A Cruzada de Catarina, capítulo 14: Confronto entre o Bem e o Mal

 

CAPÍTULO 14

 

 

CONFRONTO ENTRE O BEM E O MAL

 

(Após o atentado contra Lena e Márcio, Andrômeda propôs apressar o raide na residência de Homer Nightgale, para destruir o seu grande trunfo, o quadro enfeitiçado que envelhece no lugar do vilão. Mas Homer, com o auxílio do feiticeiro Lúpus, tornou-se vampiro 🦇 e Cathy e Andrômeda ainda não sabem disso...)

 

 

Ao saírem de Liz, Cathy fitou com admiração sua impressionante aliada e indagou:

— O que você pretende fazer com os criados?

— Neutralizá-los, Catarina. Evitaremos ao máximo a violência. Nesse momento a mansão de Homer acha-se isolada do mundo exterior por um “cone de interferência” centralizado na Liz. Quando tentarem pedir socorro, não conseguirão... nem mesmo pela Cosmonet.

— Você é fabulosa!

— Poupe seus elogios, menina. Ainda não ganhamos essa guerra.

Cathy e Ênio se entreolharam e a moça deu de ombros. Sonia aproximou-se da porta do alto da escada, que dava acesso ao interior do palacete. Colocou o seu anel vibratório no anular da mão direita e acionou-o, desarmando o mecanismo da fechadura.

— Pronto, vamos entrar!

— Esses homens mecânicos vão fazer barulho! – protestou Ênio.

— Não, rapaz. Eles possuem bases isolantes, são mais silenciosos do que parecem.

Com Andrômeda à frente o grupo desceu a escada, iniciando a invasão.

 

 

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— Eu estou acostumada com essas coisas – sussurrou Sonia. – Sigam as minhas instruções! Temos de neutralizar todos os criados, com o mínimo de violência.

— Como faremos? – perguntou Cathy.

— Com meus dardos anestésicos.

— Como é que é?

- Compostos de adormicina, vitamina B e extrato de passiflora. O efeito é ótimo e não causa choque anafilático.

Chegaram a um salão de arte, cheio de quadros, esculturas e tapetes artísticos. O quadro poderia estar ali, escondido como a carta furtada do conto de Poe, mas Andrômeda nem se preocupou em olhar. Conduziu o grupo através de um lúgubre corredor, em busca da escadaria principal, e com a bússola termobiológica na mão esquerda.

— Vem alguém! Vamos!

Esbarraram com um sujeito que subia a escada em caracol. Catarina identificou-o como Aristides, o jardineiro.

— Quem são vocês?

Andrômeda atirou o seu primeiro dardo. A combinação química era de efeito rápido e Aristides, atingido na mão, tombou sem conseguir gritar por socorro. Mas alguém, no andar inferior, percebeu o movimento. Andrômeda viu um vulto correndo e desceu aos pulos os degraus restantes.

— Ênio, verifique esse andar com os robôs! Eles têm os dardos! – ainda exclamou a mascarada, forçando a separação do grupo.

Desceu só com Cathy. Esta, porém, lembrou-se de pedir ao anjo que lhe mostrasse a localização do quadro. O espírito de luz, como um foco azulado, orientou-a até uma porta de jacarandá, lavrada e solidamente trancada.

— Abra-a, por favor, meu amigo.

A porta se abriu lentamente e sem fazer ruído. Cathy entrou; a luz se acendera automaticamente. Um sistema de alarma deixou de funcionar, inibido pelo anjo.

Então aquela santa mocinha se aproximou do gigantesco quadro de Plutônio, representando uma cena bucólica dos Alpes Suíços, com a Heidi e sua cabra de sininho em primeiro plano.

“Como esse homem malvado tem gosto para arte singela? O ser humano é contraditório!”

Retirar a peça requeria força física, mas Catarina possuía uma força fora do comum e conseguiu remover o obstáculo sem nenhum acidente à Chapolin Colorado. Fitou então o cofre e teve a certeza de que localizara a pintura demoníaca.

A virtude do anjo fez com que o cofre se abrisse. A menina retirou então um volume envolto em lona e levou-o até uma mesa. Concentrada, pôs-se a remover o envoltório.

