A Cruzada de Catarina, capítulo 13: O ataque à mansão de Homer Nightgale
CAPÍTULO 13
O ATAQUE À MANSÃO DE HOMER NIGHTGALE
Com dois aliados fora de combate, Cathy tem porém um grande trunfo na aliança com Andromeda. Como visto no capítulo anterior, a milionária Sonia Maria Sagres - alter-ego de Andromeda - com seus contatos secretos garantiu a segurança de Lena e Márcio, hospitalizados após o desastre no carro de Lena, propositalmente abalroado pelo Barão Homer.
Andromeda nem quer a presença de Ênio, o namorado ainda não oficial de Cathy. Para Andromeda, só Catarina é digna de participar por causa do poder do inimigo. Mas nem tudo pode ser como Andromeda quer.)
— A sua lista de criados é basicamente correta, Cathy, mas pode apresentar furos. Criados entram em férias e podem ser substituídos por temporários; podem existir hóspedes ou visitantes na casa; ou homens trabalhando. Os seus métodos são pouco profissionais.
— Eu não sou uma aventureira, Sonia – e pela primeira vez Catarina foi amarga com Andrômeda. – Estou apenas buscando cumprir uma missão, cumprir o meu dever para com Deus, e com os auxílios que o bom Frei Jiri me propiciou: o anjo e você.
Andrômeda, cujo habitual mau humor não passara desapercebido à garota, não respondeu àqueles argumentos e volveu o olhar para Ênio:
— E tem mais uma coisa: o que vamos fazer com esse rapaz?
— Como assim, Andrômeda? – Ênio estava sinceramente espantado. – Eu estou nisso com Cathy.
— Você não deveria participar disso. É muito perigoso.
— Eu sou um homem!
O rosto ingênuo e quase imberbe do garoto não parecia corroborar cem por cento a assertiva, mas a mascarada respondeu cortante:
— E daí? EU não sou.
— Não vou ficar fora disso.
— Você não parece estar me entendendo. Nós estamos lidando com o sobrenatural. Catarina tem um anjo a protegê-la; eu tenho dois robôs, um carro inteligente e um sabre de luz. E você, tem algum trunfo, algo especial?
— Você não é nada gentil – observou Catarina.
— Eu não sou gentil, sou prática e objetiva. E aí, Ênio?
— Eu amo Catarina. Será que isso não é razão suficiente?
CATHY – Ênio!
Ela o abraçou impulsivamente e beijou-o na boca.
— Sempre gostei de você, mas a minha missão me absorveu.
A mascarada afastou-se para a janela, parecendo – coisa espantosa nela! – embaraçada. Até que o robô Leiber veio ao seu encontro.
— Andrômeda...
— Sim?
— Eu e Salk estaremos de olho nele. Afinal, você tem o seu sabre de luz.
— Para duas latas de sardinha ambulantes, vocês até que são inteligentes – respondeu a Paladina de Máscara.
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Estavam numa saleta que Andrômeda escurecera para projetar hologramas fantásticos, isto é, aqueles cuja definição, colorido e relevo atingem o ápice do realismo. E agora podia-se avistar uma extraordinária visão noturna, estereográfica, da cidade, aproximando-se aos poucos do bairro de Oriel Gomes, nas proximidades do Centro, uma visão de megaviadutos que se entrecruzavam tendo no fundo a medonha figura do Grande Ox, o gigantesco balão purificador da atmosfera, preso ao solo por imensos cabos flexíveis de magiplast.
Na Avenida Luxúrias, de tipo residencial, aproximou-se a visão do vasto palacete do Barão Homer Nightgale. Andrômeda fez uma focalização pelo infravermelho, para mostrar os sinais de calor.
— A mansão tem bastante gente em casa – observou.
— E cachorros?
— Bem lembrado, garoto. Homer não tem cachorros. Ele não gosta de bichos.
— Não me chame de garoto!
— Ah, não? E você é o que?
— Ênio!
Cathy segurou-lhe o braço.
