A Cruzada de Catarina, capítulo 9: Andrômeda entra em cena
(No último episódio vimos como a espionagem de Cathy e seus companheiros num baile a fantasia fracassou e foram descobertos por Homer Nightgale e expulsos do local. Porém as intenções de Homer são mais radicais e logo terão de enfrentar um ataque mortal...)
CAPÍTULO 9
ANDROMEDA ENTRA EM CENA
“Algum lucro nós teremos que ter”, pensava Cathy ao ser escoltada com seus amigos, que
estavam apavorados e aturdidos. Não deixaram de ser vistos por foliões, mas evitavam olhar para as pessoas. Os Pintoff, que estavam na festa, cruzaram à sua frente a alguma distância... Cathy reconheceu-os apesar das máscaras – meros óculos de fantasia, tipo Aino Minako – e eles a viram claramente. A mulher apertou o braço do pintor.
Ao saírem pelo mesmo portão por onde haviam entrado, o detetive observou:
— Vocês têm muita sorte que o barão é homem civilizado. Por mim eu os esquentaria... aqui mesmo.
Cathy fitou-o com altivez, ao responder:
— Talvez você não conheça o suficiente Homer Nightgale, e o que ele representa. Talvez, se você conhecesse o grau de baixeza desse homem, não quisesse mais se colocar ao seu serviço.
Patrício respondeu com obscenidades e bateu com o portão.
— Que faremos agora? Foi tudo por água abaixo! — queixou-se Lena, desanimada.
Cathy olhou em volta, para os arbustos ramíparos que projetavam sombras sinistras na calçada e no meio-fio, para os postes de iluminação, os ônibus de dois andares, os transeuntes.
— Primeiro, vamos ganhar distância e depois conversamos. Devem estar nos vigiando!
Atravessaram a rua em passos rápidos. Lena pegou o braço de Catarina:
— Ele é um homem vingativo! Estava muito satisfeito em nos expulsar, como você o expulsou naquele dia...
Caminharam por ruas vazias, o carro de Cathy estava longe e demorariam para chegar. Nuvens imbríferas se avolumavam e a atmosfera de repente estava opressiva, formando um bolsão de baixa pressão. Começou a pingar.
— Aquele homem... é Patrício de que? O que é ele no fim das contas? — comentou Lena.
— É um capanga, é claro – disse Márcio, que estacou de repente.
CATHY – Que foi?
— Eu estou pensando, Cathy... Lena... será que essa nossa luta vale a pena? Não seria melhor deixarmos esse homem em paz... e seguirmos a nossa vida?
Lena mostrou-lhe um punho fechado:
— Não sou geniosa, Márcio, mas não gosto de ouvi-lo falar assim. E a nossa lealdade para com a Cathy?
— Esperem!
Catarina fizera a interrupção. Na próxima esquina, de uma viela, surgira um grupo estranho. Uns rapazes de aspecto “punk”, ou de supermazorqueiros, muito em voga na época. Aproximaram-se rapidamente, com correntes nas mãos.
— Vamos fugir! – disse Catarina.
Correram na direção oposta. Uns seis indivíduos, homens e mulheres, com roupas exóticas quadriculadas, barrou-lhes o caminho, atravessando-se na rua deserta.
— O que vocês querem? – indagou Cathy.
— O que queremos, irmã? – respondeu o rapaz magro e alto, parecendo um Simbad esfarrapado, e com um bastão de pontas aguçadas na mão direita. – Só queremos estraçalhar os nossos irmãozinhos. Adoramos massacrar nossos queridos irmãos!
— Que lindo! Quero ver vocês massacrarem a mim!
A voz viera de uma transversal. Olharam todos e lá estava uma figura alta e sinistra, de máscara e capa negras.
— Aquela mulher! – sussurrou Lena, estupefata.
Ela se colocou à frente do trio. Os supermazorqueiros se entreolharam e o líder zombou:
— Uma dominatrix, que legal! Pega a dominatrix, quero ver ela dominar...
A mascarada aparou uma corrente jogada em sua direção. Seus reflexos eram incrivelmente rápidos. Ela puxou a corrente e jogou a mulher no chão; pulou sobre o hyppie vestido de Simbad e atirou sua arma longe com uma cutelada do antebraço esquerdo; antes que ele pudesse dizer “Ai!” ela jogou-o sobre os outros que atacavam.
