A Cruzada de Catarina, capítulo 12: A hora da decisão
CAPÍTULO 12
A HORA DA DECISÃO
No último episódio um acontecimento nefasto perturbou os planos de Catarina Freitas: seus amigos e aliados Márcio e Lena sofreram um grave atentado que os colocou no hospital. Cathy porém recebeu a visita de Ênio, o amigo de Teresópolis que a procurou em São Paulo. Ênio, como visto no capítulo 2, conhecia o drama que colocou Cathy em confronto com o Barão Homer Nightgale.
Agora veremos como Cathy e Andrômeda resolvem agir diante da nova situação.
Estavam no mesmo quarto, no Hospital S. Lucas. Tinham alegado ser namorados. Na verdade, agora tinham medo de ficar sozinhos.
Márcio no momento encontrava-se sedado. Lena estava em condições de falar e narrou o ocorrido a Catarina, conforme já o fizera a Laud e a Demétrius,
— Foi ele, Cathy. No Abelhão azul-prateado. Ele colidiu com o meu carro, de propósito. Foi uma tentativa deliberada de nos matar.
— Ele é muito audacioso, e certamente se prevalece de seu poder social. Vocês falaram à polícia?
— Não chegamos a falar o nome dele, mas descrevemos o veículo. Não há muitos iguais. Se eu não conseguisse pousar de qualquer maneira, no Viaduto do Chá... teríamos caído de trinta metros de altura e morrido, sem dúvida. O meu carro é muito frágil.
Talvez eu não esteja rezando o suficiente, pensou Cathy. Meus amigos irão morrer por mim? Não quero isso!
— Andrômeda sabe que estamos aqui – acrescentou Lena.
— Deveras?
— Sim, por graça de Deus ela ligou para o meu celular após o desastre e logo antes que eu apagasse. Avisei-a... e ela mandou uma amiga aqui. Uma moça chamada Sonia.
— Sonia?
— Da alta sociedade de Lorena. Ela ficou de garantir a nossa proteção neste hospital.
— Ué, isso é muito estranho. Espere aí, vou chamar o Ênio.
— Quem?
— Ele sabe de tudo que eu tive tempo para contar, ele me conheceu em Teresópolis e é um amigo fiel, veio aqui para me ajudar. Eu o deixei esperando para ter tempo de avisar vocês... para que não fiquem inibidos diante dele.
— Ora, se é seu amigo de confiança...
Cathy foi buscar Ênio, que conversava na ante-sala com os pais de Lena. Nesse momento viu chegar um homem velho, de cabelos e bigodes negros, acompanhado de dois policiais uniformizados. Eles vinham com um enfermeiro.
— Estes são os pais da moça – disse Paulinho, o enfermeiro.
— O que houve? – indagaram Demétrius e Laudicéia, assustados.
— Calma. Eu sou o Inspetor Honorato Açafrão, estes são Quirino e Cirino, é assim mesmo que se chamam. Eu soube que o casal precisa de proteção e destaquei esses dois agentes.
Catarina olhou-o com grande espanto; fez então sinal a Laud e Demétrius para aguardarem, e indagou:
— O senhor soube por intermédio de Sonia?
— Ah, vejo que já está a par. Posso falar com a senhora um instante, em particular? Sei que é Catarina Freitas.
— OK, me dêem licença vocês todos.
Foram ambos até a dobrada do corredor e o inspetor, certificando-se de que ninguém estava por perto, explicou:
— Não posso dizer isso a todo mundo, mas foi Andrômeda em pessoa quem pediu a minha ajuda. A Sra. Sonia Maria Sagres entrou como testa-de-ferro, já que Andrômeda possui vários apoios na sociedade; padres, repórteres, escritores, empresários como Sonia, ou policiais como eu... gente que apóia o que ela faz. Claro, não podemos dizer isso em voz alta.
— Eu lhe agradeço muito. Ainda que não saiba quanto o senhor sabe...
— Não muito. Mas, seja o que for, vocês mexeram com fogo. Esse boato que corre sobre Homer Nightgale... sobre o pacto com o diabo... não acredito nessas coisas, mas algo de muito ruim ele deve ter feito.
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Ênio saiu de braço dado com Cathy, e ambos desceram a escadaria do hospital. Aí, quando se dirigiam ao parque de estacionamento, uma buzina chamou-os. Viram um carro enorme e negro, tipo Hirondel, e uma mulher morena no comando. Ela estacionou junto ao meio-fio e saltou rapidamente:
— Catarina Freitas? Sou Sonia Maria Sagres. Quero falar com você e o seu amigo. Entrem, por favor!
— Está bem. Vamos, Ênio!
Ênio nem queria ir, temeroso com o precipitar dos acontecimentos, mas Cathy o puxou até que ele concordou em entrar no banco de trás. Sonia deu a partida.
— Eu quero lhe agradecer pelo que fez. Sei que foi Andrômeda quem a enviou – disse Catarina.
— Essa mulher é tão misteriosa... – foi dizendo Ênio, mas Cathy deu-lhe uma cotovelada e Sonia, sinalizando que ia levantar vôo, passou de súbito uma caixa preta para trás, para a garota:
— Catarina, ligue isso no rapaz que eu quero fazer duas perguntas a ele. Só duas.