— Meu amor, é o jeito dela, não crie casos pelo amor de Deus. Foi Deus quem enviou Andrômeda para me ajudar, ela é uma guerreira do Bem. Nós temos que ser amigos dela!
Ênio se acalmou, mas sem pedir desculpas. A mascarada, tendo prestado atenção no discurso de Catarina, disse secamente “obrigada” e voltou ao assunto:
— Sei também que ele não tem robôs de guarda. O barão sob certos aspectos é antiquado e prefere guarda-costas humanos. Robôs seguem as leis de Robótica criadas por Isaac Asimov e não podem matar seres humanos. Homens, porém, matam com grande facilidade.
— Em resumo – disse Ênio, pouco à vontade – como nós vamos fazer?
— Repare, primeiro, na configuração do palacete.
— É o tipo da mansão mal-assombrada – observou o robô Salk.
— Quer ficar calado? Esse tipo de observação não conduz a nada.
— Agora observem. A mansão possui, na verdade, quatro pavimentos, quatro níveis, o de cima mais estreito e concentrado na frente da construção, com umas torrezinhas pseudo-medievais. Haverá certamente um quinto nível, um porão, de pouca importância para nós a não ser que o quadro esteja por lá.
— Homer ocupa amplamente os pisos dois e três, deixando aos criados os aposentos do térreo, ficando o quarto nível, por suposição, para a guarda de objetos. Assim, não é fácil localizar um quadro oculto.
— Tendo em vista, porém, a importância de que se reveste o objeto em questão, a minha conjetura é que ele se encontre no próprio quarto do barão, pois o seu próprio quarto é onde normalmente um ser humano passa a maior parte do seu tempo, ou para onde retorna mais vezes, é o seu refúgio.
— E onde é o quarto dele? – indagou Cathy.
— Isso eu não sei, mas já não será tão difícil descobrir. Presumo que no terceiro piso, por razões psicológicas.
— Apoiada, chefe – disse Leiber, inoportunamente.
— Pela disposição, acredito que o quarto do barão é aquele que dá para um jardim de inverno de onde se descortina ampla visão da Avenida Luxúrias. Se eu fosse o Barão Homer, escolheria aquele local. É mais estratégico. Reparem nas seteiras anacrônicas...
— Seteiras? Onde é que você vê isso?
— Veja, Cathy. Se inclinarmos um pouco a imagem, assim... vocês verão esses tubos brancos na parede que significam, na verdade, seteiras de onde Homer pode disparar até laser, se houver um cerco à sua residência. É muito estranho, mas a casa dele é uma fortaleza como se ele estivesse permanentemente em guarda contra o mundo, e isso não é normal.
ÊNIO – Você tem certeza de que são seteiras?
— Eu sobrevoei a região com Liz e filmei a mansão, até nos telhados há dispositivos de segurança para que os ocupantes possam agüentar um cerco em regra. Além disso, entre os criados de Homer, há indivíduos com antecedentes criminais. Não foi sempre assim. Ele substituiu alguns criados antigos; manteve o Tommy que é um mordomo de classe. O chofer, porém, o Pacheco, já andou preso por esfaquear a ex-esposa. E o secretário tem uma história de desfalque na firma, é tipo 171...
— É curioso – disse Cathy. – Por pior que ele seja, deveria querer cercar-se de gente honesta.
— Talvez se sinta melhor assim. Bom, nós partiremos assim que vocês dois estiverem disponíveis, e é bom que seja essa noite.
— Eu estou em férias, e se arranjar emprego em São Paulo me demito em Teresópolis – disse Ênio.
— Eu não marquei nada hoje... aliás vou ter que ver como fica a minha situação, dada a pressão que o Homer lançou contra mim...
— Eu garantirei álibis para vocês, com os amigos que tenho. Vocês visitarão dois amigos meus, que estão num apartamento de temporada, deixarão suas impressões digitais por lá e tudo. E depois nós iremos para o grande assalto.
