio, Lena, Jéssica, Kátia e, completando o grupo, Andrômeda. Isso, é claro, na relação de seres humanos. Lá estavam também os robôs Salk e Leiber, o carro inteligente Liz, e o Bomer, ainda vivo, conservado saudável pelo bom tratamento.

Cathy estava descontraída: de short e camiseta, havia tirado os sapatos, sentia-se livre das tensões que portara durante anos, relaxada como há muito não se sentia. O ambiente geral era de descontração, com uma única exceção: a Paladina de Máscara, com seu aspecto sombrio e sinistro.

Agora, aliás, Catarina era empresária. Resolvera abrir um negócio de provedoria de Cosmonet, e chamara todo mundo para se associar a ela. Todos os humanos ali presentes, com a óbvia exceção de Sonia Maria Sagres, a Andrômeda. E comemoravam com canapés, bebidas, doces. Para Bomer, “fillet mignon”. Os robôs divertiam-se a um canto, com jogos eletrônicos. Liz escutava rádio, o seu rádio embutido, à falta de melhor opção.

Entretanto, a guerra contra Homer Nightgale não pudera ficar de todo à parte da conversa. Andrômeda tinha acesso a informações secretas. De fato, oficialmente a polícia e o governo local haviam feito um escarcéu e se mobilizado contra a mascarada, que tivera mais uma vez a sua cabeça a prêmio. Os aspectos sobrenaturais da vida do barão, porém, haviam sido ciosamente ocultados.

— Jamais dirão em público o resultado do exame da arcada dentária de Homer, ou o que terá sido apurado sobre o pacto maligno que lhe garantia juventude eterna. E isso porque o caso entrou para o Arquivo X da Cosmopol, e deve estar sendo investigado por algum descendente de Fox Mulder. Mas dificilmente me encontrarão para me interrogar.

— A derrota do mal – disse Catarina – me alivia mas não me alegra. Deus não quer que os maus sofram e pereçam, mas que se convertam e vivam.

— Nós não sabemos se as suas palavras, nos últimos momentos dele, surtiram efeito.

— É. Só Deus sabe.

Jéssica, agora uma mulher mais tranqüila, dirigiu-se a Andrômeda:

— Houve um tempo em que eu julgava que você fosse uma lenda. Conhecê-la pessoalmente, saber que você ajudou a minha filha... é algo incrível.

— Obrigada, Jéssica. Sua filha merece todo o apoio.

Lena observou: — Andrômeda, ainda não posso acreditar que você não irá nos nossos casamentos. Queríamos muito a sua presença!

— Pois é, mas eu tenho meus compromissos em Lorena. Além disso é pouco provável que eu compareça a um casamento, vestida desse jeito, e não seja presa.

Risos.

A Lua ia alta no céu, passando atrás de flocos de nuvens, quando Andrômeda, terminando um suco de cacau (ela adorava sucos), ergueu-se e anunciou que era hora da partida.

— Fique mais um pouco – pediu Márcio.

— É melhor eu ir agora. Já me demorei muito em São Paulo, e há assuntos em Lorena que dependem de mim.

— Você vai mesmo, Andrômeda?

— Vou, Cathy. Agradeço a hospitalidade e a cordialidade de vocês todos. Que Deus os abençoe e ilumine.

Levantando-se da cadeira de plástico, Cathy encaminhou-se para Andrômeda. As duas se olharam e se abraçaram com força. Cathy comprimiu e repousou o rosto no peito da vigilante de Lorena, que a superava bem em altura.

— Minha amiga... minha grande e maravilhosa amiga... Não sabe quanto eu a estimo. Sentirei muito a sua falta. Muito, muito...

— Eu também a aprecio muito, Catarina. Você é a melhor pessoa que eu conheço.

— Não fale isso, não, não fale... não quero pecar por vaidade. Tornaremos a nos ver um dia?

— Se depender de mim, certamente tornaremos a nos ver.

Voltaram a estreitar o abraço. Num gesto atípico em sua pessoa, Andrômeda afagou e beijou os cabelos de Cathy.

Kátia aproximou-se da mascarada e despediu-se dela. Um a um todos cumprimentaram Andrômeda, enquanto Catarina se ocupava em falar com os servos mecânicos. Beijou Salk, Leiber e por fim Liz, no farol. O carro comentou:

— Obrigada, Catarina. Sabia que Andrômeda nunca me beijou?