Enquanto isso um carro de luxo pousava no terraço e dele saltou o Barão Homer Nightgale, que imediatamente identificou o veículo de Andrômeda. Na mesma hora ele pegou o seu celular e pôs-se a ligar para a polícia. Mas antes que pudesse completar a ligação foi tomado por uma angústia indizível, sufocante.

Alguém estava mexendo no quadro!

Com um grito de pânico o vampiro precipitou-se para a porta, abriu-a e desceu correndo.

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Catarina completou a trabalhosa remoção da lona e preparou-se para observar a pintura.

Ela de fato já esperava pela maior parte do que podia ser notado. As rugas de envelhecimento precoce, as bolsas sob os olhos, a papada de um amadurecimento relaxado, a turvação e a dureza do olhar, revelando impiedade e falsidade, o decair dos cantos dos lábios e outros sutis detalhes que denotavam hipocrisia, calculismo, consciência pesada e uma imensa carga de vícios.

O que Cathy não esperava ver era o vermelho em pequenos traços verticais nos globos oculares e o apontar de sinistros caninos para fora dos lábios.

A voz interior lhe disse: — Ele está aí. Chegou a hora.

— Meu Deus! – murmurou Catarina, erguendo-se com o quadro no braço direito. – Ênio e Andrômeda estão correndo um grande perigo!

Ela saiu para o corredor, sobraçando o quadro depois de embrulhá-lo de qualquer maneira na lona. Correu até o salão que rodeava a escada em caracol. Avistou então Homer Nightgale, que descia como um bólido a escadaria do andar superior. Havia uma porta de aço e de correr, no alto daquela escada, e estava obviamente aberta. Cathy teve uma inspiração:

— Meu anjo, feche aquela passagem. Rápido, por favor!

Homer, preocupado com a pintura, não pensara em inspecionar o andar superior. O espírito de luz cerrou a porta, isolando Ênio e os robôs, que nem chegaram a cruzar com o vampiro. Então Cathy sacou de dentro da sua roupa um crucifixo de prata cuja base inferior tinha sido trabalhada até se transformar em uma ponta de punhal. O objeto tinha o tamanho adequado de um punhal.

O barão estacou a pouca distância da jovem.

— Largue esse quadro – disse ele, sombriamente.

— Sei o que você é, Barão Homer Nightgale, mas eu não o temo. Não me importa quão poderoso você possa ser agora: Deus é mais poderoso!

Inteiramente ensandecido, Homer cuspiu uma blasfêmia contra o nome de Deus e acrescentou:

— Você vai morrer, Catarina. Seu anjo nada poderá fazer, porque eu não vou atacá-la sexualmente. Vou só matá-la. Se acha interessante ser mártir, eu lhe farei a vontade.

— Pare, Homer!

O vampiro se voltou. A mascarada, portando sua espada Jedi, acabara de subir do segundo piso.

— Catarina, afaste-se! Deixa ele comigo!

— Louca temerária! – bradou Homer, avançando sobre Andrômeda. – Quem é você para me desafiar?

— Eu sou Cavaleira da Ordem da Sagrada Família, Barão Homer Nightgale. Veremos se esta é a hora da luz ou a hora das trevas.

Homer atacou, e Andrômeda defendeu-se com a espada. Um golpe profundo atingiu o abdômen de Homer, que urrou de dor; não obstante acertou um violento safanão na Paladina de Máscara, arremessando-a por sobre o corrimão do terceiro piso.

Dizem as lendas que um vampiro tem a força de vinte pessoas. Como quer que seja, Andrômeda despencou para o segundo piso, cujo soalho era inteiriço, ou seja, a queda não iria além (a não ser que fosse pelo poço da escada). Mas a capa de Andrômeda era de magiplast leve e, abrindo-se, ela planou até o chão como um esquilo voador, caindo no tapete e machucando-se pouco.

Homer ia descer a escada quando uma dor súbita, intensa e lancinante o sufocou, algo que vinha de dentro para fora. Pareceu ao barão que estava sendo rasgado vivo; num clarão de compreensão procurou a outra mulher com os olhos, ignorando as batidas que se ouviam por trás da chapa de aço.

Tendo colocado o quadro sobre duas cadeiras de palha Catarina o estava apunhalando sem contemplação, a começar pelo peito da figura. Homer caiu ao chão, contorcendo-se em dores horripilantes, soltando grunhidos que mais pareciam provir de um lobisomem. Cathy terminou de dilacerar o objeto e jogou-o a um canto, com asco.