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— Achei muito interessante conhecer um vulcaniano – observou Cathy, sussurrando. – Ele é tão estranho, mas tão simpático!
— Sim – respondeu Ênio – mas e o repórter? É muito engraçado.
- Ela tem amigos estratégicos... que mulher misteriosa.
— Por que ela tem que ser tão mal-humorada?
— Ora, é o charme dela.
— Charme...
Eles tomaram um táxi terrestre e evitaram falar no assunto. Depois, no Trianon, tomaram outro táxi. Passaram pelo parque, saltaram em frente à Charutaria Ortega y Gasset, na Avenida dos Falcoeiros, e caminharam até a famosa entrada do Alçapão Dançante... onde uma Sonia de óculos escuros os aguardava numa mesa de calçada, tomando um suco de cereja.
— Chegaram em ótima hora – disse ela. – Gostaram dos meus amigos?
— O Mário Vicunha é um tipo muito engraçado. Agora, o outro é um sábio — respondeu Enio.
— Glickus é um homem admirável e eu o respeito muito. E Mário já me ajudou muito.
— É estranho que eles não saibam quem você é... – observou Catarina.
— Um dia, quem sabe, eles ficarão sabendo. Algum dia eu me aposentarei.
— Eles fazem tudo para você?
— Até aqui eles têm colaborado. Vocês sabem, o governo do Mangaba, de tendência liberal, não aprecia vigilantes mascaradas e eu necessito de alguns aliados estratégicos. Bem, tomem alguma coisa por minha conta e vamos resolver esse assunto. Meu carro está ali no estacionamento.
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O tempo habitualmente nebuloso de São Paulo auxiliava muito as manobras evasivas de Andrômeda e seu carro cerebral. Liz estava tão treinada que praticamente fazia tudo sozinha.
— Pelo indicador de meteoros – ia dizendo Sonia – este cumulo-nimbo prolonga-se até além da fortaleza de Homer. Segurem-se, que já vamos chegar lá.
— Liz já se disfarçou?
E foi o carro quem respondeu:
— É claro que sim, Cathy. Acha que eu sou uma idiota?
ANDRÔMEDA – Não seja malcriada.
Cathy, porém, achou graça. Mas sentia-se impaciente:
— Qual o seu plano, Sonia? Como vamos entrar lá?
— Desceremos no carroporto do terraço. Com meus confundidores o sistema de alarme não vai funcionar, assim espero entrar sem que chamem a polícia. Agora, vão botando essas máscaras!
— Legal – disse Ênio. – Viraremos também foras-da-lei!
Cathy deu-lhe um beliscão, de doer mesmo.
— Não precisava fazer isso – disse ele, depois do “Ai!”.
— Não fale mais besteiras, por favor.
Cathy sabia que Andrômeda tinha pavio curto.
A mascarada levava uma grande vantagem: a sua imensa fortuna e contatos estratégicos e misteriosos propiciara-lhe acesso à tecnologia de ponta, de tal maneira que o seu carro era a maravilha desconhecida do século, com capacidade incomensurável para manobras de despistamento. Para cada onda de rastreamento produzia uma contra-onda, ou onda simétrica, e assim podia agir como uma aeronave invisível. E foi assim que pousou sem ser percebida no carroporto de Homer, em meio a torres que pareciam garras.
(Estamos no limiar da batalha final. Todavia a própria Andromeda, com toda a sua auto-confiança, não sabe que Homer Nightgale submeteu-se a um ritual demoníaco celebrado pelo feiticeiro Lúpus e pela bruxa satanista Serpente, para obter os poderes de vampiro 🦇. Se realmente isso aconteceu o perigo foi multiplicado, pois vampiros são praticamente imortais.
Uma heroína mascarada com um super-carro inteligente e dois robôs... serão suficientes como aliados de Catarina, que terá pela frente um adversário desse nível?
O que poderá acontecer?
Em breve:
CAPÍTULO 14
CONFRONTO ENTRE O BEM E O MAL)
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