— O que?
— Um detector de mentiras? Não, eu não vou por isso! Não sou nenhum criminoso!
Sonia foi seca: — Nas circunstâncias, Ênio, isso é o melhor a fazer. Não vai ser humilhante. As circunstâncias exigem.
— Não, eu não vejo por que... (falavam ao mesmo tempo).
Cathy decidiu intervir:
— Oh, pare com isso, Ênio! Faça o que ela disse! Olhe, eu ponho isso em você!
— Mas...
— Nada de “mas”. Dá licença!
Ela foi colocando as fivelas no braço esquerdo do rapaz e digitou o comando de expectativa. Sonia, que aproveitara o ensejo para levantar vôo, falou:
— Bem, Ênio, o que eu quero saber é: você é um amigo sincero de Cathy?
— É claro que sou! Quem lhe deu liberdade...
— OK – disse Cathy, sorrindo. – Ênio, cale a boca e vamos à segunda pergunta.
— É essa, Ênio: você sabe guardar segredos?
— Sim, eu sei.
— OK – confirmou Cathy.
SONIA – É tudo o que eu queria saber. Cathy, pode me devolver o aparelho.
— Aqui está. E agora, Andrômeda? O que vai fazer?
— O QUE? – exclamou Ênio, quase pulando do banco.
— Vou fazer a transformação do carro. Preparem-se e aguentem firmes!
Sonia manobrou entre correntes intermináveis de aerocarros e digitou os necessários comandos que defletiriam a luz o bastante para confundir qualquer observação. Penetrou então numa imensa nuvem (muitos motoristas faziam isso por diversão) e ao sair, quilômetros adiante, o carro já estava com numeração mudada e o aspecto modificado. Era Liz, o super-carro de Andrômeda.
— E eu ainda tenho os meus robôs Salk e Leiber escondidos no porta-malas – disse Andrômeda, já com a capa, a máscara e o uniforme. – Bem-vindos aos meus segredos!
Cathy estava admirada.
— Você é extraordinária... mas por que nos pegou? Por que se revelou? A situação é tão grave?
— Cathy, a sua idéia de fazer circular a história do pacto de Homer foi ótima, só que agora ele resolveu jogar pesado e todos vocês podem ser mortos a qualquer momento. Nós não podemos mais contemporizar, vamos pegar esse sujeito de qualquer maneira! Vamos localizar o seu quadro!
— Vamos! Acho que você tem razão. Ênio também corre perigo, e até a minha mãe! Vamos acabar com isso!
— No momento parece que ele não está em casa. É uma ótima ocasião para pegar o quadro!
— E onde ele está?
— Não sei.
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Lúpus e sua amante, a Serpente, haviam conjurado, pelo grande espelho oval, uma figura sinistra e asquerosa: uma figura de caveira que aparecia em meio à fumaça:
— Por que me fizeram subir aqui? – disse a voz cavernosa do Senhor da Cripta.
— Mestre – disse Lúpus – nosso amigo está precisando de uma orientação especial.
Homer, a alguma distância, lutava para manter o auto-controle.
— Alguém que possui o feitiço da juventude eterna... e que treme de medo de duas mulheres!
— Não estou com medo! – berrou Homer, mas o tom de sua voz dava a entender o oposto.
— Como queira – respondeu a entidade. – Mas é poderosa a oposição que você tem pela frente. Você está a um passo do fracasso, Barão Homer.
— E o que eu devo fazer, então? – e Homer suava frio.
— Tente a solução de Lúpus. É a que poderá lhe dar segurança.
— Tornar-me um vampiro? Eu gosto de ir à praia, de ver a luz do dia...
A Serpente, com seu traje vermelho, interveio:
— Vampiros modernos não têm mais essas frescuras. Existem vacinas contra a fotofobia. Você não deverá se expor muito, mas poderá andar normalmente durante o dia. Vai ter que ir pouco à praia, mas não morrerá por causa disso.
— E terei que beber sangue?
— Vamos dizer – observou Lúpus – que isto fará parte da sua dieta. Mas poderá usar animais para não chamar atenção.
— Como é o processo... para me transformar?
— Isto – respondeu o mago negro – é um dos rituais secretos do Necronomicon.
A situação encaminha-se para o ponto crucial. Homer parece estar desesperado: de outra forma por que iria aceitar solução tão radical? E terá o bruxo Lúpus realmente poder para transformar alguém em vampiro 🦇? Por que ele próprio então não se torna um? Lúpus sabe, é claro, dos incômodos da existência de um vampiro.
Cathy e Andrômeda ainda não sabem o que terão em breve pela frente. O menor dos problemas, é claro, é o relacionamento entre Andrômeda e Ênio. Andrômeda realmente não gosta de amadores em suas aventuras. Cathy tem de servir de mediadora. Mas Andrômeda pode ter razão. Afinal, o próximo lance é muito arriscado.
Leia a seguir:
CAPÍTULO 13:
O ATAQUE À MANSÃO DE HOMER NIGHTGALE
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