Com muita dificuldade Homer começou a se levantar, olhando a moça de modo terrível.

— Não adianta, Catarina. Eu agora sou um vampiro, um imortal. Você me fez sofrer horrivelmente, mas sobrevivi ao sofrimento... já superei a fase em que a minha vida dependia do quadro... e agora eu a matarei.

— Terá de me matar primeiro, monstro!

O barão virou-se e encarou novamente a Mascarada de Lorena. Sonia tinha mais vidas que um gato e, contundida ou não, subira todos os degraus e voltava a atacar com sua espada Jedi.

— Morra, seu demônio – e assim dizendo ela acionou a descarga energética do sabre de luz. Homer foi jogado à distância, resvalou pelo chão e o seu corpo foi medonhamente eletrocutado. Mas incrivelmente, mesmo queimado e escurecido, o monstro se ergueu e, berrando de dor, deu um pulo de vampiro, quase um vôo, sobre a mascarada, tornando a lançar Andrômeda sobre a balaustrada, para o andar de baixo. Repetindo o que já sucedera, Sonia planou como um esquilo até lá em baixo, e já bastante machucada. Entretanto, mesmo na queda ela não largara a espada.

Desta vez, porém, o barão galgou o parapeito, com a evidente intenção de voar até a sua adversária e matá-la.

— Homer, espere! É comigo!

Mais uma vez ele se voltou. Catarina aproximou-se dele, arrojada, ainda com a máscara de Robin que, para Homer, não a disfarçava.

— Esqueça Andrômeda, barão. Eu sou a sua grande inimiga, lembra? É a mim que você quer. Então venha... se é homem.

Apesar da sua crueldade e licenciosidade, o Barão Homer Nightgale possuía certos refinamentos da alta sociedade. Era importante bancar o requintado, o respeitável cavalheiro, de ficha limpa ainda que desocupado; não perder a pôse.

Mas tudo aquilo sumira como por encanto. Diante daquela menina de coração puro, a personificação da inocência, que o desafiava, não tendo ainda superado o choque da transformação em vampiro – e tudo por causa dela! – o cavalheiro se fôra e só permanecia o monstro, não mais enrustido. E já mal sentia os ferimentos, porque um vampiro possui incrível poder de regeneração celular.

Homer Nightgale investiu sobre Catarina, com o ímpeto de um demônio furioso.

E Catarina cravou o punhal-crucifixo em seu peito, com a força de uma guerreira, varando de um lado ao outro o coração do vampiro.

A cena foi terrível. Homer entrou em violentíssimas convulsões e tombou ao chão; Cathy inclinou-se sobre ele, apoiando os joelhos em seu estômago, e fincou o crucifixo no chão, cravando o vampiro. Este, em desespero, sacudiu as suas garras, ferindo os braços e o rosto da jovem heroína que, fazendo das tripas coração, aguentou os ferimentos sem relaxar a pressão. Ele tentava atingir o seu pescoço, a jugular de Cathy, mas subitamente duas mãos vigorosas agarraram os pulsos do barão e forçaram-nos para o piso.

Andrômeda retornara, tinha sangue escorrendo pelo nariz, mas não perdera a disposição de lutar. O vampiro estava enfraquecido; a mascarada conseguiu mantê-lo com os braços imobilizados e Catarina continuou firmando o crucifixo. O sangue escorria da boca do desgraçado; as convulsões foram diminuindo de intensidade. Então, percebendo que era iminente a morte do seu inimigo, Cathy foi tomada por uma onda de compaixão:

— Barão Homer... você vai morrer. Vai comparecer ao julgamento divino. Por favor... arrependa-se, peça a Deus perdão pelos seus crimes. Ainda é tempo!

Só Deus sabe se as palavras de Catarina surtiram efeito. As convulsões diminuíram cada vez mais, até cessarem por completo. Os olhos vidraram e o pulso também parou.

— Ele está morto, Cathy. Pode relaxar.

 

(A luta foi duríssima, porém Catarina e Andromeda saíram vitoriosas. Mas como matar um homem da alta sociedade e escaparem impunes? Andrômeda já terá um plano, visto que Catarina é por demais inexperiente apesar de sua inteligência?

Em breve, a seguir:

CAPÍTULO 15

RETIRADA)

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 23/08/2024
Código do texto: T8135709
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