— Sigam-me! – ordenou ela.
Catarina, Lena e Márcio correram atrás dela. Havia um grande carro negro estacionado na transversal mas o outro grupo cortou-lhes a passagem. A mascarada pegou um estojo de dentro da roupa, apanhou uma espécie de cabo e fez surgir algo como uma lâmina de luz.
— Fiquem aqui, eu cuido deles!
— Um sabre de luz! – Cathy estava perplexa. – Pelo amor de Deus, não use isso! Eu cuido deles, pode deixar!
— Está louca, Catarina?
— Não, minha amiga! Eu sei o que estou fazendo!
Cathy correu na direção dos rapazes. Quando eles tentaram pega-la surgiu um clarão diante da garota e foram todos jogados a distância. Então o carro negro, embora vazio, veio se aproximando. A mulher de capa e máscara recolheu a lâmina de luz e entrou no carro, que lhe abrira as portas.
— Agora entrem! Depressa!
Lena e Márcio, abraçados, estacaram em dúvida. Foi Catarina quem tomou a decisão:
— Vamos entrar! Ela é de confiança!
Entraram precipitadamente no banco de trás, as portas se fecharam e a mascarada deu a partida.
— Pronto, vamos!
— É pra já!
Tinha falado uma voz feminina, diferente das outras. Cathy, Márcio e Lena se entreolharam.
— Um carro inteligente! – observou Catarina.
Saíram em disparada e, súbito, outros carros vinham atrás, e disparando.
— LENA – O que é isso?
— Estão atrás de nós, é claro – respondeu a motorista. — Ou vocês acham que esse atentado foi mero acaso? Homer quer matá-la, Cathy. Segurem-se!
O automóvel ergueu-se, levantando vôo, e lançou após si uma cortina de fumaça, desnorteando os perseguidores. Logo seguiam por uma via aérea preferencial.
— Quem é você? – perguntou Catarina. – E por que nos ajudou?
— Vim aqui porque Frei Jiri pediu-me para ajudá-la.
— Frei Jiri!
— Sim. Também sou amiga dele.
Lena bateu com a mão na perna.
— Espere! Já sei quem você é! Você é a mascarada de Lorena!
— Andrômeda – completou Cathy.
- Pensei que ninguém me conhecia em São Paulo – ela foi azeda ao responder.
MÁRCIO – Claro que já ouvimos falar de você. Puxa, muitas vezes!
— Bom... – diga, Catarina, que truque você usou contra aquela malta?
— Truque? Não foi truque... eu vejo o meu anjo da guarda, e ele me socorre se eu sofrer um ataque de natureza sexual... eles com certeza pretendiam me estuprar antes de me matar.
— Interessante. A mim Frei Jiri não passou esse dom.
— É claro. Ele sabe que você não precisa – comentou Lena, com uma dose de ironia.
— Aonde vamos? – Cathy buscou ser objetiva.
— Ao meu esconderijo, vamos conversar um pouco. Se não se importam vou escurecer o vidro para não conhecerem o trajeto, meu carro seguirá porque sabe o caminho...
— Ele não precisa que você o guie.
— Diga ela – ouviu-se a voz. – Eu sou feminina.
— Meu Deus! Como é inteligente! — admirou-se Lena.
— O meu nome é Liz. Prazer em conhecê-los.
— O prazer é nosso — disse Márcio. — Puxa, Andrômeda, esse carro deve valer milhões!
— Sim, mas que adianta? Eu não posso vendê-lo. Liz partilha os meu segredos.
Cathy acariciou a porta, imaginando se Liz poderia sentir o toque:
— Você deve amar muito a Andrômeda... não é, Liz?
— Tanto quanto
pode um carro – foi a resposta surpreendente.
(A intervenção inesperada de Andromeda (personagem já vista em minha novela "O fator caos") corresponde a uma curva de argumento. A história ganha um novo elemento e a trama dá uma guinada. A presença da vigilante de capa e máscara é uma nova dor de cabeça para o vilão.
A seguir:
CAPÍTULO 10
CATARINA E ANDROMEDA SE ALIAM)
(imagem pinterest: a heroína mascarada Batgirl)