Cathy riu.

— Também, do jeito que a sua dona é mal-humorada...

— Pior que é – disse Leiber.

— Ela herdou as características de um longínquo antepassado – acrescentou Salk.

— Ué! Quem foi?

— Um sujeito chamado Bruce Wayne.

— Quem?

— Mais conhecido como Batman.

Cathy riu de novo. Enquanto isso Jéssica, ao se despedir de Andrômeda, expôs uma dúvida:

— Diga-me, Andrômeda... não é verdade que, por detrás do Barão Homer, existia um feiticeiro, e toda uma organização satânica?

— Você fala de Lúpus e da seita dos Antiguistas. É verdade. Lúpus propiciou a Homer o acesso a duas maldições: a de Dorian Gray e a de Drácula. Me incomoda, de fato, saber que esse homem prossegue com seus planos nefastos e perigosos para a humanidade, e até aqui completamente impune. Mas ele não estava diretamente interessado nas atividades de Homer: acredito que este pagou quantias elevadíssimas pelos dois serviços.

Cathy, que se reaproximara, interveio:

— Andrômeda, entregue isso a Deus. Não esquente a cabeça com Lúpus: por mais poderoso e maléfico que ele seja, Deus o deterá algum dia.

— Eu acredito que sim, mas de qualquer forma se puder darei uma mãozinha.

Risos, novamente.

Sonia terminou as despedidas, sem esquecer o rabo-abanante Bomer, e dirigiu-se para Liz, sinalizando para que os robôs, que também se despediram, entrassem primeiro. Quando ia acenar para todo mundo Catarina deu uma corridinha e, puxando a mascarada, segredou-lhe ao ouvido:

— Venha me ver um dia... como Sonia e não como Andrômeda. Sonia certamente pode andar livremente nas ruas.

Andrômeda respondeu com outro cochicho:

— Bem... talvez seja mais fácil você e o Ênio visitarem Sonia em sua mansão de Lorena, mas deixem passar algum tempo para o caso esfriar. Eu terei prazer em recebê-los.

Outro sussurro:

— Está bem, Andrômeda. Iremos lá daqui a alguns meses. Eu prometo. Serei sempre sua amiga.

Diante de certo espanto dos presentes, Cathy explicou sorridente:

— Andrômeda é uma pessoa misteriosa, por isso algumas coisas devem ser mantidas em segredo.

Andrômeda abriu a porta dianteira do carro e, segurando-a com uma das mãos, fitou mais uma vez Catarina. Esta disse:

— Você estará bem?

— Como assim? Eu tenho uma vida muito ativa.

Cathy nada disse, mas os seus olhos transmitiam compaixão. A mascarada acrescentou:

— Eu sou uma guerreira que luta pela Justiça. Estou com a luz, mas em termos materiais vivo nas trevas do anonimato, do mistério. Ninguém sabe quem eu sou, e isso garante a minha liberdade de ação. Voltarei, portanto, para o limbo de onde eu vim... e onde é necessário que eu fique. Adeus.

— Adeus, amiga.

Tornaram a se abraçar e beijar e então, finalmente, a guerreira mascarada entrou no carro e partiu.

— Adeus! Nunca os esquecerei! – exclamou Liz alegremente, pelo microfone externo, e buzinando.

Liz levantou vôo, a princípio lentamente, depois acelerou.

Catarina recostou-se no muro, observando a trajetória do veículo. Ênio pôs a mão em sua cintura, Kátia e os demais postaram-se em volta.

— Ela não é feliz – observou Cathy, com lágrimas escorrendo nos olhos. – É solitária e triste. Que pena... é tão nobre, destemida e audaciosa!

— Ela escolheu esse caminho – respondeu Ênio, com uma pontada de ciúme.

— Eu sei, meu amor. Eu peço a Deus que sempre a acompanhe, proteja e ilumine. E que a abençoe!

E lá ficaram os seis, por alguns minutos, observando o carro voador de Andrômeda sumir-se pouco a pouco no silêncio da noite.

 

FIM

 

Post-scriptum: A novela “A Cruzada de Catarina” homenageia criações de Bob Kane, Gene Roddemberry, George Lucas, Isaac Asimov, Oscar Wilde, Bram Stoker, H.P. Lovecraft e Chris Carter.

 

imagem pixabay 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 06/09/2024
Código do texto: T8145592
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